FMG cria Cátedra Claudio Campos para estudar pensamento nacional do desenvolvimento brasileiro
Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois, explica que, atualmente, a Fundação possui “duas linhas fundamentais de estudo e pesquisa voltadas para o desenvolvimento teórico, tendo em vista o enriquecimento do pensamento político e da luta de ideias do PCdoB”, que é um dos papeis centrais da Fundação previstos na sua constituição.
A primeira linha, detalha Renato, tem três eixos fundamentais: “1) O sistema capitalista contemporâneo – capitalismo financeirizado/globalizado, mais a indústria 4.0 – suas tendências, suas alternativas e suas formas (novas) de dominação; 2) A luta por uma alternativa socialista em nossa época, que denominamos de uma Nova Luta pelo Socialismo; sobretudo considerando o estudo sobre a transformação do “socialismo de mercado” na China, classificado por nós como uma nova Formação Econômico-Social, e quais as lógicas que regem seu movimento (evolução). 3) As lutas antiimperialistas, antineocolonias e suas caracteristícas e alternativas nos países da periferia e semi-periferia do sistema internacional; e as lutas e alternativas contra a oligarquia monopolizada financeira e empresarial nos países centrais do capitalismo”.
Já, a segunda linha, é voltada para o debate desses desafios no contexto brasileiro. Isso, envolve “o estudo e pesquisa permanentes que levam em conta o desenvolvimento da formação política, econômica e social do Brasil; no momento atual, a instalação do governo Bolsonaro, seu caráter e o que representa e a sua perspectiva no curso político. No âmbito mundial, as profundas e aceleradas transformações que marcam a evolução do sistema internacional neste início do século 21”, explica Rabelo.
É nesta segunda linha de pesquisa que se insere a criação da Cátedra Cláudio Campos, “que é uma homenagem ao destacado dirigente e fundador do Partido Pátria Livre, recém incorporado ao Partido Comunista do Brasil”, diz Renato Rabelo.
Para estruturação dessa cátedra foi escolhida para sua Coordenação-Geral, a dirigente do Comitê Central do PCdoB e membro da direção da FMG Rosanita Monteiro de Campos . A Cátedra contará com um corpo de pesquisadores e docentes, tendo como titular o camarada professor, Nilson Araújo de Souza.
Para falar um pouco mais do trabalho que será desenvolvido na Cátedra, o site da FMG entrevistou a sua coordenadora, Rosanita Campos.
FMG: A Fundação Maurício Grabois está criando um espaço de estudo e discussão sobre o pensamento nacional desenvolvimentista brasileiro, que irá se chamar Cátedra Cláudio Campos. Como surgiu essa iniciativa e quais seus principais objetivos?
Rosanita Campos: Com a exitosa incorporação do PPL ao PCdoB e a integração concretizada nos diferentes organismos partidários, também ao nível das Fundações partidárias isso aconteceu. Nessa medida, eu e o professor Nilson Araújo de Souza passamos a fazer parte dos quadros dirigentes da Fundação Maurício Grabois a convite do Presidente da FMG, camarada Renato Rabelo e dos demais dirigentes da FMG. Nilson na Diretoria e eu no Conselho Curador.
A ideia de constituir a cátedra Cláudio Campos veio dos camaradas Renato Rabelo, Fábio Palácios e Júlio Velloso, muito bem recebida por nós e por todos os egressos do PPL. Para mim, que fui casada com o Claudio e com quem tive duas filhas, Ana Claudia e Maíra, ambas jovens militantes do PCdoB, essa iniciativa dos dirigentes da Fundação Maurício Grabois foi também uma grande emoção.
Claudio foi Secretário Geral do MR8 e fundador do Jornal Hora do Povo e, ao lado do camarada Sérgio Rubens, dedicou toda sua vida ao estudo da experiência da construção do socialismo e ao estudo sobre o Brasil. Havendo chegado à definição de que a questão nacional era o centro da luta democrática em nosso país, recuperou a teoria e a experiência nacional-desenvolvimentista como um importante instrumento da Revolução Brasileira.
O principal objetivo da cátedra é estudar e discutir o pensamento e a teoria nacional-desenvolvimentista desde seu surgimento a partir da década de 1930 aos dias atuais, levando em conta o contexto e a realidade brasileira hoje, atualizando esse pensamento, para que o partido se aproprie desse legado na formulação e aprofundamento dos caminhos da revolução brasileira, particularmente proporcionando subsídios para a atualização do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.
Como serão conduzidos os esforços teóricos para estudar e atualizar o pensamento nacional desenvolvimentista? Há autores e pensadores, em particular, que serão utilizados como referência nesses estudos?
Uma comissão composta pelos Professores Júlio Velloso, Nilson Araújo de Souza e Lécio Morais discutiu e apresentou uma excelente proposta aprovada pela direção da FMG quanto aos objetivos e o funcionamento da Cátedra que resumo em seguida:
I. Objetivos centrais propostos para a cátedra:
a) Contribuir para que a Fundação e o Partido se apropriem do pensamento nacional-desenvolvimentista brasileiro, tanto o marxista quanto o não marxista, tanto aquele de autores que já morreram quanto o de intelectuais que permanecem ativos.
b) Oferecer subsídios para as elaborações partidárias, com destaque para o debate programático do próximo congresso, visando à atualização do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, bem como ao fornecimento de subsídios para a elaboração do programa a ser apresentado pela candidatura do Partido à Presidência da República em 2022.
II. Primeiras atividades propostas:
a) Direção temática da série de aulas da plataforma EAD da FMG que dizem respeito a Interpretes do Brasil ligados à economia do desenvolvimento, sobretudo os de inspiração nacional-desenvolvimentista. Já foram gravadas aulas sobre Ruy Mauro Marini e Ignácio Rangel; há outras em encaminhamento.
b) Edição de três livros com textos (tanto teóricos quanto históricos) sobre o nacional-desenvolvimentismo brasileiro: um com textos de teóricos clássicos, outro com textos de interpretes dos interpretes, ou seja, de autores que analisam os clássicos e outro com textos atuais.
c) Realização de um seminário permanente para debater o pensamento nacional-desenvolvimentista com a participação de intelectuais desenvolvimentistas (tanto do Partido quanto convidados), bem como desenvolver pesquisas sobre essa temática; debater também a relação entre nacional-desenvolvimentismo e socialismo.
d) Constituição de um grupo de trabalho voltado à elaboração e fornecimento de subsídios ao debate programático do próximo Congresso do Partido, visando à atualização do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, bem como a elaboração do programa a ser apresentado pela candidatura do Partido à Presidência da República em 2022.
Traremos para o debate a obra dos que lideraram ou participaram da implementação de programas inspirados no nacional-desenvolvimentismo, como Getúlio Vargas, João Goulart. Euzébio Rocha, Miguel Arraes; obras de autores do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), como Nelson Werneck Sodré, Alberto Guerreiro Ramos, Álvaro Vieira Pinto; autores como Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Caio Prado Junior, Ignácio Rangel, Ruy Mauro Marini; textos atuais de Claudio Campos, Renato Rabelo, Haroldo Lima, Sérgio Rubens Torres, Nilson Araújo de Souza, Carlos Lopes, entre outros.
Na sua avaliação, qual é o papel estratégico de uma fundação partidária, como ela pode contribuir com a luta de ideias e fortalecer as estruturas políticas para buscar a transformação da sociedade?
O papel de uma Fundação partidária é muito importante, especialmente para um partido como o PCdoB que trabalha permanentemente empenhado na formação de seus militantes e na luta de ideias internamente e na sociedade, assim como entre os formadores de opinião em várias áreas na academia e em todo o país. A Fundação Maurício Grabois tem cumprido papel relevante em apoiar o partido nesse trabalho, especialmente no âmbito da promoção e aporte à luta de ideias na sociedade tão prioritária para o PCdoB. Seminários, Colóquios, Cursos Presenciais e através da Plataforma EAD, a Escola Nacional de Quadros João Amazonas, as publicações de obras teóricas e literárias fundamentais pela Editora Anita Garibaldi, o Centro de Documentação e Memória, a Revista Princípios, a realização e promoção de pesquisas, entre outros, são instrumentos com que a FMG tem contado para a promoção de estudos, pesquisas e divulgação da linha do Partido. Nosso objetivo é que esse trabalho cresça ainda mais. Agora agregamos a Cátedra Claudio Campos entre esses instrumentos fundamentais num momento em que os caminhos para “libertar o Brasil e construir o socialismo”, como dizia o Claudio, se delineiam em nossos horizontes.
No momento em que o mundo passa por uma grave crise econômica, aprofundada agora com o surgimento dessa pandemia que coloca em xeque o modelo neoliberal do Estado, o esforço de buscar uma alternativa social, política e econômica ao capitalismo predatório ganha maior urgência. Como você vê esse cenário? Como a experiência da China desponta? Que ensinamentos pode-se extrair da economia política chinesa para compôr a construção dessa alternativa?
A crise econômica no mundo estava instalada e já era anunciada uma recessão quando surgiu a crise sanitária do coronavírus. A situação hoje está muito agravada e os Estados tiveram que abandonar sua cartilha neoliberal para enfrentar a pandemia. Os Estados, até os governados pela direita, ao contrário do que prega o neoliberalismo, tiveram que abrir mão de políticas de teto e cortes de gastos, aportar recursos aos seus sistemas de saúde para construir hospitais, comprar equipamentos e medicamentos e tentar salvar vidas, garantir com dinheiro público os salários dos trabalhadores em quarentena e desempregados, baixar ou zerar juros, liberar crédito a juro zero ou a fundo perdido para as micro, pequenas e médias empresas, em suma, estão fazendo o contrário do que faziam até aqui. A tese do estado mínimo dissolve-se. A Itália, país europeu mais gravemente atingido pelo coronavírus com milhares de mortos, cobrou ajuda da União Europeia que até agora não aconteceu. Os italianos estão se perguntando para que serve a União Europeia.
Não por acaso, a China socialista, primeiro país a sofrer com a pandemia, enfrentou de forma competente e corajosa o coronavírus, impedindo que ele contaminasse todo o país. Com rigoroso confinamento, rápidas e eficientes medidas tomadas pelo governo com base na ciência e no compromisso com a vida da população, superou e controlou a pandemia.
A solidariedade prestada pela China à Itália e a mais de 82 países de todos os continentes com a doação de equipamentos e o envio de médicos experientes comoveu a todos.
A experiência exitosa da China no combate ao vírus tornou-se referência mundial. Mas no Brasil o clã palaciano resolveu agredir o gigante asiático acusando-o de “culpado pela disseminação do vírus em todo o mundo”, o que foi corretamente enfrentado pela diplomacia e pelo governo chineses. Irresponsável, o clã esqueceu-se de que a China é o maior parceiro comercial do Brasil.
O mundo jamais será o que foi antes da crise. A China que há anos ocupa o segundo lugar entre as potências mundiais cresceu em importância e protagonismo na cena internacional. O mundo, para se recompor no pós crise, precisará muito da China e de sua indústria diversificada, de sua tecnologia avançada. Com o neoliberalismo falido, o capitalismo predador, os monopólios, terão muitas dificuldades para se reinventarem, pois é inevitável que os povos lutem.
Diante da pandemia do Coronavírus, é praticamente consenso entre economistas que o mundo pode entrar num cenário de recessão. No Brasil, em particular, esse quadro aponta para medidas que vão atingir ainda mais a população mais pobre, como já vemos pelas decisões recentemente anunciadas pelo governo. Como você projeta esse cenário e quais suas maiores preocupações?
Nos 98 anos do PCdoB, em tempos difíceis de coronavírus e de Basta de Bolsonaro, estou certa de que a proposta de Frente Ampla pela Democracia e em Defesa da Vida, uma Frente de Salvação Nacional, é o que pode unir a todos contra a insanidade e a irresponsabilidade do aspirante a ditador que está no Planalto e que aposta no caos ansioso por dar um golpe.
Nunca o nosso povo e o país precisaram tanto do PCdoB, do vigor e do compromisso revolucionário de seus dirigentes e de sua aguerrida militância e da Juventude. Preparamo-nos em condições adversas para a disputa eleitoral municipal em outubro de 2020 com candidaturas promissoras como a de Manuela Dávila em Porto Alegre, do Deputado Orlando Silva em São Paulo, do ex-ministro Brizola Neto no Rio de Janeiro e do camarada Wadson Ribeiro em Belo Horizonte entre outras. Nossa bancada de deputadas e deputados na Câmara Federal sob a liderança da Deputada Perpétua Almeida foi decisiva para a aprovação no Congresso da renda emergencial e tem sido protagonista de importantes conquistas que ajudarão nosso povo mais pobre e os trabalhadores a enfrentar a miséria e a fome causadas pela grave recessão que já assolava o Brasil com enorme desemprego e muito agravada agora com a pandemia do Coronavírus que Bolsonaro chama de “gripezinha”. O Governador do Maranhão, Flávio Dino, tem atuado com firmeza e de forma ampla para unir os governadores de todos os estados do Brasil no combate ao vírus e para impor limites à sanha genocida de Bolsonaro com excelentes resultados, e assim consolida a Frente Ampla pela Democracia em Defesa da Vida, uma Frente de Salvação Nacional e sua posição de grande líder nacional.
Cresce o isolamento do insano do Planalto. No momento em que em quase todos os países os governos repassam dinheiro para os trabalhadores garantindo os salários e aportam recursos para as micro, pequenas e médias empresas para reduzir o desemprego e ajudar o povo a atravessar esses momentos difíceis da necessária quarentena, Bolsonaro apresenta medidas para reduzir salários e suspender contratos de trabalho, ao mesmo tempo em que libera vultosos recursos para os bancos. Das janelas das casas da maioria dos brasileiros ecoam os gritos de “Fora Bolsonaro” ao som dos panelaços de indignação e revolta. A crise é grave e a situação do povo é dramática. As peças se movem no tabuleiro da luta patriótica e em defesa da nação ameaçada com rapidez e muita água ainda vai rolar em breve tempo. O Programa Nacional de Desenvolvimento é o caminho a ser trilhado pelo país. A Fundação Maurício Grabois através da Cátedra Claudio Campos dará sua contribuição nesse sentido. Cresce o papel e a importância do PCdoB no cenário nacional. Estou esperançosa, pois confio em nossos dirigentes, na nossa militância e no nosso povo.
Nosso partido não só teve um grande passado como tem um grande futuro. O Brasil precisa voltar a crescer e se desenvolver com distribuição de renda, democracia e soberania nacional. Como diz nossa presidente Luciana, firmes na luta, camaradas! Vamos em frente e vamos vencer!