De Olho no Mundo
A vitória trabalhista nas eleições parlamentares da Noruega possibilitará a formação de uma ampla aliança de esquerda para assumir o governo do país nórdico. Esse é um dos destaques da análise internacional de Ana Prestes junto com as eleições primárias da Argentina, a morte do líder guerrilheiro peruano Abimael Guzmán, o avanço das negociações entre o Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica, o encontro entre os presidentes Putin, da Rússia, e Assad, da Síria e o pronunciamento de Michele Bachelet, presidente do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre os ataques de garimpeiros brasileiros contra povos Yanomami e Munduruku.
O Partido Trabalhista da Noruega conquistou o maior número de representantes nas eleições da Noruega que se deram ontem (13). Foram eleitos/as os/as 169 representantes do Storting, parlamento do país, na capital Oslo. Uma coalizão liderada pelos trabalhistas tem todas as condições de formar uma larga maioria. Dois partidos aliados do Partido Conservador não cumpriram os 4% de votos da cláusula de barreira e assim impedem que a aliança centro-direita se mantenha com a maioria. Os conservadores dirigem o país desde 2013, com dois mandatos da conservadora Erna Solberg. O grande tema das eleições foi a questão do que fazer com o petróleo. O país é o maior produtor europeu. O Partido Verde, potencial aliado dos trabalhistas, propõe o cessar da exploração do petróleo. Os trabalhistas querem uma meta para iniciar a redução da indústria petrolífera a partir de 2035. Os primeiros partidos com quem Jonas Gahr Stoere, líder dos trabalhistas, vai conversar são o Partido do Centro e a Esquerda Socialista. Junto a outros partidos, a aliança de centro-esquerda pode chegar a 100 assentos, hoje possuem 81. A indústria do petróleo representa 14% do PIB norueguês, ocupa 40% de todas as exportações nacionais e emprega 160 mil pessoas (fonte: RFI). A Noruega é hoje um dos países mais ricos do mundo, graças ao petróleo e o gás do Mar do Norte. Estão pressionados pelos compromissos multilaterais de combate às alterações climáticas.
A Argentina realizou no final de semana seu PASO – Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias – que preparam as eleições de 14 de novembro deste ano. Além do ou da presidente, neste dia se elegerão 24 novos senadores/as (são 72 no total) e 127 deputados/as (são 257 no total). O governo Fernandez e sua coalizão Frente de Todos não se saíram bem no PASO. Perderam em 17 dos 24 distritos do país. Houve também muita abstenção que junto com os votos em branco e nulos somam 38,45% dos habilitados para votar. A oposição centrou sua campanha nos distritos com maior peso e na província de Buenos Aires. A ex-governadora de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, derrotada nas eleições de 2019, alcançou os votos para concorrer pela capital em novembro. A votação foi bem apertada na província de Buenos Aires com 38% para o Juntos e 33,6% para a Frente. O Juntos por el Cambio, oposicionista, também ficou bem em Córdoba, Jujuy, Santa Cruz, Chaco e outros. Outra chapa oposicionista, La Libertad Avanza, também conseguiu projeção. Na cidade de Buenos Aires surpreendeu a votação do ultradireitista Javier Milei com 13% dos votos.
Faleceu no sábado (11), no Peru, o líder histórico do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, aos 86 anos. Morreu no cárcere onde cumpria prisão perpétua. Guzmán era professor de filosofia quando iniciou atividades de insurgência contra o governo peruano na década de 1980. Defendia uma revolução camponesa via luta armada. O Sendero Luminoso já existia desde os anos 1960 quando Guzmán se integrou ao grupo. Como já era de se esperar, a morte de Guzmán impactou no governo recém empossado de Pedro Castillo. Qualquer gesto do novo presidente é utilizado pela oposição fujimorista para tentar implicá-lo como associado ao Sendero Luminoso. Frente a isso, o governo Castillo está advertindo que qualquer iniciativa de homenagens póstumas a Guzmán será considerada como apologia ao terrorismo com previsão de pena de até 4 anos de prisão. Por isso, os restos mortais do guerrilheiro estão em pauta para que se decida sobre o seu destino, quando, pela lei, essa decisão deveria caber somente à família. A esposa de Guzmán, Elena Iparraguirre, também era integrante do SL e está encarcerada. Ainda assim, cabe a ela a decisão sobre o destino do marido. Ambos foram presos em 1992.
O Irã vai permitir que a agência nuclear da ONU faça manutenção nas câmeras de monitoramento das instalações nucleares iranianas. A informação é do chefe da AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica – Rafael Grossi. Esta aproximação faz parte das conversas que buscam o reavivamento do acordo nuclear com o Irã de 2015, abandonado pelos EUA durante a gestão Trump. A imprensa americana criticou duramente o acordo e diz que Biden está “vendido” para uma reativação do acordo nuclear com o Irã. Enquanto isso, circulam informações de um think tank americano, o Instituto para Ciência e Segurança Internacional, com a mesma sigla do grupo terrorista ISIS, de que em aproximadamente um mês o Irã terá urânio enriquecido em quantidade suficiente para a produção de armas nucleares e o governo Biden está internamente pressionado para reagir. O novo presidente iraniano Ebrahim Raisi está conduzindo a política nuclear do país a um ponto em que os EUA precisarão baixar a guarda para negociar. O embaixador da Rússia na IAEA, Mikhail Ulyanov, se pronunciou ao dizer que o acordo alcançado com relação às câmeras de monitoramento é técnico mas muito importante, pois constrange as especulações sobre as atividades nucleares do país.
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Síria, Bashar al-Assad, se reuniram ontem (13) em Moscou. Um dos pontos do debate foi sobre o terrorismo e segundo Putin, “ainda existem bolsões de resistência por parte de terroristas que controlam certos territórios”. No entanto, nas palavras de Assad em declaração conjunta com Putin, “nossos exércitos, posso constatar, deram uma enorme contribuição para proteção de toda a humanidade desse mal (terrorismo)”. Os dois governantes ainda sublinharam que as relações comerciais e econômicas entre os dois países cresceram 250% apenas na primeira metade de 2021. (fonte: Sputknik).
Outro encontro desta semana foi entre o presidente egípcio Abdel Fattah Sisi e o premiê israelense Naftali Bennet. Primeiro encontro deste nível entre os dois países em 10 anos. Após o encontro, Bennet disse que o Egito possui um papel significativo para a “manutenção da estabilidade de segurança na Faixa de Gaza” (qual estabilidade??? questionamento inevitável desta autora das Notas). Em maio, o Egito mediou um cessar-fogo entre Israel e o Hamas que governa Gaza.
Ecoa internacionalmente e em especial na América Latina que enquanto o Brasil chega a 21 milhões de infectados pelo coronavírus, o presidente Bolsonaro admite não ter tomado nenhuma vacina contra o vírus. Ele ainda admitiu que já pode ter sido infectado pela segunda vez, de acordo com exames IGG. As declarações de Bolsonaro chocam o mundo poucos dias antes do presidente brasileiro abrir a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.
O Brasil também foi citado na recente reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Durante a abertura do encontro, a presidente do Conselho, Michelle Bachelet, disse estar alarmada com “os recentes ataques contra membros dos povos Yanomami e Munduruku por garimpeiros ilegais na Amazônia”, além das “tentativas de legalizar a entrada de empresas em territórios indígenas e limitar a demarcação de terras indígenas”. O Brasil tem sido denunciado ao TPI – Tribunal Penal Internacional – por genocídio e crimes contra a humanidade por conta da situação dos povos indígenas. Bachelet também informou que seu escritório na ONU está preocupado com “a nova proposta de legislação antiterrorista no Brasil que inclui disposições excessivamente vagas e amplas que apresentam riscos de abusos, particularmente contra ativistas sociais e defensores dos direitos humanos”.
Em El Salvador estão marcadas mobilizações para amanhã, 15 de setembro. Mais de 32 entidades da sociedade civil estão unificadas para protestar pela restituição do Estado de Direito no país e para defender a democracia. Pelo menos três medidas do governo de Bukele têm provocado fortes reações na população: a entrada em vigor da lei do Bitcoin, o aval à reeleição imediata e a reforma da lei da carreira jurídica. Um dos pontos de encontro para a saída da marcha será a Universidade de El Salvador, com concentração de estudantes, ambientalistas e indígenas, em outros pontos estarão as feministas, os sindicalistas e outros setores que somam mais de 30.