O seminário Gramsci e o pensamento político teve início na tarde desta terça-feira (23/4), com um debate sobre Estado e Sociedade, promovido pelo historiador da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Eurelino Coelho, e o jornalista e membro da direção nacional da Fundação Maurício Grabois (FMG), Osvaldo Bertolino. O encontro aconteceu no campus da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no bairro do Cabula, em Salvador.

Mediado pelo professor da UNEB e membro da FMG, seção Bahia, Ricardo Moreno, o primeiro dia do seminário contou com as presenças da diretora do Departamento de Educação da universidade, Liane Carla, e da integrante da Fundação Maurício Grabois, Ilka Bichara. Para Liane, o evento é de uma magnitude ímpar, pois temas como o apresentado para discussão se constituem marco para reflexão da comunidade acadêmica.

Na ocasião, Ilka Bichara informou que as atividades desenvolvidas pela FMG. “Somos uma fundação de estudo e pesquisa que procura realizar debates importantes como este. Somos vinculados ao Partido Comunista do Brasil, mas temos um caráter independente, de pesquisa e estudo”, declarou. Ilka falou ainda sobre a revista Dialética, produto virtual da FMG, seção Bahia.

Para Eurelino Coelho, falar sobre Gramsci é algo fantástico. “Tenho me dedicado há alguns anos sobre isso. É uma leitura sempre atual e que me faz refletir sobre minha atividade como historiador e professor. Espero que, a partir desse encontro, sejam realizados mais debates e experimentos como esse”, disse. O professor falou sobre a trajetória de Antonio Gramsci (1891-1937), filósofo, político, cientista político e antifacista italiano.

De acordo com o historiador, Gramsci foi um intelectual que tratou de temas de um mundo dominado pelo Imperialismo, sempre com ideias que se aplicam facilmente a realidade atual do Brasil e do mundo. Além disso, ele foi uma das figuras centrais do Partido Comunista Italiano. Sobre a obra do filósofo, Coelho acredita que a produção pré-carcerária é de um rigor ímpar em relação às normas acadêmicas, mas os cadernos do cárcere são o ponto alto da vida de Gramsci.

“Mesmo com uma leitura difícil, truncada, sem uma sequência, os escritos do cárcere são um dos melhores e mais completos exemplos dos desdobramentos do Marxismo”, afirma Coelho. Em relação ao tema Estado e Sociedade Civil, Coelho acredita que a contribuição do filósofo italiano é “apenas de um intérprete, não de um inovador. O essencial nesse ponto já está dito desde 1850 com o que foi desenvolvido por Marx”.

Ao finalizar sua contribuição no seminário, Eurelino Coelho discorreu sobre o pensamento de Gramsci de que “não há caminho fácil para derrotar a burguesia e que a guerra de posição não pode ser confundida com compartilhamento de trincheira com o inimigo”. Para o filósofo italiano, o segredo é o espírito de cisão.

Unanimidade

De acordo com Osvaldo Bertolino, hoje em dia, ninguém contesta mais a necessidade de estudar Gramsci para entender a realidade atual. “Na Fundação Maurício Grabois, já chegamos a constituir um núcleo de estudo sobre ele.” Para o jornalista, a leitura de Gramsci pode ajudar a entender a tumultuada relação do Brasil no século XX e o que foi o movimento do liberalismo no mundo.

Programação

Nesta quarta-feira (25), no campus da UNEB, será trabalhado o tema Luta pela hegemonia, com Sandro Santa Barbara (UNEB) e Felipe Maia (FMG), sob a coordenação de Mary Castro. Na quinta e último dia do encontro, é a vez de falar sobre A formação e o papel dos intelectuais com Naomar Almeida e Jairnilson Paim, ambos da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Felipe Maia (FMG). O coordenador da mesa é Milton Barbosa, e o encontro acontecerá no campus da UFBA, no Canela.

Lançamento

Na quarta e quinta-feira acontece o lançamento do livro “Mauricio Grabois, uma vida de combates”, de Osvaldo Bertolino. Ação faz parte das comemorações pelo centenário de Grabois, nascido em outubro de 1912. Grabois foi líder do PCdoB na Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e comandante da Guerrilha do Araguaia, quando morreu em combate. No dia 27, o desaparecimento do comunista completa 76 anos.