Ouça a íntegra do discurso de Pericás e leia as íntegras dos discursos de Durval Noronha Goyos Jr, durante a entrega do troféu, e de Caio Prado Jr, ao receber o prêmio em 1966:

 

LEIA AQUI O DISCURSO DE DURVAL NORONHA GOYOS JR, PRESIDENTE DA UBE, NA ENTREGA DO PRÊMIO A PERICÁS.

LEIA AQUI O DISCURSO DE CAIO PRADO JR AO RECEBER O PRÊMIO JUCA PATO DE 1966.

ASSISTA ABAIXO A SAUDAÇÃO DE WALTER SORRENTINO, VICE-PRESIDENTE DO PCDOB, AO PRÊMIO JUCA PATO 2016:

 

Luiz Bernardo Pericás, foi indicado, por unanimidade, pela diretoria da União Brasileira de Escritores (UBE) e por mais de 30 associados, ao Prêmio Intelectual do Ano – Troféu Juca Pato, edição 2016. O Prêmio contempla a extraordinária obra de Pericás sobre a trajetória do historiador Caio Prado Júnior, fundador da UBE e ele próprio recipiente do Prêmio Juca Pato (em 1966), intitulada como Caio Prado Júnior: uma biografia política, publicado pelo selo Boitempo Editorial. A láurea foi concedida pelo presidente da União Brasileira de Escritores – UBE, Durval de Noronha Goyos Jr., nesta quinta-feira, 6 de outubro, em cerimônia solene na Academia Paulista de Letras, em São Paulo.

A obra do autor é fruto de anos de pesquisa. Traz um relato impecável e multifacetado do historiador, escritor, geógrafo, militante e intelectual político de esquerda, Caio Prado Júnior, que abdicou de suas origens aristocráticas em favor de seus ideais políticos. Perseguido e preso durante a Ditadura Militar, iniciada com o golpe de 1964, implementou no Brasil, pioneiramente, a tradição historiográfica marxista.

Luiz Bernardo Pericás explora de forma impecável o percurso de Caio Prado Júnior, em uma obra que resgata minuciosamente a trajetória política do militante. A construção literária traz ao leitor uma perspectiva implacável da contribuição de um dos maiores intelectuais brasileiros ao processo da formação histórica brasileira.

Segundo Pericás, “O livro é fruto de uma pesquisa de seis anos, em arquivos públicos e privados. Recolhi depoimentos de mais de 70 pessoas e tive acesso a uma documentação vastíssima. Caio Prado Júnior era meu tio-bisavô e isso me ajudou a pesquisar nos arquivos de familiares, que fizeram a gentileza de abrir suas casas para que eu pudesse consultar documentos que não estão em nenhum outro lugar. Encontrei muito material inédito na casa de parentes meus: cartas, fotos, periódicos, documentos da polícia política etc.”.

Surpreso e emocionado pelo prêmio, o autor afirmou que se sente honrado pela indicação ao Prêmio Juca Pato, por tratar-se de um dos maiores prêmios concedidos à intelectualidade brasileira. O autor alega que o Prêmio “é também um tributo ao próprio Caio Prado Júnior, intelectual que sempre esteve presente nas lutas políticas e sociais de seu tempo ao lado dos setores populares, posicionando-se de forma intransigente contra todo tipo de autoritarismo e arbitrariedades ao longo da vida.  Uma justa homenagem a nosso maior historiador”.

 

Biografia amorosa

O historiador Luiz Bernardo Pericás conseguiu o que parecia impossível, dada a moda das hagiografias: escreveu uma biografia extraordinária de um historiador que, de alguma maneira, também era um pensador do Brasil, na seara de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro e Raymundo Faoro. “Caio Prado Júnior — Uma Biografia Política” (Boitempo, 485 páginas) é um estudo exaustivo e de clareza ímpar da trajetória política e intelectual de Caio Prado Júnior.

Pós-doutor em ciência política, Luiz Bernardo Pericás faz, por assim dizer, uma biografia amorosa — o que não quer dizer sentimental — de um intelectual notável e um homem de mérito. Expõe suas virtudes políticas e de pesquisador, exibindo também suas contradições, em profunda conexão com o contexto em que viveu o autor dos clássicos “Formação do Brasil Contemporâneo” — em boa hora reeditado pela Companhia das Letras — e “Histórica Econômica do Brasil”.

Não se trata de uma biografia “do contra”. Mas o autor não se furta a publicitar as contradições do autor, identificando e distinguindo, milimetricamente, o historiador rigoroso e o militante político. Luiz Bernardo Pericás mostra que havia, em Caio Prado Júnior, a tentativa de unir o pesquisador criterioso — que não falsificava a história para torná-la instrumento político da ação imediata — e o militante político do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O balanço do biógrafo é amplamente favorável: Caio Prado Júnior era um intelectual e um militante político de rara decência e, ao mesmo tempo, competência.

Homem de família riquíssima, de porte aristocrático, Caio Prado Júnior optou por se envolver politicamente com a esquerda. Foi político, intelectual, militante, editor de livros. Mas nunca um tarefeiro manipulável, ao estilo de Marilena Chauí (que, como filósofa, tem inegáveis méritos, sobretudo como explicadora de Espinosa). Tanto que era visto com reserva pelos camaradas.

Sobre o autor

Luiz Bernardo Pericás é formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP, pós-doutorado em Ciência Política pela Flacso (México), onde foi professor convidado e pelo IEB/USP.  Foi, também, Visiting Scholar na University of Texas at Austin e Visiting Fellow na Australian National University, em Camberra.  É autor de vários livros, como Mystery Train (São Paulo, Brasiliense, 2007) e do romance Cansaço, a longa estação (São Paulo, Boitempo, 2012; adaptado recentemente para o teatro), entre outros.  Recebeu a menção honrosa do Prêmio Casa de las Américas em 2012 por seu livro Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica (São Paulo, Boitempo, 2010; Havana, Editorial Ciencias Sociales, 2014).  Ganhador do Prêmio Ezequiel Martínez Estrada, da Casa de las Américas (2014), pelo livro Che Guevara y el debate económico en Cuba (Nova Iorque, Atropos Press, 2009; Buenos Aires, Corregidor, 2011; Havana, Fondo Editorial Casa de las Américas, 2014).  Traduziu obras de Slavoj Zizek, James Petras, Christopher Hitchens, Jack London, John Reed e José Carlos Mariátegui.  Seus trabalhos foram publicados em diferentes países, como Argentina, Peru, Itália, Espanha, México, Estados Unidos e Cuba.  Seu livro mais recente é Caio Prado Júnior: uma biografia política.  É professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo

Troféu Juca Pato

O troféu foi criado em 1962, por iniciativa do escritor Marcos Rey. É uma réplica do personagem criado pelo jornalista Lélis Vieira e pelo ilustrador e chargista Benedito Carneiro Bastos Barreto, conhecido pelo pseudônimo de Belmonte (1896-1947). O Prêmio Intelectual do Ano não é um prêmio literário, mas uma láurea conferida à personalidade que, tendo publicado livro de repercussão nacional no ano anterior e que tenha se destacado em qualquer área do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento e prestígio do País.

Segundo o regulamento, a tesouraria da entidade faz uma solicitação por escrito, indicando um autor que tenha publicado uma obra repercutida no ano anterior, de conteúdo relevante para o pensamento e a cultura nacional. A carta que justifica a indicação estará sujeita à aprovação de, no mínimo, 30 associados da UBE. Não é necessário ser associado da UBE para concorrer ao prêmio.

Desde sua fundação, o Troféu Juca Pato é uma das mais importantes premiações intelectuais do Brasil. O Prêmio já contemplou autores renomados, como Jorge Amado (1969), Juscelino Kubitschek de Oliveira (1975), Sérgio Buarque de Holanda (1979), Carlos Drummond de Andrade (1982), Cora Coralina (1983), Fernando Henrique Cardoso (1984) e Antonio Candido (2008), dentre outros. Alguns dos contemplados com o Troféu Juca Pato foram o cientista político e historiador brasileiro, Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, o embaixador, Samuel Pinheiro Guimarães, o jornalista Audálio Dantas e o cientista político Luiz Carlos Bresser Pereira.

 

LEIA AS REPERCUSSÕES DESTE LANÇAMENTO ENTRE INTELECTUAIS:

Por Bernardo Ricupero

A trajetória de Caio Prado Júnior se confunde com a do Brasil do século XX. Como importante personagem de nosso país, muito já se escreveu sobre ele. Ainda assim, vários aspectos de sua vida e de seu pensamento foram pouco explorados ou discutidos. Detalhes de suas relações políticas, leituras, viagens aos países socialistas e avaliações sobre alguns temas candentes de sua época permanecem desconhecidos do grande público. A biografia política escrita por Luiz Bernardo Pericás, um estudo de fôlego sobre o intelectual paulista, vem a suprir essa lacuna.

Quando Caio Prado Júnior morreu, em 1990, não houve grande impacto. O que talvez não fosse de estranhar: devido ao mal de Alzheimer, estava, havia algum tempo, recolhido. Mais importante, faleceu quando o curso do mundo parecia desmentir suas teses. O muro de Berlim caíra apenas um ano antes e o neoliberalismo não era efetivamente questionado naqueles tempos. Desde então, muito mudou; a América Latina passou pelo que foi chamado de uma “onda vermelha”; viveu-se o boom das commodities e seu ocaso; o capitalismo enfrenta, há alguns anos, uma grave crise. Ironicamente, as voltas que a história dá dotaram a obra do historiador marxista de uma surpreendente atualidade, contribuindo para o grande interesse demonstrado por ela nos últimos tempos. Até porque o maior motivo de sua inquietação continua a nos atormentar: se o Brasil se constituiu como colônia para produzir bens demandados pelo mercado externo, em completa desconsideração por aqueles que os produzem, esse ainda é o principal problema que enfrentamos hoje.

O grande mérito da biografia política que nos apresenta Luiz Bernardo Pericás é precisamente demonstrar que o Caio Prado Júnior historiador é indissociável do Caio Prado Júnior militante político. Em outras palavras, a opção que o jovem de família aristocrática tomou, decepcionado com os rumos da Revolução de 1930, de aderir ao Partido Comunista do Brasil (PCB) norteou o restante de sua vida e obra, sendo significativamente esse o momento que Pericás escolheu para abrir o capítulo 1 de seu livro, sugerindo que o que veio antes foi para Caio uma espécie de prólogo. A partir daí, já como marxista, buscou unir teoria e prática, sendo exemplos disso a Editora Brasiliense e a Revista Brasiliense, empreendimentos práticos embasados na teoria, e, principalmente, seus livros, trabalhos teóricos voltados para a prática política. Neles soube, como ainda é incomum, usar o marxismo como método para interpretar as vicissitudes de uma formação social particular, a brasileira.

Assim, mesmo que o mundo do historiador marxista não seja mais o nosso, o impressionante trabalho de pesquisa de Caio Prado Júnior: uma biografia política ­– em que seu biógrafo consultou uma vasta bibliografia, pesquisou em inúmeros arquivos e realizou diversas entrevistas – é capaz de trazer seu personagem mais próximo de nós.

“O livro de Luiz Bernardo Pericás sobre a trajetória do Caio Prado Júnior traz novas e surpreendentes perspectivas para a compreensão da vida e do papel desse grande intelectual, o mais importante historiador brasileiro do século XX. Marxista, filho de família oligárquica paulista (com a qual rompeu), tornou-se conhecido pelas obras-chave que escreveu para o deciframento de nossa sociedade. Nesta densa biografia, baseada em documentos (em sua maioria inéditos), entrevistas e vasta bibliografia, surge um outro Caio Prado, em suas relações com o PCB e com outros intelectuais marxistas (ou não). Suas leituras, viagens (para União Soviética, China e Cuba, por exemplo), prisões e sua visão sobre temas como reforma, revolução, socialismo, questão agrária e o Brasil em perspectiva histórica constituem referência decisiva para a esquerda neste país tão desencontrado. “Muito atrasado…”, segundo Caio.” – Carlos Guilherme Mota

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“Este livro é o tipo de história que, depois das lutas e derrotas de seu personagem, consola o historiador por sua investigação em ampla bibliografia e em fontes inéditas. Mas brinda o leitor com a narrativa da trajetória de alguém que emerge por inteiro através de suas relações políticas e intelectuais. Eis a biografia de uma época!” – Lincoln Secco

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“Em Caio Prado Júnior: uma biografia política, o historiador Luiz Bernardo Pericás expõe com um estilo rigoroso e cativante a trajetória do pensador que lutou uma vida inteira para que o Brasil superasse seu complexo de inferioridade.” – Mauricio Puls, Folha de S. Paulo