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A 60ª edição do Prêmio Jabuti reverenciou o poeta amazonense Thiago Mello com o prêmio “Personalidade Literária”, em reconhecimento ao conjunto de sua obra (75 livros), conhecida internacionalmente e traduzida para mais de 30 idiomas. A cerimônia de premiação foi realizada nesta quinta-feira, 8 de novembro, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, quando foram conhecidos os vencedores das 18 categorias bem como o ganhador do Livro do Ano do Prêmio Jabuti 2018. O mestre de cerimônias foi o apresentador Serginho Groisman. Thiago de Mello é membro do Conselho Consultivo da Fundação Maurício Grabois. 

Mello tem 92 anos e não pôde viajar a São Paulo para participar da celebração. Ele foi representado pela esposa Pollyana Furtado Lima e pelos filhos, Thiago Thiago de Mello e Patrícia. Ele já foi ganhador do prêmio Jabuti, na categoria Poesia, em 1997, com De uma vez por todas (Ed Civilização Brasileira, 1996), e em 1999, com Campo de Milagres (Bertrand Brasil, 1998), além de ser finalista do prêmio em 2014, com Acerto de Contas (Global, 2013).

Em seu discurso, Patricia disse que a família Mello está trabalhando para tombar as casas projetadas para Thiago de Mello por Lúcio Costa, o urbanista que idealizou Brasília ao lado de Oscar Niemayer. São as únicas casas que Costa construiu na Amazônia. 

Thiago Thiago, que é músico, tocou versões de poemas de seu pai:

“Uma alegria imensa, uma emoção única e um orgulho sem tamanho, como filho, leitor de poesia e artista e professor brasileiro, representar meu pai – que é meu grande amigo de infância, de tantas histórias e aventuras vividas juntos – numa noite tão bonita como essa. Eu estive com ele há alguns dias na floresta amazônica e ele me pediu que agradecesse à Câmara Brasileira do Livro por essa homenagem. Eu gostaria de lembrar que as palavras têm muitos dons e poderes: elas podem nos transformar como pessoas, iluminando nosso mundo interior; podem transformar a realidade em que vivemos, na idealização de uma sociedade mais justa e solidária, e, mais que tudo, elas têm a capacidade de deixar gravadas para sempre suas marcas na pele do tempo, servindo como fonte inesgotável de amor, coragem e verdade para aqueles que buscam se aproximar da ideia sagrada do BEM. Sabendo ou intuindo isso, meu pai se doa por inteiro em tudo o que faz, em tudo que escreve”, disse ele, durante o agradecimento ao Prêmio Jabuti 2018.

 O Poeta da Floresta foi mais uma vez enaltecido pela grande contribuição à literatura brasileira. “Thiago de Mello é um poeta de valor inigualável. Partiu do Amazonas e ganhou o mundo. Ainda jovem, representou o Brasil em outros países da América Latina, tornou-se amigo de poetas seculares, conviveu com a ditadura, voltou para o Brasil, sem nunca deixar de se preocupar com o outro, com a Amazônia, com a política. O Prêmio Jabuti e a Câmara Brasileira do Livro sentem-se honrados em homenagear este generoso e grandioso poeta com ‘Personalidade Literária’, diz Luis Antonio Torelli, presidente da CBL.

Thiago de Mello nasceu no município de Barreirinha, no Amazonas. Ainda criança, mudou-se com a família para Manaus, indo depois para o Rio de Janeiro estudar Medicina, profissão que abandonou para seguir seu destino de poeta. Do Rio de Janeiro para o mundo. Thiago foi adido cultural na Bolívia e no Chile, exilado político na América Latina e na Europa. Voltou ao Brasil com a abertura política e foi morar no Amazonas, de onde continua a escrever.

Amigo de Pablo Neruda, do arquiteto Lucio Costa, de Carlos Drummond de Andrade e de outras figuras públicas conhecidas, o poeta amazonense é ligado a questões ambientais, políticas e humanitárias. É autor de “Os Estatutos do Homem”, poesia que fala da esperança, da fé e dos valores humanos; de “Faz Escuro Mas Eu Canto”, livro de poemas que, treze anos após sua criação, foi transformado em show com direção de Flávio Rangel e apresentado em mais de 10 capitais brasileiras e, posteriormente, adaptado para uma peça sinfônica pelo maestro Claudio Santoro. Outros poemas do autor são: “Narciso Cego”; “A Canção do Amor Armado”; “Horóscopo para os que Estão Vivos”; “Num Campo de Margaridas”, entre outros.

Na prosa, o autor discorre sobre temas variados, como “A Estrela da Manhã, Estudo de um poema de Manuel Bandeira”, “A Arte e Ciência de Empinar Papagaio”, “Notícia da Visitação que fiz no Verão de 1953 ao Rio Amazonas e seus barrancos”, entre outros.

Suas obras foram premiadas por diversas entidades literárias importantes. Em 1960, a Academia Brasileira de Letras laureou-o com o Prêmio Nacional de Poesia Olavo Bilac. Em 1972, a Sociedade Brasileira de Escritores conferiu-lhe o Prêmio Livro do Ano. Três anos depois, sua obra “Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida” ganhou o Troféu APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Em 1997 e em 2000, foi reconhecido com Prêmio Jabuti, pelas obras “De Uma Vez por Todas” e “Campos dos Milagres”. Em 2004, seu livro “Amazonas: no Coração Encantado da Floresta” ganhou Prêmio da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil).

Ao longo de sua vida, traduziu obras do chileno Neruda (“Antologia Poética de Pablo”, “Versos do Capitão”, “Caderno de Temuco”, “Presente de Poeta”); do americano T.S. Eliot (“A Terra Devastada e os Homens Ocos”); do nicaraguense Ernesto Cardenal (“Salmos”, “A Vida no Amor”); do cubano Eliseo Diego “Debaixo dos Astros”), entre tantas outras.

A filha Isabella Thiago de Mello, pesquisadora da vida do pai, prepara para publicação o Dossiê Thiago de Mello (Ed Projetos Especiais), volume de 888 páginas sobre a vida e a obra do poeta. Com isso, Isabella foi convidada a criar um roteiro para filme ou documentário de Lucy e Luiz Carlos Barreto, narrando sua relação com a Amazônia e suas andanças pelo mundo na luta poética por direitos humanos e democracia. A pesquisadora debruçou-se durante quatro anos sobre documentos da Fundação Biblioteca Nacional e o Acervo Thiago de Mello da Universidade Federal do Amazonas, além de acervos pessoais de Pomona Politis e do próprio pai. 

Premiados

Prêmio literário mais prestigiado do país, o Jabuti anunciou sua lista de premiados. São dez concorrentes em cada uma das 18 categorias indicados pela CBL. Entre os destaques estão nomes como Lucrécia Zappi por “Acre” (Todavia) e João Silvério Trevisan com “Pai, pai” (Companhia das Letras), na categoria Romance; Lilia Schwarcz, com “Lima Barreto: triste visionário “, e Artur Xexéo, colunista do GLOBO, com “Hebe: a biografia” (Editora Best Seller), em Biografia; e Djamila Ribeiro, com “O que é lugar de fala” (Letramento), Humanidades.

O poeta cearense Mailson Furtado Viana é o grande vencedor do Livro do ano no 60º Prêmio Jabuti, com o livro de poemas “à cidade”, uma publicação independente. Viana foi aplaudido de pé pela plateia. Este ano, o Jabuti reduziu o valor da inscrição de autores independentes. O Livro do Ano recebe R$ 100 mil reais. 

“à cidade” foi também diagramado por Viana, que desenhou até a capa do livro.

–  Esse prêmio abre uma janela para o mercado editorial enxergar a literatura que se faz sozinha, independente –  disse Vianna ao receber o prêmio. – Eu sou de um estado onde todos os meus amigos pagam para ser publicados. O mercado precisa abrir os olhos para esses autores que escrevem com qualidade, mas não publicam mais porque não tem espaço, porque tem que se bancar.  (O Jabuti) não é meu. É nosso.

Viana também venceu na categoria poesia.

O escritor Rubem Braga, morto em 1990, venceu o 60º Prêmio Jabuti na categoria Crônicas. Ele dividiu, postumamente, o troféu com André Seffrin e Gustavo Henrique Tuna, organizadores do livro “O poeta e outras crônicas de literatura e vida” (Global).

A escritora Carol Bensimon venceu a categoria mais disputada do Jabuti com seu romance “O clube dos jardineiros de fumaça” (Companhia das Letras). A primeira premiada da noite foi Maria Fernanda Elias Maglio, que venceu pelo livro de contos “Enfim, Imperatriz”, publicado pela editora independente Patuá. O autor independente Mailson Furtado Viana venceu com seu livro de poemas “à cidade” — este ano, o Jabuti reduziu o valor da inscrição de autores independentes.

Na categoria Tradução, houve empate. Fábio Bonillo, de “O macaco e a essência” (Biblioteca Azul), do inglês Aldous Huxley, dividiu o Jabuti com Geraldo Holanda Cavalcanti, de “Poemas” (Edusp), uma antologia do italiano Giuseppe Ungaretti. 

Luiz Eduardo Anelli e Rodolfo Nogueira levaram o Jabuti de melhor livro infantil e juvenil por “O Brasil dos dinossauros” (Marte Cultura e Educação). O mais aplaudido pelo público foi Marcelo D’Salete, que venceu a categoria Quadrinhos com o álbum “Angola Janga” (Veneta).

O escritor Fernando Gabeira não compareceu à premiação, mas venceu na categoria Humanidades com o livro “Democracia tropical” (Estação Brasil). O romance “Fim” (Companhia das Letras), da atriz Fernanda Torres levou o Jabuti de “Livro Brasileiro Publicado no Exterior”, categoria instituída este ano.

Em relação ao ano passado, a lista da principal categoria, Romance, apresentou uma diversidade maior de gênero e de editoras. Em 2017, a Companhia das Letras emplacou sete dos dez finalistas, contra quatro nesta edição. Já o número de escritoras finalistas deste ano subiu para quatro, contra apenas duas da última premiação.

Para Luís Antonio Torelli, presidente da CBL, esse equilíbrio se deu em grande parte pelas mudanças realizadas no formato este ano, que envolveram um enxugamento das categorias. Outra razão, segundo Torelli, é a digitalização total nas inscrições. Até o ano passado, as editoras precisavam enviar por correio cinco exemplares de cada título. Agora, são enviados via PDF.

“Em tempos de crise, isso baixou o custo para as editoras menores se inscreverem”, diz Torelli. “Alguns editores me disseram que sem essa mudança não teriam conseguido enviar seus livros”.

Nesta edição do Jabuti as categorias estão divididas em quatro eixos: Literatura, Ensaios, Livro e Inovação. Os vencedores receberam R$ 5 mil cada. Houve ainda o prêmio de Livro do Ano, no valor de R$ 100 mil.