“Pela minha parte, peço desculpas ao povo grego porque contribui para esta ilusão”. As palavras de Manolis Glezos, histórico resistente às tropas de ocupação nazi na Grécia e atualmente eurodeputado do Syriza, abriram as hostilidades no campo dos apoiantes do novo Governo grego.

Na sua carta aberta publicada no sábado, Glezos argumentava que “não pode haver nenhum compromisso entre oprimido e opressor” e que “entre escravo e ocupante, a única solução é a liberdade”, abrindo a porta a uma solução que foi sendo afastada pelos negociadores gregos ao longo do processo negocial: a saída do euro.

As reações não se fizeram esperar, com outras figuras destacadas do partido a partilharem a carta de Glezos nas redes sociais, como foi o caso de Yannis Milios, um dos responsáveis. Por seu lado, uma das deputadas mais populares do Syriza, a antiga atleta olímpica Sofia Sakorafa, também veio dizer que “As pessoas deram um mandato para cancelar o memorando. Nós não temos nenhuma legitimidade política para fazer o oposto”. E o compositor Mikis Theodorakis, uma das figuras mais respeitadas da esquerda grega, alinhou pelo mesmo tom, desafiando Tsipras a responder com um óchi (não) grego ao nein de Schãuble. Na segunda-feira, Tsipras encontrou-se com o compositor para lhe explicar a sua estratégia de “não cair na armadilha do inimigo”.

As críticas alargaram-se também ao próprio governo, com o ministro da Reconstrução Produtiva, Ambiente e Energia a defender que o acordo alcançado em Bruxelas não podia anular o programa anti-austeridade do Syriza. Lafazanis, que integra a Plataforma de Esquerda (uma das tendências no interior do partido) defendeu que a “linha vermelha” que devia ser estabelecida eram os principais compromissos do seu programa sufragado pelo povo grego.

Também o economista Costas Lapavitsas publicou uma carta aberta com cinco questões à direção do Syriza acerca da compatibilidade de partes fundamentais do Programa de Salónica com o acordo-ponte para os próximos quatro meses. Também o académico Stathis Kouvelakis questiona a opção tomada. “Dizem-nos que o Syria não recebeu um mandato para sair do euro. Mas também não foi mandatado para abandonar o essencial do seu programa em nome da permanência do euro”, afirma o dirigente do Syriza, para quem está agora posta em causa “a ideia de que seria possível uma rotura com a austeridade e o fardo da dívida no atual quadro europeu”.

Para a direção do Syriza, a questão é diferente. No seu discurso ao grupo parlamentar esta quarta-feira, Alexis Tsipras afirmou que o acordo do Eurogrupo matou a teoria do “parêntesis de esquerda” na Grécia, que previa que o Governo duraria poucas semanas antes de embater com a realidade das forças em presença a nível europeu. Para Tsipras, o acordo dá à Grécia “espaço para respirar”, afasta o anterior memorando e as metas orçamentais irrealistas e substituiu os cortes previstos pelo anterior governo por reformas incluídas no Programa de Salónica.

Fora do Syriza, para além das críticas da Nova Democracia e do Pasok – que acusam Tsipras de ter negociado um novo memorando quando eles estavam prestes a libertar a Grécia do anterior –, o Partido Comunista Grego já anunciou um comício contra o governo para esta sexta-feira na praça Syntagma, depois de ter votado contra o programa de governo ao lado dos antigos governantes gregos e dos nazis.