Política externa proposta por Temer é medíocre e submissa, diz Garcia
“Há quem diga que estamos assistindo ao surgimento de uma nova política externa. De nova não tem nada, é velha. É a velha política que conseguimos reverter a partir de 2003, quando o presidente Lula assumiu a chefia da nação e que depois teve uma continuidade nos anos que se seguiram”, disse o ex-assessor.
Ele criticou um eventual fechamento de embaixadas na África e no Caribe, algo amplamente noticiado na mídia como uma medida que Serra desejaria implementar. “Fechar embaixadas na África e Caribe, como escutei como uma opinião do chanceler interino, me parece um absurdo extraordinário”, disse Garcia.
Para ele, trata-se de não levar em consideração a importância que a África tem para a política externa. “Não é só uma afinidade étnica, pelo fato de que metade da população brasileira é afrodescendente, é algo que tem muito a ver com o aspecto pragmático. Temos uma relação econômica extraordinariamente importante que já foi explorada e pode ser mais ainda”, disse, detalhando que só no governo Lula, houve um crescimento de cinco vezes no comércio exterior brasileiro para a Africa.
De acordo com o ex-assessor, as embaixadas nesses locais pequenas, de custo reduzido, muitas vezes com um ou dois funcionários e deveriam, na verdade, ser ampliadas. Para ele, fechar as embaixadas demonstra “uma visão preconceituosa, atrasada e na qual está presente o conservadorismo do pensamento político brasileiro”.
Garcia avaliou ainda que o lugar do Brasil, no mundo, é complicado hoje. “Se ficamos dentro dessa política medíocre e submissa que está sendo proposta, vamos ter um lugar pequeno, o lugar que tínhamos 20 anos atrás. Se nós conseguirmos romper com essa visção medíocre, pequena, provinciana, conservadora, teremos a possibilidade de reconstruir nossa política externa”, avaliou.
Na abertura do vídeo, Dilma afirma introduz a fala de Garcia: “o governo eleito explica hoje a nossa política externa e as diferença que temos em relação a política externa do governo provisório”.
O ex-assessor avalia que os governos do PT fizeram “um jogo político equilibrado”, no qual afirmou a identidade da política externa, sem que isso significasse uma ruptura com alianças tradicionais.
“Os traços fundamentais foram a afirmação do Brasil como uma potência regional, mas que quer se associar aos países da região, porque entendeu que está em surgimento um mundo multipolar e, portanto, é mais importante que estejamos nesse mundo multipolar conjuntamente com os países da região do que isolados”, resumiu.
Segundo ele, isso significou também uma aproximação com países da África e da Ásia, sem que isso significasse um afastamento com parceiros como Estados Undios, União Europeia e Japão.