Temer, o Judas!
A presidenta Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade, sequer é investigada e até seus inimigos declarados atestam que ela é honesta. Grande parte dos que ontem votaram na Comissão Especial pela admissibilidade de um impeachment fraudulento é deputado investigado, e pairam sobre eles acusações de delitos, de crimes de corrupção. Eduardo Cunha que carrega nos ombros um atlas imundo de processos é o general dessa banda podre.
Aécio, o derrotado que não aceitou a soberania do voto do povo, vestal de fachada, conspirador de primeira hora, se pregou a Cunha. Temer, embora se esforce em erguer o queixo, é um serviçal do golpe. É mero instrumento apenas. Antes disso, é o Judas. Rasgou a Constituição que jurou cumprir e defender. E qualquer que seja o resultado, será “malhado” pela história e pelo povo que com asco recebe no rosto o soco desse Judas.
Temer concluiu o óbvio: jamais seria presidente pelo voto popular. O consórcio golpista tentou cassar a chapa eleita em 2014 via Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma crescente resistência democrática vem barrando o golpe. Aécio Neves começou a cair nas pesquisas de intenção de voto. Lula, apesar do massacre midiático, passou a liderar as pesquisas juntamente com Marina Silva. Aí se deu o conluío de Temer, Cunha e Aécio. O PSDB por inteiro passou a apoiar a posse de Temer presidente, com Cunha vice na linha sucessória, por intermédio do impeachment golpista.
Sob o pretexto de “acidente”, Temer fez divulgar um discurso antecipado de posse, a plataforma do golpe, no qual diz que chefiaria um “governo de salvação nacional”, de “pacificação” nacional. Pergunta: é possível pacificar um país com golpe de Estado? É possível “salvar” a Nação com um governo ilegítimo, com um presidente entronizado por um impeachment fraudulento? É claro que não. Na história da República toda vez que a democracia foi agredida, mutilada, o período seguinte foi de retrocesso em toda a linha e de luta tenaz para reestabelecer o Estado Democrático de Direito. De convulsão e divisão da sociedade.
Num ponto, na tal gravação, Temer foi sincero. Antes mesmo da hipotética e ambicionada posse mandou avisar ao povo que no pretenso governo dele haverá “sacrifícios”. Jura que não vai mexer com o Bolsa Família, mas em relação ao reajuste real do salário-mínimo não disse palavra alguma.
Agora, faz circular nos jornalões que pretende se reunir o quanto antes com Armínio Fraga e que sonha tê-lo como ministro da Fazenda. Armínio, ex-presidente do Banco Central do governo FHC, era o predileto de Aécio Neves para assumir o Ministério da Fazenda caso tivesse sido eleito. Armínio recentemente derramou elogios ao Plano Temer configurado no documento Ponte para o Futuro. De fato, seria a figura talhada para capitanear uma pauta de regressão de direitos, aviltamento da soberania nacional e retrocesso político. Enfim, neoliberalismo selvagem.
Que cada deputado, que cada deputada tenha clareza: ao votar não estará aprovando ou reprovando o governo da presidenta Dilma Rousseff. Estará, isto sim, dizendo Sim ou Não à democracia.
Que vença a democracia, que seja derrotado o golpe da trinca Temer, Cunha e Aécio.
Adalberto Monteiro é membro da direção nacional do PCdoB, editor da revista Princípios, secretário-geral da Fundação Maurício Grabois.