A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) afirmou nesta quarta-feira (18) em sua página no Facebook que eventuais cortes no Bolsa Família representariam um retrocesso. “Quando o Bolsa Família começou, em 2003, 10% da população estava em situação de insegurança alimentar, ou seja, não sabia se teria as três refeições do dia. Hoje, é menos de 1%. Por isso, o Brasil saiu do Mapa da Fome das Nações Unidas. É claro que se houver corte no programa há o risco de voltarmos ao passado. É com orgulho que podemos dizer que nasceu no Brasil a primeira geração de crianças livre da fome e na escola.”

Em uma das respostas, sobre a possibilidade de o Bolsa Família ser revisto pelo governo do gabinete dos sem voto de Michel Temer, inclusive com cortes, ela afirmou: “Sim, é verdade. Eles têm falado muito em cortar benefícios. Com o Bolsa Família, falam de cortar de 10% a 30%. Isso significa de 4,7 milhões até 13 milhões de pessoas. Veja, eles falaram até em deixar só 5% das pessoas, ou seja, só 10 milhões de pessoas no Bolsa Família. Sabe o que isso significa, iriam tirar 36 milhões de pessoas do Bolsa Família numa canetada só”.

Em outra resposta, a presidenta destacou a importância do programa para as próximas gerações e apontou o legado que será deixado.

“Você consegue imaginar como será o Brasil com adultos que, quando crianças, se alimentaram adequadamente, frequentaram a escola, tiveram acompanhamento de saúde, foram vacinadas? Serão certamente adultos que conseguiram completar sua educação, acessaram a universidade. Haverá uma quebra do ciclo de pobreza e eles certamente não vão repetir a história dos seus pais. Será um país melhor!”, disse.

Dilma alegou que o programa reduz a mortalidade infantil e que uma eventual redução de sua amplitude tiraria a proteção de 16 milhões de crianças. “Temos pesquisas que provam que o Bolsa Família é responsável pela redução da mortalidade infantil causada pela desnutrição e também pela queda de 51% do déficit de altura das crianças. Ou seja, as crianças estão se desenvolvendo melhor, de acordo com a sua idade.”

Ela também explicou que o programa exige contrapartidas dos usuários e argumentou que ele tem um impacto positivo na economia. “O Bolsa Família, além de ser um programa que assegura uma renda mínima, exige em contrapartida a permanência das crianças na escola. Hoje nós temos 17 milhões de crianças e jovens frequentando regularmente a escola graças ao Bolsa Família.”

Ponte para a Miséria

Dilma fazia referência à possibilidade de o presidente interino Michel Temer (PMDB) fazer mudanças no programa. O assunto parece controverso no governo do peemedebista. Temer vem dizendo que manterá o Bolsa Família. No entanto, no documento “A Travessia Social”, o PMDB defende a “focalização” do programa na faixa dos 5% mais pobres do país, o que representaria uma redução de sua abrangência.

O novo ministro de Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, afirmou ser necessário “oportunizar a saída” para beneficiários do programa Bolsa Família. “As pessoas têm que ter renda e não pode ser objetivo de vida viver só do Bolsa Família e o que está acontecendo é isso”, disse durante sua posse. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, declarou que os programas sociais serão mantidos, mas passarão por forte avaliação.

Dilma rebateu a crítica e lembrou que o programa tem faixas de valor – o benefício varia de acordo com algumas regras. “O Bolsa Família depende da renda e do número de pessoas dessa família. É muito comum achar que os beneficiários não têm renda. Mas a verdade é que a população pobre que recebe o benefício trabalha muito, mas não têm uma renda suficiente para sustentar sua família com dignidade. Em média, o benefício do Bolsa Família é de R$ 161 por família”, afirmou no Facebook. 

“Mais de 70% dos adultos do Bolsa Família trabalham, o mesmo percentual dos adultos que não recebem o programa. Assim, é um preconceito muito difundido por aqueles que querem acabar com o Bolsa Família achar que quem recebe o benefício não trabalha ou que os pobres são pobres porque não querem trabalhar. O Bolsa Família para muitos é um complemento da sua pequena renda. Para outros, é a única renda que têm e a diferença entre ter alimento ou não. Mas o Bolsa Família é mais que renda é uma oportunidade. Ele dá acesso a quem quer formalizar seu próprio negócio e a se qualificar”, disse em outro momento.