O segundo telefonema do presidente dos EUA Barack Obama, em semanas consecutivas, ao presidente Vladimir Putin, 2ª-feira passada, mostra claramente o quanto é crucialmente necessário, para os norte-americanos, obter a cooperação da Rússia, nas atuais circunstâncias, no front da política externa.

O resumo da conversa, distribuído pela Casa Branca,[1] informa que falaram sobre terrorismo e Síria, como questões mais prementes. A verdade é outra: as bombas na Maratona de Boston evoluíram e já são questão russo-norte-americana.

A rádio Free Europe/rádio Liberty, criada pelo governo dos EUA, divulgou comentário muitíssimo controverso[2] – curiosamente sem qualquer crédito de autoria – que se detém a um milímetro de insinuar que a inteligência russa pode saber bem mais sobre Tamerlan Tsarnaev do que se deu o trabalho de revelar.

O comentário, do fim de semana, revela, surpreendentemente, que, enquanto visitava a Rússia – onde a inteligência russa “não se mexeu para impedi-lo nem de entrar nem de sair da Rússia”2 – Tamerlan desapareceu da face da Terra por longos dois meses, na região do Daguestão no norte do Cáucaso.

Mas Obama optou por “reiterar o quanto apreciou a empenhada cooperação” que a Rússia ofereceu na questão dos ataques à Maratona de Boston. Em troca, Obama ofereceu a cooperação dos EUA, para enfrentar os desafios de segurança durante as Olimpíadas de 2014 em Sochi, um resort no Mar Negro (bem próximo da Trans-Caucasus), questão que Moscou está tratando como prioridade nacional de segurança.

O resumo da Casa Branca dizia que Obama manifestou sua “preocupação com as armas químicas sírias”. É formulação cuidadosa. O resumo não diz que o governo sírio teria usado armas químicas. Em vez disso, reiterou a importância de “consultas próximas” entre Washington e Moscou sobre a situação síria.

Fato é que Obama está fazendo bem triste figura, ao ter de reformular sua própria definição de “linha vermelha” na Síria. É improvável que os EUA algum dia encontrem prova conclusiva de que o regime sírio tenha usado armas químicas. Simultaneamente, reina grave divisão no campo ocidental, também, no plano da construção de políticas: o comandante das forças britânicas manifestou-se fortemente contrário a qualquer tipo de intervenção militar na Síria, pelo risco de “arrastar a Grã-Bretanha para uma guerra total”.[3]

Por outro lado, a Rússia avança na ofensiva diplomática. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, atacou de modo inusitadamente forte: “Há estados e atores externos que supõem que quaisquer meios sejam bons, se levarem à derrubada do governo sírio. Mas a questão do uso de armas de destruição em massa é grave demais, e ninguém deveria jogar com ela. Considero inadmissível servir-se dessa questão e especular sobre ela. A culpa por ninguém ter investigado até agora o específico evento do dia 19 de março e que ainda provoca indignação universal deve ser atribuída às nações que tentam impedir que o secretário-geral da ONU ofereça resposta simples e direta a uma pergunta simples e direta”.[4]

Ainda não se sabe se Obama telefonou ao Kremlin antes ou depois da fala de Lavrov. Seja como for, Moscou não dá sinal algum de disposição para colaborar em qualquer ação ocidental na direção de inventar outro ‘caso de armas de destruição em massa’, à moda Iraque, dessa vez contra a Síria, na ONU. Ponto. Parágrafo.

Assim sendo, onde fica Obama? Por um lado, a Casa Branca tenta pedalar para trás: é preciso “muito mais trabalho”,[5] antes de acusar o regime sírio de ter usado armas de destruição em massa. Pelo outro lado, o Congresso vai-se tornando cada vez mais furioso: dizem que Obama tem de “fazer mais” contra a Síria.[6]

O caso é… E o que Obama pode fazer?! Até a operação de armar os ‘rebeldes’ é arriscada demais. Vozes mais sãs têm aconselhado cautela.[7] Quanto a impor uma ‘zona aérea de exclusão’, com certeza a tentativa seria contestada, à falta de mandado da ONU que autorize ato de beligerância contra estado membro.

Pelo sim, pelo não, a Rússia está deslocando sua força tarefa naval da Frota do Pacífico para o Mediterrâneo, para estacionamento prolongado próximo à Síria; deve chegar em meados de maio.[8] Interessante: os navios de guerra russos pararam, em visita de cordialidade, no porto iraniano de Bandar Abbas, na viagem para o Mediterrâneo via o Canal de Suez.
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Publicado em 30/4/2013, Indian Punchline
http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2013/04/30/obama-reaches-out-to-putin/