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Discurso de Adalberto Monteiro no Foro de São Paulo

29 de junho de 2023

O presidente da Fundação Mauricio Grabois, Adalberto Monteiro, esteve presente na sessão de abertura do seminário “A integração latino-americana e caribenha e os desafios dos governos de esquerda e progressistas” realizado no XXVI Encontro do Foro de São Paulo.

O XXVI Encontro do Foro de São Paulo será realizado de 29 de junho a 2 de julho, em Brasília, sob o tema: “Integração regional para avançar na soberania latino-americana e caribenha“.

Na manhã desta quinta-feira (29/06), o presidente da Fundação Mauricio Grabois, Adalberto Monteiro, esteve presente na sessão de abertura do seminário “A integração latino-americana e caribenha e os desafios dos governos de esquerda e progressistas” realizado no XXVI Encontro do Foro de São Paulo.

Confira abaixo o discurso de Adalberto Monteiro

Bom dia, companheiros, companheiras, camaradas,

Sejam todos/as bem-vindos/as ao 26º Encontro do Foro de São Paulo

Agradecemos a todos/todas pela presença neste seminário, que a Fundação Maurício Grabois tem a honra de tê-lo organizado, conjuntamente com a Fundação Perseu Abramo, isto já há várias edições anteriores do FSP. E o tema dos trabalhos, como já anunciado, é a integração latino-americana e caribenha e os desafios dos governos de esquerda e progressistas da nossa região.

O projeto e a luta pela integração latino-americana e caribenha atravessam séculos. Integração essa que, desde os primórdios de nossas nações até a atualidade, é sabotada e bloqueada, inicialmente pelo colonialismo e, depois, pelo imperialismo. Aqui, no entanto, jogamos nosso olhar, de relance, apenas para as últimas três décadas.

Depois de árdua jornada de lutas e mobilizações contra a destrutiva avalanche neoliberal, arquitetada pelo Consenso de Washington, emergiram, desde final dos anos 1990, épicas vitórias político-eleitorais que resultaram num elenco de governos  democráticos e populares, compromissados com a soberania nacional em nossa região.

Floresceu, então, a partir de 1998, um ciclo progressista antineoliberal no qual avançou o processo de integração solidária entre os países e, ao mesmo tempo, foi rechaçada a investida neocolonialista dos Estados Unidos, configurada no projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) lançando em 1994.

Daqui podemos enxergar e ouvir o, então, presidente da Venezuela Hugo Chávez, em novembro de 2005, na 3ª Cúpula dos Povos na Argentina, dizer: “Mar del Plata é o túmulo da Alca.”

Em 2004 já ganhara vida, em Havana, a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA). Em 2008, aqui em Brasília, erguia-se a fundação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). E, dois anos depois, no México, foi criada a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) um bloco regional intergovernamental composto por 33 países.

Obviamente, diante deste cenário que confrontava a doutrina Monroe, que este ano completa 200 anos, o imperialismo estadunidense maquinou uma contraofensiva, apoiando-se, como sempre fez, nos setores entreguistas e reacionários das classes dominantes de vários países. Golpes de Estado de novo tipo, com o uso do lawfare, da guerra híbrida e cultural, da violência policial e de milícias, derrubaram governos democráticos. E, além disso, o imperialismo estadunidense impôs um bloqueio criminoso contra a Venezuela e manteve, agravando-o ainda mais, o ignominioso bloqueio contra Cuba.

Em vários países, a democracia foi mutilada, a soberania nacional aviltada e um receituário neocolonial e ultraliberal resultou em estagnação e recessão econômica, tragédia social. E, por óbvio, o processo de integração sofreu retrocessos, inclusive na prática, com o esvaziamento e a paralisia da Unasul. Tal retrocesso sentimos na carne e na alma, por exemplo, na época da pandemia quando faltou solidariedade entre os países

 que poderia ter salvado muitas vidas.

No entanto, fruto da resistência democrática, patriótica e popular, da jornada de lutas, em vários países, como Brasil, Bolívia, Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela e Cuba, houve, nos últimos anos, vitórias importantes das forças progressistas. A situação ainda é instável, pois o imperialismo e setores das classes dominantes locais prosseguem em suas ações para desestabilizar governos democráticos. Hoje, contudo, temos um cenário promissor.

O tema integração voltou com força na 7ª Cúpula da Celac, realizada em Buenos Aires, em janeiro deste ano. Nela, houve o retorno do Brasil, que havia sido retirado dessa relevante Comunidade pelo governo da extrema-direita. E, também, pelo fato de, a convite do presidente Lula, terem participado, no último mês de maio, aqui em Brasília, de um encontro de alto nível os presidentes dos países da América do Sul.

Destes últimos 33 anos, desde a criação do Foro de São Paulo, podemos destacar duas grandes lições:

1) É preciso enfrentar, repelir e rechaçar as investidas do imperialismo estadunidense. Imperialismo esse que foi, é e será o grande inimigo da integração cooperativa e solidária latino-americana e caribenha.

2) A integração latino-americano e caribenha, sobretudo no contexto da geopolítica mundial e dinâmica das cadeias globais de produção, é parte indispensável de um projeto de desenvolvimento soberano de cada um dos países de nossa região. A integração, para prosperar, deve ter um conteúdo cooperativo, solidário; contribuir para reduzir as assimetrias do nível de desenvolvimento entres os países; e abarcar dimensões políticas, econômicas, sociais, culturais e ambientais. Institucionalmente, deve ser pactuada por Estados e governos, e impulsionada pelas organizações e os movimentos das sociedades, em especial do povo e da classe trabalhadora. Os partidos políticos têm, é claro, um papel especial de protagonismo na sua construção. E o Foro de São Paulo, por excelência, é chamado novamente a funcionar como um vetor impulsionador desse processo. As fundações e os institutos vinculados às legendas integrantes do Foro podem e devem contribuir para tanto, travando a lutas de ideias em prol da integração e realizando atividades de cooperação e intercâmbio, formando militantes, difundindo ideias em larga escala e lançando publicações que ajudem a iluminar os caminhos de tal processo.

O projeto da integração latino-americana e caribenha é desafiado na atualidade por uma nova realidade mundial conturbada e instável, sacodido pela guerra da Ucrânia maquinada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), braço armado do imperialismo. A globalização neoliberal – expressão da égide do capital financeiro e do rentismo – entrou em crise e busca se reconfigurar. Novamente, usa-se a velha receita do capitalismo em crise. E, sobre os ombros dos povos e da classe trabalhadora, joga-se o peso da crise. É negado à maioria dos países o direito ao desenvolvimento autônomo.

Desde o período da pandemia, ampliaram-se mais ainda o corte de direitos e o aumento da exploração da classe trabalhadora. Soma-se a isto, do ponto de vista político, a emergência ou persistência de forças da extrema-direita em vários países do mundo – inclusive aqui no Brasil –, em ataque à soberania nacional, à democracia, aos direitos do trabalho, sociais e civilizatórios. Acelera-se a transição no sistema de poder mundial em direção a um sistema multipolar, com o declínio relativo dos Estados Unidos da América e a ascensão da China Socialista.

Deste quadro mundial, importa sublinhar que, apesar das ameaças e da instabilidade, tal cenário fortalece as possibilidades de desenvolvimento soberano nos países não pertencentes ao centro capitalista. Além disso, favorece e pressiona para que avancem os processos de integração regionais.

Logo mais, na abertura oficial desta edição do Foro, teremos a honra de contar com a presença do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. De viva voz, dele ouviremos os compromissos da política externa de nosso governo com a integração latino-americana e caribenha, na defesa do desenvolvimento soberano de cada um dos países da região.

 Consideramos esta conduta de suma importância, em contraposição às ações do imperialismo estadunidense que freiam o desenvolvimento nacional, desindustrializam e desnacionalizam a economia e têm conduzido à espoliação financeira, à concentração de renda e à exclusão social. O Brasil reúne condições para realizar seu projeto nacional e reafirmar seu compromisso de integração solidária com os países sul,  latino-americanos e caribenhos.

Finalmente, destacamos que, na perspectiva de um mundo em transição, novos horizontes de avanços táticos poderão se abrir para os povos. A luta pela constituição de alternativas é a questão essencial do nosso tempo. Cabe às forças progressistas, revolucionárias e de esquerda saberem aproveitar esse contexto para deflagrar uma nova quadra histórica de avanços democráticos, pela soberania nacional e o progresso social. O desenvolvimento do socialismo com particularidades chinesas, que impressiona o mundo, junto a outros países socialistas, como Vietnã e Cuba, demonstra haver, sim, alternativas à classe trabalhadora e às nações contra o neoliberalismo e o imperialismo. Neste contexto, na América Latina e Caribe se avolumam as lutas e esforços de nossos povos, da classe trabalhadora, de governos progressistas para que nossa região seja um espaço de paz na qual prospere a integração solidária e o desenvolvimento soberano em harmonia com a proteção do meio ambiente e o respeito às diversidades culturais. Esta épica jornada latino-americana e caribenha, ao nosso ver, faz parte, com novos e singulares caminhos, da nova luta pelo socialismo que emerge no mundo.

Brasília, 29 de junho de 2023

Adalberto Monteiro

Presidente da Fundação Mauricio Grabois