Como você está vendo a Conferência?

Para mim, esta II Conferência é um grande avanço. A primeira já foi um pontapé inicial no sentido de discutir as questões das mulheres, principalmente dentro do Partido. Os Estados fizeram uma boa discussão. E acredito que há ainda alguns debates que precisam ser aprofundados, como a questão das mulheres negras.

A meu ver, um dos temas que temos de discutir são as mulheres encarceradas; o tráfico de mulheres é um assunto que deve ser apontado. Mas acredito que o Partido está avançando bastante no sentido de discutir a questão de gênero e a questão de emancipação das mulheres. Isso é muito importante, levando-se em conta esse avanço e a visibilidade que nós mulheres temos hoje no país.

Você vê insuficiência na elaboração do PCdoB nessa relação gênero/raça, vamos dizer assim, a mulher negra e o gênero feminino?

Se nós pensarmos em termos de documentos, alguns deles apontam isso, mas na prática, a meu ver, ainda faltam coisas a serem feitas. Então, nós sentimos um pouco a falta disso, de discutir mais profundamente a questão das necessidades de nós mulheres negras, que temos as nossas especificidades. Por isso, posso dizer que sim. Acho que falta aprofundar mais sobre essa questão dentro do Partido.

De onde vêm essas barreiras?

Eu não diria que são barreiras, mas acredito que falta mesmo, até de nós mulheres negras, colocar isso nas pautas do Partido e aprofundar esse debate. Da mesma forma que uma hora vai se chegar à discussão sobre o LGBTT, como outras questões, dentro do Partido, e que será preciso aprofundar o debate.

Acredito que estamos conseguindo também hoje fortalecer mais o problema das mulheres negras, e colocar mais em pauta essa questão. E isso também ajuda o Partido a crescer, a formular propostas para o que está aí colocado. E falta, também de nossa parte, a iniciativa de dizer para o Partido o que nós queremos. Acho que tem a questão de gênero, mas também tem a questão gênero/raça sobre a qual precisamos discutir.

Você esse processo em evolução? Ou ele está estagnado?

Dentro do Partido nós estamos evoluindo sempre. Não vejo como uma questão estagnada. Acho que quando há uma Conferência como esta, na qual temos a oportunidade de debater, é um avanço. Hoje, aqui, com certeza, nós mulheres negras vamos nos reunir, discutir, colocar as nossas questões na pauta. E isso sempre é um avanço. Acho que todo espaço que há para podermos discutir é um avanço. Não vejo como um retrocesso. Para mim, nós conseguimos avançar sempre.

O Partido Comunista do Brasil tem uma história de luta pela emancipação da mulher. Como você vê esse diferencial em relação à sociedade?

Eu estou no movimento de mulheres há pouco tempo. Mas em comparação com outros partidos, ou com outros movimentos, como nós dizemos, apesar de o Partido ter 90 anos é jovem em relação aos avanços, porque ele está sempre à frente das coisas. Embora essa questão de gênero dentro do Partido tenha sido bastante, não digo difícil, mas com muito custo, com muita dificuldade para ser colocada, de todo jeito o Partido, de uma certa forma, compreendeu a necessidade ter as mulheres à frente.

E vamos levando para a sociedade temas que teremos de enfrentar, alguns deles polêmicos, sobre os quais teremos até de discutir internamente, porque ainda temos dificuldade de debater sobre isso entre as comunistas. Mas o PCdoB é um partido que sempre dá esse pontapé inicial em relação às questões da sociedade, o que ajuda bastante a sociedade a despertar sobre o que está acontecendo.