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    Comunicação

    O “salve-se quem puder” instaurado por Bolsonaro na pandemia

    Em entrevista à equipe do portal Vermelho, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), falou sobre o cenário nacional e as perspectivas do Brasil, fazendo uma retrospectiva do ano de 2020 e seus desafios. Sobre a atuação do governo na pandemia, ele falou de sua preocupação com o “salve-se, quem puder” instaurado em relação às medidas […]

    POR: Redação

    7 min de leitura

    Entrevista do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), aos jornalistas do portal Vermelho.
    Entrevista do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), aos jornalistas do portal Vermelho.

    Em entrevista à equipe do portal Vermelho, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), falou sobre o cenário nacional e as perspectivas do Brasil, fazendo uma retrospectiva do ano de 2020 e seus desafios.

    Sobre a atuação do governo na pandemia, ele falou de sua preocupação com o “salve-se, quem puder” instaurado em relação às medidas sanitárias de todos os tipos, que levaram os governadores e prefeitos a fazerem “justiça com as próprias mãos”, sem poder esperar por uma resposta do Governo Federal. Agora, com a aproximação das vacinações, a preocupação continua, embora ele torça para que o Ministério da Saúde assuma suas prerrogativas nacionais nesse assunto.

    Para ele, Bolsonaro pode ser criticado por quase tudo, “menos por ser uma pessoa incoerente na insensatez”. Flávio o define como uma pessoa “coerente nos seus equívocos”, ou seja, “ele começa errando e continua errando até o fim”. Para isso, ele pontuou com os exemplos que se somam desde o início da pandemia. “É histeria, é gripezinha, não é problema meu, não vale nada, não precisa de nada, coisa de maricas, todo mundo vai morrer um dia, não sou coveiro, não estou nem aí para a vacina”, citou ele, as falas mais famosas de Bolsonaro durante a crescente de letalidade da doença.

    Assim, ele observa que há um fio condutor entre a primeira entrevista no exterior, quando o vírus ainda não chegara no Brasil, e ele disse que era uma histeria, com a tragédia atual, em que, mais uma vez, assiste-se o governo federal com dificuldade de exercer o papel que lhe cabe, constitucional e legalmente, ou seja, o de coordenação do pacto federativo para enfrentamento conjunto da pandemia.

    “Estabeleceu-se um salve-se quem puder no que se refere a luvas, máscaras, respiradores, medidas preventivas, e, agora, o salve-se quem puder em relação às vacinas vai se formando. Eu tenho lutado contra isso. Eu continuo defendendo o plano nacional de imunização, porque isto é o certo. Não podemos fragmentar o Brasil. Imaginemos criar migração de pessoas entre os estados em busca de vacinas… não é desejável!”, indignou-se.

    Como governador, ele diz que tem feito dois movimentos: primeiro cobrar que o governo federal faça o que tem que fazer, que é exercer o comando do plano nacional de imunização. A lei 6259, de 1975, fixa as obrigações da União em gerenciar o plano nacional de imunização. “São 45 anos em que ninguém nunca discutiu isso, mas o Bolsonaro é espantoso! Como eu disse: coerente em sua insensatez. Ninguém nunca quis ficar com as atribuições do Ministério da Saúde, porque o plano nacional é o correto”.

    Flávio lembra que foi feito um pacto entre o governo federal e os governadores em 20 de outubro, mas Bolsonaro rasgou o pacto e disse que quem mandava era ele, e desautorizou o ministro da saúde. “A partir daí, cada um vai buscar um caminho. O [governador de São Paulo, João] Dória tem dinheiro e o Butantã em São Paulo, uma instituição do Brasil, mas pertencente administrativamente ao governo de São Paulo. Fez um acordo, está comprando [vacinas] e vai ser condenado por isso. A meu ver, não deve”, opinou.

    No caso do Maranhão, o governador entrou com ação judicial no Supremo Tribunal Federal, para ter autorização de comprar vacina diretamente, inclusive do Butantã. “Porque se o plano nacional de imunização não andar, temos uma espécie de plano B. Este é o sentido da movimentação que fiz e de outras que temos feito para garantir que possamos com nossos meios”.

    “Se o governo federal continuar nessa confusão sem fim, vai se instalar o salve-se quem puder. Luto para que isso não ocorra, participo de reuniões com o governo federal, converso sobre isso, mas vamos ver…”, diz ele, cauteloso.

    Em sua opinião, reina, nesse momento, uma grande insegurança quanto a isso. Ele pretende continuar acompanhando o que acontecerá, inclusive no que refere a decisões do Supremo e do Congresso Nacional. Se Bolsonaro não consegue coordenar seu governo para comprar vacina, ele acredita continuar conseguindo nos outros poderes, decisões que possam levar o Brasil a ter um plano nacional rápido e eficiente. “Se não, vamos ter vários planos estaduais, inclusive do Maranhão”, antecipou.

    A baixa mortalidade no Maranhão

    Levantamento do consórcio da imprensa observa que dos nove estados do Nordeste, só o Maranhão não apresenta aceleração de mortes nos últimos dias. Ele apontou o que o governo do Maranhão tem feito para garantir estes resultados e evitar uma segunda onda de contágios e como tem funcionado a integração entre os governos do Nordeste para reagir conjuntamente a uma nova crise intensa do coronavírus.

    Ele contou que os governos nordestinos continuam a conversar conjuntamente no âmbito do Consórcio do Nordeste, assim como, em cada estado, há também comitês científicos. “Este diálogo entre os profissionais da área e aqueles que têm a responsabilidade de adotar os caminhos tem garantido boas decisões”, afirmou.

    No caso do Maranhão, observa ele, tem havido transparência e investimento em rede. Ele conta que ampliou a rede de saúde, chegando a inaugurar 13 unidades de saúde em doze semanas, no auge da pandemia. Aumentou em 30% a 40% dos gastos com saúde, durante a pandemia. “Hoje, temos uma oferta de rede de atendimento bastante ampla. Notamos uma melhoria da qualidade do manejo desses casos pelos profissionais de saúde com a curva de aprendizado dessa situação nova”.

    No hospital de referência para Covid-19, Carlos Macieira, ele diz ter ouvido o diretor contar que faz oito dias que não morria uma única pessoa desta doença. “Chegamos a ter dez óbitos em um dia, neste hospital, o que mostra que há um aprimoramento e qualificação dos profissionais”, analisa.

    Mas ele diz que não está acomodado com o que fez. Acabou de autorizar turnos ininterruptos de 24 horas e sete dias na semana para inaugurar uma obra hospitalar em janeiro, em vez de fevereiro. “Estou sendo prudente, porque se vejo que o mapa do Brasil está ficando todo revelador de trajetória de crescimento, tenho que me preparar para o pior. Nunca parei de inaugurar obra de saúde, desde abril”, garante o governador maranhense.

    Flávio Dino fez um depoimento pessoal ao confessar o esforço para salvar vidas. “Deus é testemunha do meu esforço desesperado, obstinado, noites e noites que fiquei sem dormir atrás de leito, imaginando como requisitar hospital, como fazer parceira com  setor privado. Aluguei três UTIs aéreas para ficar voando, cortando o Maranhão, transportando paciente de um lado para outro. Consegui UTIs móveis, ambulâncias do setor privado. Conseguimos um resultado que não é perfeito, mas reconhecido nacionalmente como sério”, declarou.

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