Miniatura
Parto da vida íntima,
do último século não distingo um beijo
Convivo com as ocasiões
de mãos erguidas ao céu da fala,
as luzes superiores apagam-se
como um sermão de festa
ao alto dos pinheiros
entre cheiro de churrasco
e louro nos telheiros do verdasco
Contradigo-me
e tenho mãe,
confirmação de quase tudo
Junto ao espelho
a inocência impassível das feridas
desperdiça os filhos –
ao longe
um presépio calmo
cercado de artesanato fiel
laborioso e duplo como a alma.
Livro: Janela presa no andaime
Autor: Boaventura de Sousa Santos
Editora: Scriptum (Belo Horizonte, 2009).