Cuba entra em 2014 com avanços para população LGBT
O governo cubano aprovou uma série de medidas legais para proteger a comunidade LGBT no ambiente de trabalho.
O jornalista e “comunista gay” Francisco Rodríguez, “El Paquito de Cuba”, anunciou por meio de sua conta de Twitter e blog a decisão.
Em uma das entradas de seu blog, Rodríguez cita um parágrafo da nova lei: “Todo cidadão em condições de trabalhar tem direito a obter um emprego atendendo ‘as exigências da economia e a sua eleição, tanto no setor estatal como não estatal, sem discriminação por cor da pele, gênero, crenças religiosas, orientação sexual, origem territorial e qualquer outra distinção lesia ‘a dignidade humana”.
Rodriguez também narrou o momento em que a filha de Fidel Castro e membro do Parlamento, Mariela Castro, propôs proibir a discriminação com base na identidade de gênero, obtendo o apoio de “cristãos e intelectuais”; Castro também chamou a atenção para as pessoas vivendo com HIV e pessoas com deficiência que são rejeitados no local de trabalho.
Com o apoio da primeira mulher a ser nomeada pastora da Igreja Presbiteriana de Cuba, Membro do Parlamento, Miriam Ofelia Ortega Suárez, eo pastor episcopal, Pablo Oden Marichal, também membro do Parlamento, eo vice-presidente Miguel Diaz-Canel, o projeto de lei do Código de Trabalho foi aprovado e se propôs a criação de uma comissão especial para estudar e implementar outras medidas a respeito.
Nos últimos anos, a Comunidade LGBT cubana tem ganhado visibilidade e a aceitação social. Muitos vêm nestas novas medidas um símbolo de maior desenvolvimento para a ilha e uma oportunidade para aproveitar o mercado “gay friendly” (simpático a gays) que poderia gerar um enorme avanço turístico.
Conferência internacional LGBT
O CENESEX (Centro Nacional de Educación Sexual) será o organismo anfitrião da VI Conferência Regional da ILGALAC (Internacional Lesbian, Gay, Bissexual and Transgender Association of Latin America and Caribe), que terá lugar em Cuba. A VI Conferência Regional da ILGALAC se realizará nas cidades de Varadero e Havana, de 6 a 10 de maio de 2014.
A última assembleia regional, realizada em Curitiba, aprovou o pedido da organização «AsociaciónHombres y MujeresNuevos de Panamá» (AHMNP) para realizar a conferência regional seguinte no país comunista. Tendo em conta que Cuba, em muitas ocasiões, manifestara sua intenção de albergar a Conferência, e tendo analisado as possibilidades de infraestrutura e experiência na gestão deste tipo de eventos, foi decidido aprovar o pedido.
A Conferência Mundial da ILGA se realizará no México.
Delegada transex
José Agustín Hernández é, na verdade, Adela, a primeira transexual que ocupa um cargo político na história de Cuba. Ela foi eleita por seus vizinhos como delegada, uma espécie de vereadora autárquica do Poder Popular.
Vive no povoado de Caibarién, da província de Vila Clara, no centro-norte da ilha. Depois de um ano exercendo seu mandato, aceitou uma entrevista para fazer um balanço de seu gerenciamento.
Os delegados e deputados em Cuba não são políticos profissionais, vivem de um trabalho normal e exercem seu mandato sem receberem dinheiro. Foi esse trabalho o que deu muitos votos a Adela, “enfermeira com pós-graduação em electrocardiograma e pertenço ao corpo de guarda”, explica. “Normalmente atendo casos graves e estabeleço um relacionamento humano com os pacientes e seus familiares. Graças a isso, veem-me como um ser humano também e entendem que a preferência sexual de cada um não tem importância”, prossegue.
Por eleição popular direta e secreta, converteu-se na representante política e administrativa de seu bairro. “Atendo às necessidades de minhas mais de 500 eleitoras e eleitores, mas também sob minha responsabilidade tenho duas lojas em que se vendem os alimentos subvencionados, uma peixaria, um consultorio médico e três escolas. Tive bastante sucesso, tendo em conta que fizemos sete gerenciamentos ante os organismos do Estado e todos foram respondidas positivamente”, explica.
A pauladas com a burocracia
Diz Adela que “a outros delegados, os diretores dos organismos e empresas do Estado respondem através de um secretário, mas a mim atendem-me pessoalmente, porque sabem que se for preciso, apelo a qualquer nível”. Completa que “quando um dirigente me dá uma resposta que não me convence, não a dou como válida, pedem-me que assine, mas nego-me porque se a mim não me convencem menos a meus eleitores”. E os dirigentes daqui sabem que “o mesmo posso conversar que brigar”.
Um dos conflitos foi com a empresa elétrica de iluminação do Passeio Martí. “Diziam-me que não tinha recursos e quando lhes disse que apelaria à capital da província e a Havana apareceu todo o que fazia falta. Não há muito, um dirigente fechou o local onde se reunia a comunidade gay de Caibarién, dizia que “por ordens de cima”. De modo que comecei a subir averiguando quem dava a ordem. Nunca dei com o responsável, mas o centro reabriu”.
Conta que também faz gerenciamentos com seus eleitores, labor social para a comunidade. “Por exemplo, em minha zona há uma menina prostituta que ficou grávida. Como tinha risco, foi transladada a uma clínica pré-natal com boa alimentação e atendimento médico permanente. O problema é que o centro de Saúde Pública pediu-me que tentasse convencê-la para que regressasse para casa. Após muito falar com paciência e humanidade consegui que voltasse ao lar materno”.
Direto à política
Adela vive em um bairro marginal de Caibarien e, antes de ser delegada, foi presidenta de um Comitê de Defesa da Revolução durante 29 anos. Ainda muito jovem esteve presa por dois anos nos anos 1980 por suas preferências sexuais, sendo denunciada pelo seu próprio pai, que a maltratava. “Tinha sempre o objetivo de que ninguém pudesse me dobrar, que ninguém pudesse me obrigar a fazer o que eu não queira. Eu sou um ser humano igual a qualquer um, mas não me detenho frente às dificuldades, pelo contrário, os obstáculos fazem-me crescer e sentir mais confiança em mim mesma”, relata.
Acrescenta que “nada pôde mudar meus ideais, nem os maltratos nem os insultos nem os golpes alteraram meus sentimentos por esta revolução. Eu não posso seguir arrastando rancores por meus sofrimentos, porque todo país comete erros e Cuba os cometeu conosco, mas teve a ousadia de o reconhecer. Agora eu tenho o direito de escolher como vou viver, a tal ponto que daqui a pouco tempo me darão um novo bilhete de identidade onde se me reconhece mulher”.
Olhando para o futuro, explica que Cuba está mudando muito, tanto que “Mariela (Castro) disse que um dia não vai ser necessário o CENESEX (Centro Nacional de Educação Sexual que Protege os Direitos da Comunidade LGBT). Eu também espero que isso aconteça, que um dia já não seja necessário defender nossos direitos. E por esse caminho é possível que chegue a ser deputada. Depende de como evolua no posto de delegada para ser candidata à província e depois ser proposta para a Assembleia Nacional. Eu como revolucionária estou disposta a chegar até lá se o país me precisar e os cubanos me elegerem”.
Com informações de Aporrea e ILGALAC.