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    Comunicação

    Da outra estação

    I Menino apenas afeito à poesia saiu para a visão dos muros com seus olhos verdes de um arrozal em crescimento para o delírio das aves. Seus grandes olhos verdes postos no umbral da infância tardia irrepetida. Pleno impossível, sobre os olhos, vê: estão cantando as tuas mãos cortadas.   II Eternizar a primavera insólita […]

    I

    Menino apenas afeito à poesia
    saiu para a visão dos muros
    com seus olhos verdes
    de um arrozal em crescimento
    para o delírio das aves.
    Seus grandes olhos verdes
    postos no umbral da infância
    tardia irrepetida.
    Pleno impossível, sobre os olhos,
    vê: estão cantando as tuas mãos cortadas.

     

    II

    Eternizar a primavera insólita
                               das mãos
    na queda suicida das *pandorgas
    abaladas da tarde para o azul
                    de um céu quebrado.

     

    III

    A infância na morte das pandorgas
    tem a tristeza de uma ausência eterna.

     

    Sentirá talvez o cadaverzinho do sonho
    que ainda o sigo pelos calvos caminhos
                                        da tarde;
    e ainda ponho nos seus olhos verdes
    minha dor madura
    refeita sobre a morte das estradas?

     

    IV

    Entre o agora
    E o cadáver da infância submersa
    a distância sem paz dos desencontros.
    E a alma geme e sofre como um rio
    onde todos os peixes morreram,
    apodreceram todas as pedras,
    e emigraram amargas de crepúsculo
    as alegrias de todas as aves.

     

    V

    A infância flui com suas mãos cortadas
    do fundo verde dos olhos,
    por sobre a calma dos muros
    que a noite edificou
    nas suas bruscas estradas.

     

    VI

    No umbral da hora futura, ave branca,
    cal aérea de enorme solidão,
    serei um poeta suave,
    vossas mãos florindo em minha boca
    Eu vim no tempo de réquiem
    (requiescant sed non in pacem)
    eu vim no tempo do pranto,
    um carrossel de sofrimento
    gera em meus pés,

     

                           com um delírio,
    humano contigência de chorar:
    a morte da nossa vida,
    a vida dos nossos mortos

     

    VII

    A primeira repentina há de envolver a terra
         rolando dos olhos verdes,
        tombando como as pandorgas
        na espiga morna da tarde.
    A noite plena de ausência onde me amargo
        e me encontro,
        menino farto de vento,
       pequeno, frágil, tão verde,
       curvando de dor madura.

     

    Chegando do exílio, do outro lado do mundo,
        ave branca de um país insondável,
        resta oculta substância do meu riso,
        meu riso inexplicável.     


    Livro: Na Estação das Aves
    Autor: Aidenor Aires
    1ª Edição- 1973
    Distribuição da Livraria e Editora Cultura Goiana

    *regionalismo para o brinquedo aéreo conhecido como papagaio ou pipa. 

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