O economista Nouriel Roubini, que ficou conhecido por ter previsto a crise financeira de 2008, diz que a austeridade «tem sido terrível para a Zona Euro».

Falando numa palestra na Bolsa de Nova York sobre a redução dos déficits comerciais, que é usada pelos defensores da austeridade para sublinhar o sucesso destas políticas, o economista disse que «a redução é estrutural apenas em parte», pois a «maior parte dessa redução resulta do colapso dos mercados internos, que estão em recessão».

Roubini admite que «a austeridade é necessária», mas diz que o seu efeito recessivo tem de ser considerado e que os seus critérios de aplicação devem ser melhor definidos.

«Muitas medidas de consolidação têm efeitos recessivos. As reformas estruturais, que são necessárias, também têm efeitos recessivos. Por isso, deve reduzir-se a austeridade fiscal quando se fazem reformas estruturais», explicou.

O economista disse que em Portugal «há uma fadiga da austeridade, que se começa a ver nas ruas, que pode tornar-se um problema».

«[Portugal] é um país em que há vontade política, comparado com outros países europeus», explicou, «mas pode haver uma mudança brusca se a economia não começar a melhorar».

O economista defende que há uma separação entre o que se passa nos mercados financeiros, que têm tido bons desempenhos devido à existência de liquidez, e a economia real.

«Este desequilíbrio não pode continuar para sempre. As forças da gravidade econômicas vão forçar uma correção (…) Ainda não existe uma bolha financeira, mas se esta situação continuar, dentro de um, dois, três anos há a possibilidade de um crash», defendeu.

Ainda assim, Roubini admite que «a situação na Europa melhorou significativamente».

«Há um ano estávamos todos preocupados com o fim da zona euro, isso hoje já não acontece», disse, enunciando vários motivos, entre os quais uma mudança de discurso em Bruxelas e Berlim e o lançamento do Programa de Transações Monetárias Diretas e do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira.

A palestra do economista estava integrada na programação dos «Pan European Days», uma iniciativa da Euronext em que Portugal participa ao lado da Bélgica, Holanda e França.