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    Comunicação

    Carta do Lago Arari

    Carta do Lago Arari Com pensamento no vindouro Dia Mundial da Água já a meio caminho da esperada Rio+20 Conferência da ONU em desenvolvimento sustentável eu escrevo hoje de novo estas linhas a todos e a ninguém todavia doutro modo sobre a mesma coisa de que falo há mil e 500 anos. Quando o sol […]

    POR: Redação

    3 min de leitura

    Carta do Lago Arari

    Com pensamento no vindouro Dia Mundial da Água
    já a meio caminho da esperada Rio+20
    Conferência da ONU em desenvolvimento sustentável
    eu escrevo hoje de novo estas linhas a todos e a ninguém
    todavia doutro modo sobre a mesma coisa
    de que falo há mil e 500 anos.

    Quando o sol do império declinava no velho mundo
    das águas deste novo levantou-se o sol duma ecocivilização
    entre chuvas do Mar Doce e o Oceano ainda desconhecidos
    este fato extraordinário se passou na primeira manhã
    a cabo da primeira noite do mundo na idade dos deuses
    da Encantaria amazônica.

    Então, em folha de terracota escrevi
    a primeira notícia dando conta de cinco mil anos
    de presença humana nestas estúrdias paragens
    do trópico úmido, reino de nossa senhora da Cobragrande
    mãe desta gente do começo e fim do mundo:
    lavrei assim a certidão de batismo da Amazônia Marajoara.

    Eu não sou o maior nem o mais famoso lago
    dos tantos que há no mundo das águas interiores
    porém sou alma e coração das 1700 ilhas do Marajó
    filhas da Pororoca que mora numa maloca invisível
    debaixo da ilha Caviana
    útero matriarcal da primeira e mais antiga civilização
    da Amazônia brasileira.

    Eu tenho fontes secretas no alto das nuvens
    que se levantam do ocidente das águas do grande rio
    e oriente do profundo Mar.
    Eu sou berço da antiga Cultura Marajoara
    prestes a renascer por força do casamento do homem e a biosfera
    entre a Amazônia verde e a Amazônia azul.

    Mandei ao vasto mundo cartas com hieróglifos em cerâmica
    Trata-se de um enigma
    contando a dialética da vida e da morte em sucessivos
    renascimentos apesar da ditadura da água
    da ignorância e do olvido humano:
    meu nome é Arari, rio das araras que já não há mais aqui
    mas a gente simplesmente me chama “o Lago”…
    com letra maiúscula e veneração.

    É por esta razão que escrevo sempre a pedir pelas minhas crianças
    que são o meu futuro e esperança da Terra sem males.
    Protejam-me, pois, senhoras e senhores! Para que eu possa ainda
    proteger e desenvolver a ecocivilização desta criaturada grande.

     

     

     

        José Varella, Belém-PA (1937), autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica”, “Amazônia Latina e a terra sem mal” e “Breve história da amazônia marajoara”.

    autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica” e “Amazônia latina e a terra sem mal”, blog http://gentemarajoara.blogspot.com