O colunista do UOL, Rubens Valente, revelou que uma empresa de comunicação contratada pelo governo federal orienta como o órgão deveria lidar com um grupo de 77 jornalistas e “outros formadores de opinião” considerados influenciadores em redes sociais. As medidas propostas sugerem ameaças a jornalistas e influenciadores críticos ao governo e financiamento de outros que sejam favoráveis ao governo.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) foi uma das primeiras a se manifestar sobre o escândalo, manifestando sua preocupação com a integridade física e moral dos jornalistas e comunicadores listados como “detratores do governo Bolsonaro”.

Ela questionou por que o governo estaria usando dinheiro público para monitorar jornalistas. A encomenda da lista parece ter vindo do Ministério da Economia, pois faz referência apenas a críticas à atuação do ministro Paulo Guedes.

 

“A troco de que? Pra criar fake news e perseguir essas pessoas? Já vimos o que a base bolsonarista fez com @felipeneto tentando vincula-lo a pedofilia”, alertou a deputada, mencionando o modus operandi do “gabinete do ódio”, com profissionais dedicados a criar mentiras elaboradas que são disparadas por milhões de robôs e apoiadores do presidente. Essas mentiras costumam prejudicar e acuar as pessoas atacadas, pois acabam se tornando ameaças à integridade física, além da causar prejuízo à imagem da pessoa.

Depois, a deputada celebrou os nomes mencionados como detratores na tal lista, participando da hashtag #SomosTodosDetratores. A hashtag se tornou uma brincadeira em que todos esperam encontrar seu nome na lista de detratores. Por outro lado, nomes como dos jornalistas Milton Neves e Guilherme Fiuza são oficializados como chapa branca do governo na lista.

 

 

 

Mas não foi só a deputada que repercutiu negativamente o caso. Os jornalistas listados comentam o escândalo como uma prática típica de ditaduras e governos autoritários que não aceitam o contraditório ou o pensamento crítico.

Patrulhamento ideológico

Acompanhar o que meios de comunicação publicam sobre o governo é, em si, natural e necessário para geração de prontas respostas de eventuais equívocos publicados, mas o relatório exigido traz impressões direcionadas a profissionais, em específico.

O levantamento intitulado “Mapa de influenciadores”, que analisou postagens do mês de maio de 2020 sobre o Ministério da Economia e o ministro Paulo Guedes, foi produzido pela BR Comunicação. Ela tem um contrato com o MCTIC (Ciência e Tecnologia) que é aproveitado pelo ME por meio de um Termo de Execução Descentralizada de junho de 2020, no valor total de R$ 2,7 milhões, que inclui outros serviços de comunicação.

No sábado (28), o MCTIC se manifestou dizendo que “os esclarecimentos sobre esse assunto podem ser fornecidos pelo Ministério da Economia”. Já o ME respondeu que os “produtos de comunicação” são definidos no contrato pela Secom, a secretaria de comunicação da Presidência, “assim como é definido para todos os órgãos da administração direta”.

Por meio de nota na noite desta terça, a BR Comunicação afirmou que o uso do termo “detratores” foi um erro de processo e que foi corrigido pela empresa. “Nosso padrão de monitoramento, que é uma técnica comum e utilizada por todas as assessorias, utiliza as expressões “negativo”, “positivo” e “neutro”. Ela pediu desculpas ao cliente e aos influenciadores pelo mal entendido.”