Guerras particulares, prejuízos públicos
Bruxelas – “Quando você segura um martelo, tudo ao seu redor se assemelha com pregos”, diz um velho provérbio norte-americano. Com base no mesmo esquema, quando um país possui uma indústria bélica poderosa que envolve-se de forma asfixiante com a liderança política e cada vez mais desempenha o papel de locomotiva do crescimento, então, o mundo inteiro ao seu redor – e, especificamente, o Grande Oriente Médio – se assemelha, inevitavelmente, ao Iraque.
Já se passaram mais de 50 anos desde o momento em que os norte-americanos ouviram pela primeira vez a frase “establishment militar industrial”. Em seu discurso de despedida do cargo de presidente, em janeiro de 1961, Dwight Einsehower advertiu o povo norte-americano sobre os riscos que envolvia a “interligação de um gigantesco establishment militar com uma grande indústria de armas”, relação que, conforme destacou, “irrigava econômica, política e, ainda, espiritualmente qualquer feição de vida pública”.
A indústria bélica dos EUA agigantou-se durante os anos da Guerra Fria, mas sua influência não expirou após seu fim. Ao contrário, entrou em novo período de crescimento com a eclosão da “guerra contra o terrorismo”, uma guerra ideal para negócios, considerando que não tem adversários visíveis e, consequentemente, pode continuar indefinidamente. Nos 12 anos que se passaram desde o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, os gastos dos EUA em defesa saltaram de US$ 385 bilhões por ano para US$ 690 bilhões.
Segundo as avaliações do Instituto de Investigações para a Paz, de Estocolmo, Suécia, ano passado os EUA foram responsáveis por 39% do total dos gastos militares em nível mundial. O percentual representa redução mínima em relação aos anos da Guerra Fria e continua superando, em muito, o total dos gastos em defesa dos dez países que se seguem na respectiva lista da investigação.
Só com mercenários
A derrubada das Torres Gêmeas e as guerras seguintes alteraram dramaticamente os fundamentos. Em 2001, os dez maiores fornecedores de armas do Pentágono distribuíram entre si contratos de encomendas no valor total de US$ 58,7 bilhões. E apenas seis anos depois, o bolo havia sido duplicado em volume, com as dez maiores empresas bélicas assumindo contratos de encomendas no valor total de US$ 125 bilhões.
O fora de qualquer lógica aumento dos gastos de defesa e as cada vez mais estreitas relações de interdependência com os gigantes da indústria bélica resultaram em importante mudança qualitativa, a ponto de muitos analistas estimarem que os EUA não estão mais em posição de travarem guerras sem a participação do setor privado.
A participação de mercenários e guardas particulares em cada destacamento militar aumenta estavelmente, enquanto empresas de mercenários tipo Blackwater assumem cada vez maior parcela de responsabilidade fornecendo mercenários até para a burocracia militar.