Tanto é que agora, pela primeira vez desde o primeiro mandato de Lula, governo e empresários estão do mesmo lado e concordam que o País está perdendo sua força industrial. A questão ficou mais proeminente com os recentes dados do IBGE sobre produção industrial. No ano passado, a indústria avançou meros 0,3% sobre 2010. No primeiro mês de 2012, houve recuo de 2,1% sobre dezembro.

Na terça-feira (3/4), o Planalto deve anunciar o que provavelmente será mais um pacote de desoneração tributária ao setor. Uma das iniciativas previstas é a polêmica desoneração da folha de pagamento, já incluída para alguns setores no Plano Brasil Maior, a terceira política industrial lançada desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De 2003 até agora, foram lançadas três políticas industriais: uma sob o comando do ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Luís Furlan; outra encabeçada por seu sucessor, Miguel Jorge, ambos do governo Lula; e o Plano Brasil Maior, já no governo Dilma, este último voltada para setores intensivos de mão de obra, como software, confecção, calçados e móveis. As medidas visavam a alçar o Brasil à condição efetiva de exportador de produtos de maior conteúdo tecnológico e reverter pesados déficits comerciais em áreas estratégicas, como semicondutores, farmacêuticos, comunicações entre outros.

Para Luís Furlan, a dificuldade da produção nacional de competir em alguns setores é tamanha que já não há como se recuperar. “Há setores no Brasil que têm competitividade, mas sofrem com a questão tributária, custos financeiros, deficiências da burocracia e de logística. Não há falta de diagnósticos no Brasil. O que temos é falta de ‘fazimento’, de entregar as coisas completas.”

De acordo com Furlan, políticas industriais no Brasil não dão certo por duas razões: as medidas nunca são permanentes e a agenda estratégica de governo acaba sempre sendo superada pelo urgente. “No setor público, a agenda política é mais importante do que a agenda econômica, de produção e de investimentos”, diz. “Ministros ou pessoas do alto escalão muitas vezes tem um projeto próprio nem sempre convergente com o conjunto ou com o ideário do chefe geral ou do presidente.”

Já Miguel Jorge revela frustração com os resultados do plano industrial lançado durante sua atuação na pasta, em 2008. “Várias das ações planejadas não foram executadas. Foi um ano de trabalho para desenvolver o esqueleto do plano e acabou só 50% sendo implantado. A devolução dos créditos tributários aos exportadores, por exemplo, foi lançada em maio de 2008 e até hoje não foi implementada.”

Em 1985, a indústria da transformação representava 27% do PIB. Hoje, é 14,6%. No ano passado, a indústria como um todo cresceu 1,6%, enquanto a indústria de transformação registrou expansão de apenas 0,1%.

O ex-secretário Júlio Gomes de Almeida vê um trunfo na articulação do Plano Brasil Maior. “Vimos muitas vezes a política macroeconômica ir para um lado e a política industrial para outro, tentando amenizar o problema dos juros altos e do câmbio valorizado”, afirma. “Já o Brasil Maior vem em um contexto em que o governo procura baixar os juros e tem a orientação de fazer intervenções no câmbio quando a cotação alcança certo nível. Isso dá mais sustentação ao plano.”

Com informações da Agência Estado