Princípios 167: Em busca dos sentidos de Junho
Publicada pela Editora Anita Garibaldi, a revista Princípios (Qualis A3) é o periódico científico marxista mais antigo do Brasil. (ISSN:1415-7888; E-ISSN: 2675-6609)
Acaba de ser lançada a nova edição da revista Princípios 167
Dez anos após as manifestações de junho de 2013, políticos, intelectuais e ativistas ainda buscam um entendimento mais aprofundado sobre a natureza desse intrigante fenômeno. Movimento de grande amplitude e complexidade, o Junho brasileiro teve como característica marcante o pioneirismo no uso das redes sociodigitais como instrumentos para a formação de consensos e a coordenação das ações. Do ponto de vista da composição social, embora claramente protagonizado pela juventude urbana, reuniu grande diversidade de atores e perspectivas. Os protestos se espalharam pelo país e se desdobraram no tempo, abrangendo diversas etapas. Dependendo do lugar e do momento, atores e organizações de campos políticos diversos, e até opostos, se alternaram em sua linha de frente.
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Questão importante diz respeito à relação entre os acontecimentos de 2013 e o processo político posterior. É comum nos depararmos com a ideia segundo a qual a inflexão política vivenciada pelo país nos anos seguintes — com a erosão rápida e continuada da hegemonia da esquerda e a chegada ao poder do bloco liberal-conservador — teria como ponto de referência as Jornadas de Junho. Esse fato afigura-se surpreendente quando notamos que aquelas manifestações nascem sob a égide de bandeiras progressistas, relacionadas à luta contra as desigualdades e encampadas por movimentos referenciados na esquerda. Como explicar esse aparente paradoxo? Qual o significado político do maior ciclo de protestos do pós-redemocratização?
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Essas e outras questões tornam-se ainda mais proeminentes no momento em que o Brasil adentra um novo ciclo político, superando um período de autoritarismo e desconstrução de direitos, período este que parece ser, ao menos em parte, tributário das manifestações de junho. É necessário compreender as formas pelas quais os eventos de 2013 ajudaram a abrir caminho a um novo estágio do processo político brasileiro.
É com essa perspectiva que Princípios traz uma análise das motivações, das formas orgânicas, das reivindicações e propostas, bem como dos desdobramentos das revoltas de 2013. O dossiê “Sentidos de Junho” foca, de modo particular, as relações do movimento com o campo político. Trata-se de questão crucial, pois, como afirma Fábio Palácio no artigo que abre o dossiê desta edição, e que antecipa partes de seu livro sobre o tema, a ser lançado em agosto, “a chave para a compreensão das manifestações reside na luta política que se travava — e ainda se trava — na sociedade brasileira”.
Partimos do pressuposto de que o movimento abrigou desde sempre uma pluralidade de atores e perspectivas que fazem com que conserve, ainda hoje, certa abertura de sentidos. Para o entendimento dessa problemática são mobilizadas contribuições que examinam o episódio a partir de múltiplas perspectivas e de campos disciplinares diversos. As abordagens se ligam a variadas disciplinas das ciências sociais, incluindo a Sociologia e áreas correlatas, como a Ciência Política, a História, a Comunicação, a Filosofia, as Relações Internacionais e outras com igual potencial de desvendamento dos sentidos de Junho.
Esta edição de Princípios se completa com artigos sobre distintos temas, todos eles de grande atualidade: as múltiplas dimensões da obra do antropólogo Darcy Ribeiro; as relações entre os trabalhos do escritor romântico José de Alencar e seus posicionamentos políticos; a atuação do Foro de São Paulo, organização internacionalista de partidos progressistas e de esquerda latino-americanos e caribenhos cujo último encontro acaba de se realizar em nosso país; o funcionamento das altas castas do Judiciário brasileiro e sua relação com novas formas de patrimonialismo.
A revista traz ainda uma radiografia da situação atual do setor de energia eólica no Brasil, tema diretamente relacionado aos desafios do desenvolvimento sustentável. Uma resenha sobre o livro A favor de Althusser, de Luiz Eduardo Motta, e as já tradicionais recomendações de livros recém-lançados fecham a presente edição.
Desejamos uma boa leitura!
A Comissão Editorial