A “desinformação organizada” de Sérgio Moro na caçada a Lula
Assim como o “mensalão” — uma farsa tão evidente que no futuro deixará os pesquisadores alarmados, tal a facilidade de detectá-la —, a “Lava Jato” se apoia em dados mais frágeis do que a convicção de um cínico. O ponto de partida de suas diatribes são declarações de ex-funcionários corruptos da Petrobras dando conta da formação de um cartel de empreiteiras para participar de contratos da empresa — prática, aliás, contumaz e que atingiu não só a Petrobras (o metrô de São Paulo é outro exemplo, para citar um caso de dimensões semelhantes ao da Petrobras).
Na investida sobre as empreiteiras, com métodos criminosamente coercitivos, Moro conseguiu, em suas delações premidas forçadas por prisões em escala, apenas confissões de que o dinheiro não saiu da Petrobras, mas dos lucros dos contratos obtidos pelo cartel. Não há, em todas as delações, nenhuma afirmação de que o dinheiro saiu da estatal ilegalmente. Desse lucro, uma parte foi para doações aos partidos políticos (outra os ex-funcionários corruptos que pediam as doações mandaram para suas constas), sendo que o único perseguido, o Partido dos Trabalhadores (PT), foi, entre os grandes, o que menos recebeu recursos dessa fonte.
Como todos os partidos tiveram suas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral, o que resta são ilações, suposições e acusações infundadas. Ninguém da “Lava Jato” se deu ao trabalho de pedir uma auditoria nas contas desses partidos para rastrear as alegadas ilegalidades. Como o PT é o principal partido governista, ficou fácil para os acusadores da “Lava Jato” divulgar a versão de que ele forçou a assinatura dos contratos da Petrobras com as empreiteiras para se beneficiar das doações – acusação facilmente desmentida pelos registros de arrecadação de recursos pelos partidos na Justiça Eleitoral.
Tudo simples, tudo fácil de compreender. Mas a mídia bateu tanto nessa farsa comandada por Moro que a população em geral não tem a menor ideia do que realmente vem acontecendo. E foi na esteira dessa “desinformação organizada”, como dizia Umberto Eco, que o juiz do Paraná decidiu dar seu passo mais ousado, ligando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva às tais empreiteiras. Moro age com a missão de fazer a caça entrar na mira dos atiradores – nesse caso Lula e a mídia.
República do Galeão
Foi assim que Moro montou em Curitiba a sua versão da “República do Galeão”, como ficou conhecida a Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, quando lá foi montado, em agosto de 1954, um aparato da Aeronáutica para interrogar suspeitos no atentado da Rua Tonelero, que feriu o udenista e golpista Carlos Lacerda e matou o major da Força Aéra Brasileira (FAB), Rubens Vaz. Os interrogatórios transcorriam em meio à crise do governo e às acusações de corrupção e aumentavam a pressão sobre o presidente Getúlio Vargas, que resultou em seu suicídio.
A mídia conseguiu destilar tanto veneno contra Lula que boa parte da população começa a acreditar em suas parolas. É o ódio gratuito, como tantas vezes grassou na história brasileira. Ódio ao povo, aos de baixo, aos negros e índios que tentam entrar no clube do poder. Lula é um expoente típico desse povo: nordestino, operário e um batalhador pela sobrevivência. Nem em sítio ele pode pisar; os caçadores estão sempre de arma em punho para completar os serviços do juiz de Curitiba.
O problema é que a tendência humana é a de acreditar muito mais no que se vê do que no que se lê — ou se ouve. Daí a repetição e a renovação da roupagem das “denúncias” numa velocidade estonteante. Para encobrir a realidade, quanto mais manchetes funéreas, melhor. Investigar é bem diferente deste encontro do estardalhaço com a inutilidade, uma patifaria que já entrou para o folclore como símbolo da vigarice que norteia a mídia brasileira.
Bandeira no ombro
A raiva da direita é que nos governos Lula e Dilma não se têm notícias de autoridades visitando bancos ou consultorias privadas antes de tomar decisões, como foi comum na era Fernando Henrique Cardoso (FHC). Em suma: há diferenças significativas na forma de governar o país. E o que pior: Lula foi elevado ao posto de autoridade máxima do povão que a direita odeia ao conferir prioridade total ao combate à miséria. Ele viu, com sua peculiar sagacidade, que esse era o pai de todos os problemas nacionais.
Lula percebeu que essa era a condição para a solução de outros problemas, inclusive a reversão daquele plano inclinado de ingovernabilidade para onde o país ia se encaminhando quando FHC deixou o Palácio do Planalto. Ele chegou ao Rubicão da candidatura eleitoralmente viável e, na outra margem, à planície por vezes incerta da Presidência da República com esta bandeira no ombro.
Estamos entrando numa fase em que a direita tenta reerguer a sua agenda e cabe aos setores populares impedir que isso aconteça. O movimento social precisa entrar em campo com a verdade na ponta da língua para que o jogo não seja desigual — sabemos que o outro lado só joga com o velho hábito de caluniar, acusar e mentir. Nesta situação em que denúncias ameaçam detonar o governo a cada 15 minutos, é preciso lembrar verdades sobre Lula e Dilma a cada 5 minutos.