A sessão plenária do Senado, na quinta-feira de madrugada, 12 de maio, não teve chuva de confetes, vaias, gritos de guerra, não teve bandeiras rodopiando no ar, cartazes de “tchau, querida”, cusparadas, louvores a Jesus ou ao torturador Brilhante Ustra, nem soubemos o nome da sogra de Ronaldo Caiado ou do golden retriever de Aloysio Nunes. O elétrico e patético circo promovido na Câmara dos Deputados, dia 17 de abril, foi substituído pela frieza e burocracia de uma distopia orwelliana. Com o agravante da dispersão, em que o orador falava sozinho, enquanto senadores, deputados presentes e a audiência ao redor batiam papo animadamente, trocavam cumprimentos, faziam selfies, entre outros passatempos.

A ficção científica de “1984” se realizou nesta virada de 11 para 12 de maio de 2016, em que 55 senadores votaram pela admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff, contra 22 que protestaram contra a abertura do processo. O que se ouviu a cada discurso dos 70 senadores, durante mais de 20 horas, parecia a “novilíngua” criada no livro inglês. Os catorze anos de Governos Lula e Dilma foram apagados e passou a existir uma realidade de imagens catastróficas e sombrias, representativas do pior que governantes poderiam ter produzido contra o Brasil, nesse período. Seria necessário “duplipensar” pra entender do que se tratava o cenário apocalíptico pintado pelos parlamentares favoráveis ao impedimento da presidenta, contra as realizações citadas por governistas, – e reconhecidas internacionalmente -, para redução da desigualdade social no Brasil. 

Com a aprovação decidida por maioria simples, a presidenta Dilma é afastada por até 180 dias, e o vice, Michel Temer, assume. Haverá uma segunda votação em plenário que definirá o impeachment. Essa sessão será presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, e, para a destituição da presidente, serão, então, necessários 54 votos (dois terços dos senadores). Se for considerada culpada, ela sai do cargo definitivamente e fica inelegível por oito anos (não pode se candidatar a nenhum cargo público). Temer será o presidente até o fim de 2018. Se for inocentada, volta à Presidência, possibilidade que depende de apenas três votos mudarem de posição.

Um golpe violento

Em artigo publicado no portal Brasil247, a jornalista e analista política Tereza Cruvinel qualificou a abertura do processo de impeachment contra Dilma como “o mais violento” dos golpes. “A violência foi maior contra Dilma porque na aliança das facções que moveram a guerra entrou uma mídia avassaladoramente mais poderosa do que em outros tempos, que acumulou poder durante a ditadura e o multiplicou com a revolução tecnológica. E até os governistas petistas ajudaram nesta obra. Nunca os meios de comunicação usaram de forma tão esmagadora seu poder contra um governante. A violência contra Dilma foi maior porque transcorreu numa fase de putrefação do sistema político, levando as disputas para um Judiciário, que ao invés de arbitrar, homologou o linchamento. E antes, permitiu que a Operação Lava Jato, promessa de ‘limpeza completa’ na orgia entre políticos, empresários e tetas do Estado, se transformasse em instrumento político da facção caçadora, arrancando delações, selecionando vazamentos, atropelando garantias”, diz Cruvinel.

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