Fundações debatem governos progressistas, golpe e alternativas para o Brasil
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Os presidentes das fundações falaram ao Portal Grabois sobre a importância desse encontro e dos resultados que se espera obter do debate.
O presidente da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, Manoel Dias, considera fundamental reunir representantes de partidos de esquerda para o debate de crises políticas como essa que se aprofunda no Brasil. Ele descreve esse momento que o país vive como uma das etapas mais difíceis “com tantas denúncias de corrupção contra um presidente da República que deixa a população perplexa e atônita”. “Então, é fundamental que os partidos que têm responsabilidade e compromisso, e parceria com o setor popular, discutam e façam o debate das causas que têm levado o Brasil a sofrer periodicamente golpes de estado”. Para Dias, essa reunião das três fundações possibilita travar com a população o debate no sentido de incluí-la, e “com ela programar e projetar uma resistência no sentido de garantir a continuidade do regime democrático”.
O presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann, considera que a experiência dos três partidos no Governo que vigorou entre 2003 e 2016, trouxe um conjunto de resultados muito positivos para a população. Mas ele concorda que foi uma experiência de governo, “obviamente”, com contradições e problemas. Essas contradições, em sua opinião, passaram a ser mais significativas para o Brasil, desde o golpe de 2016.
“Ao mesmo tempo, temos uma conjuntura de perspectiva de futuro que pode ser muito alvissareira para esses mesmos partidos, portanto, essa discussão interna e esse debate fraterno visa justamente reafirmar posições e avaliar o passado, mas, sobretudo, ter uma visão de conjunto sobre o futuro”, destacou ele, referindo-se à avaliação positiva que tem crescido na população sobre os governos progressistas, em contraste com a profunda rejeição ao governo golpista.
Unidade em torno da vontade de reconstruir o Brasil
Na opinião do presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, a oficina cumpriu os objetivos perseguidos: foi o inicio de um debate que produza o conhecimento mútuo entre as três fundações, em particular no terreno das ideias. “É preciso conhecer de perto o que cada fundação, do PT, PDT e PCdoB, pensam. É preciso que a gente tenha uma base de ideias. Isso é um ponto inicial”, defende Renato.
Para ele, a oficina foi um exercício do pensamento crítico e o passo agora é dar curso a isso. “A oficina é feita em função do enriquecimento desses temas, que deve culminar com um seminário”.
Numa primeira fase, Renato considera natural que haja ainda uma heterogeneidade de ideias e até mesmo de visões. De acordo com sua análise, as convergências existem no sentido de buscar uma saída e uma alternativa para que a gente busque um outro caminho para o nosso país, para enfrentar essa realidade gerada pelo golpe que está destruindo a nação. “Nisso há uma grande unidade, entusiasmo e elã nessa busca de saídas. Dentro dessa busca de caminhos e alternativas tem pontos que podem ser unificados, já nessa fase inicial”.
Renato destacou que a crise impõe a procura de saídas, nos leva a reunir e buscar convergências. “Todo mundo compreende hoje que, buscando uma unidade maior em torno das ideias, das posições e das saídas, é um grande passo que a esquerda dá”.
Durante o debate, Renato afirmou que, em um país como o Brasil, “ganha prioridade para seu desenvolvimento nacional, a salvaguarda da soberania e da autonomia na condução da política econômica”. Ele avaliou que, nos governos progressistas do último período, passos foram dados nessa direção.
Renato pregou a necessidade de construção de uma frente ampla, em defesa de um novo projeto nacional de desenvolvimento para o país. Para ele, a bandeira nacional não é a bandeira da burguesia, e cabe à esquerda, às forças progressistas defendê-la.
Segundo ele, o problema da desigualdade social só será resolvido com desenvolvimento nacional, soberano e autônomo. Na sua opinião, as condições para a superação da crise pós-golpe dependem da capacidade da esquerda de reunir amplas forças políticas e sociais. “Não vejo como sair disso, sem uma frente ampla que leve em conta questões como a restauração da democracia, a salvação nacional, a reconquista dos direitos sociais e uma saída para a crise”, disse.
Renato também concorda que há um caldo de cultura que favorece a esquerda. “O povo vai tomando consciência cada vez mais sobre o que esse golpe trouxe. E hoje abomina-se Temer. Isso é essencial para nossa resistência abrir caminho. O centro da convergência é ‘Fora, Temer’. E aí entra a exigência da soberania popular, que é fundamental, o voto é a única saída para começar a resolver as coisas. Portanto, estamos com instrumentos importantes nas mãos”, discursou.
Debate avançado
Foram três mesas conectadas entre temas de análise do passado, do presente e do futuro. A primeira mesa sobre Legado e lições dos ciclos dos governos Lula e Dilma, o sindicalista Artur Henriques expôs representando a Fundação Perseu Abramo, o jornalista Fábio Palácio apresentou as posições do PCdoB e da Fundação Maurício Grabois sobre o balanço dos governos e o historiador Wendel Pinheiro representou o ideário trabalhista do PDT. Cada mesa contou com seis debatedores, dois de cada fundação.
A segunda mesa analisou, basicamente, o momento em que se encontra a esquerda, diante do desmonte promovido pelo pós-golpe. A economista ligada à Fundação Perseu Abramo, Ana Luíza Matos de Oliveira, começou o debate, seguida de Haroldo Lima, do PCdoB, e Ronaldo Nado Teixeira, do PDT.
Debatendo o futuro do país, a terceira mesa tinha como tema “Caminhos e alternativas para tirar o Brasil da crise e se reencontrar com a democracia, o Estado de Direito, o desenvolvimento e o progresso social”. Participaram pela Perseu Abramo: Marco Aurélio Garcia, pela Maurício Grabois: Ronaldo Carmona, e pela Leonel Brizola – Alberto Pasqualini: Mauro Benevides Filho. Todos sinalizaram os pontos que acreditam ser o centro de uma estratégia para a retomada do desenvolvimento econômico do país.