Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    O morcego

    Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: na bruta ardência orgânica da sede morde-me a goela ígneo e escaldante molho.   “Vou mandar levantar outra parede…” – digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho e olho o teto. E vejo ainda, igual a um olho, circularmente sobre a […]

    POR: Augusto dos Anjos

    Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

    Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

    na bruta ardência orgânica da sede

    morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

     

    “Vou mandar levantar outra parede…”

    – digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

    e olho o teto. E vejo ainda, igual a um olho,

    circularmente sobre a minha rede!

     

    Pego de um pau. Esforços faço. Chego

    a tocá-lo. Minh’ alma se concentra.

    Que ventre produziu tão feio parto?!

     

    A Consciência Humana é este morcego!

    Por mais que a gente faça, à noite, ele entra

    imperceptivelmente em nosso quarto! 

     

                                                    Espírito Santo/ PB, 1884

                                                    Leopoldina/ MG, 1914

     

    Livro: Livro dos Poemas

    Uma Antologia de Poetas Brasileiros e Portugueses

    Organização: Sergio Faraco

    Editora: L&PM Editores, 2009

    Tags
    Notícias Relacionadas