Festival Vermelho debate desafios da comunicação em tempos de ódio e o combate à desinformação
Em meio às comemorações do centenário do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na noite desta sexta-feira (25), o Teatro Popular Oscar Niemeyer foi palco do debate “Florescer a Esperança: desafios da comunicação em tempos de ódio e desinformação”.
Mediado pela secretária nacional de Comunicação do PCdoB, Renata Mielli, e pela mestra e doutora em ciência da literatura Dani Balbi, o debate contou com a presença do professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Sérgio Amadeu, do deputado federal pelo PCdoB-SP, Orlando Silva, do editor-executivo do portal The Intercept, Leandro Demori, da jornalista e ex-deputada federal Manuela D’Ávila e da diretora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Suzy dos Santos.
Durante o debate, o tema do combate à máquina de ódio e fake news no processo eleitoral de 2022 e dos desafios da luta pela democratização das comunicações tomou o centro da discussão. O deputado federal Orlando Silva, relator do Projeto de Lei das Fake News, ressaltou o caráter internacional da luta pela regulamentação da internet. Orlando também citou limites que não podemos abandonar, bandeiras históricas dos setores progressistas nessa luta, como a liberdade de expressão, o direito à privacidade e a presunção de inocência.
“Como enfrentar o desafio de uma regulação que seja global? A operação da internet é transnacional por natureza. A internet não é um território sem regras, ela tem regras fixadas pelo mercado em escala mundial. Precisamos pensar numa perspectiva internacionalista. O debate sobre a regulação na internet vai nos expor a determinados debates políticos, éticos e de valores. Existem garantias individuais que são fundamentais que sejam preservadas para o bem da democracia”, defendeu o deputado.
A jornalista e ex-deputada federal Manuela D’Ávila defendeu que o campo progressista, de esquerda, precisa avançar na questão do uso das ferramentas de comunicação, para não ser refém das mesmas mídias de que foi refém no passado.
“Temos que voltar a debater e organizar as nossas ferramentas de comunicação. Como ter um governo do nosso campo, refém dos mesmos meios de comunicação que nos trouxeram aonde estamos?”, defendeu.
A comunista foi firme em colocar a necessidade de não cair nas armadilhas dos setores reacionários e a necessidade de o campo progressista ter sua própria agenda de debates:
“Temos que mostrar quem nós somos, falar menos sobre o que eles falam e mais sobre o que nós queremos falar. Nós somos o terror deles, porque nós acreditamos num mundo completamente diferente do mundo deles.”
O editor-executivo do The Intercept defendeu a urgência de regras para o setor da comunicação. Segundo Demori, “a comunicação é um setor da economia e, como tal, precisa de regras”. O jornalista fez questão, porém, de ressaltar que as regras não tratam de censura prévia ou controle de conteúdo, mas cobrou responsabilidade dos meios de comunicação.
O jornalista valorizou o debate realizado no centenário do PCdoB como sendo um espaço que organiza e une pessoas que discutem essa mesma questão. Demori acredita que espaços como esse são fundamentais para a virada necessária.
“Esse é um espaço importante para juntar pessoas que estão pensando essa mesma questão e unir essas peças. Desde as eleições de 2018, e a gente viu isso também em 2020, ocorreu uma fragmentação, inclusive no entendimento da importância da organização em rede social, do levantamento de informações e recursos para fazer a luta política na internet. Uma coisa que a gente já tinha notado, uma deficiência que existia há muito tempo. E por causa de debates como esse, estamos conseguindo recuperar terreno e, espero que este ano seja o ano da virada com relação a isso. É possível e necessário recuperar tempo nesse processo. Todo mundo aprende, todo mundo consegue aprender, e espero que essa virada aconteça este ano.”
A professora Suzy dos Santos lembrou que “o discurso de ódio sempre esteve presente como pauta na cultura nacional”. A diretora da ECO/UFRJ defendeu que a decisão de regular a comunicação “é fundamental para haver democracia no Brasil”. Já o professor Sérgio Amadeu lembrou o livre fluxo de comunicação e defendeu a formação de coletivos digitais pelo campo progressista.
“O difícil não é falar, o difícil é ser ouvido. O duro é atrair a atenção das pessoas. Estamos enfrentando o fascismo na era digital. Não podemos deixar os fascistas dominarem as redes. Precisamos de coletivos digitais, de norte a sul do país, para combater a desinformação”, defendeu.