A muralha
A Cristina Ruth Agosti
Pra fazer esta muralha,
tragam-me tôdas as mãos:
os negros, suas mãos negras,
os brancos, as brancas mãos.
Ai,
alta muralha que vá
desde a praia até o monte,
desde o monte até a praia, bem,
lá, lá sôbre o horizonte.
– Tum, tum!
– Quem é?
– Uma rosa com seu cravo…
– Abre a muralha!
– Tum, tum!
– Quem é?
– O sabre coronel…
– Fecha a muralha!
– Tum, tum!
– Quem é?
– A paloma e o laurel…
– Abre a muralha!
– Tum, tum!
– Quem é?
– O escorpião e a centopeia…
– Fecha a muralha!
Ao coração do amigo,
abre a muralha,
ao veneno e ao punhal,
fecha a muralha;
mas ao dente da serpente,
fecha a muralha;
ao rouxinol numa flor,
abra a muralha…
Ergamos nossa muralha,
juntando tôdas as mãos;
os negros, suas mãos negras,
os brancos, as brancas mãos.
Alta muralha que vá
desde a praia até o monte,
desde o monte até a praia, bem,
lá, lá, sôbre o horizonte…
Livro: Antologia Poética
Autor: Nicolás Guillén
Seleção e Adaptação: Ary de Andrade
Editora: Leitura