Por Osvaldo Bertolino

Há trinta e nove anos, em 22 de setembro de 1984, mais de seiscentos jovens participaram do ato de lançamento da União da Juventude Socialista (UJS), no Salão Nobre da Assembleia Legislativa de São Paulo. Segundo Renato Rabelo, ex-presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a UJS era “uma espécie de exigência” que os comunistas tinham desde a Anistia, de 1979. “A ideia de organizar as mulheres e a juventude era muito presente nas formulações de João Amazonas, o principal dirigente do PCdoB”, diz ele.

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Depois de uma série de consultas, chegou-se a uma definição sobre como seria a organização a melhor forma era dar a qualificação de “socialista” em vez de “comunista”, como era tradição. Segundo Renato Rabelo, a palavra “comunismo” estava poluída pela luta ideológica da classe dominante. Socialismo era mais adaptável, mais compreensível. “O socialismo era mais compreensível e não tinha essa carga toda, esse preconceito dos setores conservadores. Era uma forma de abarcar mais e ter maior influência na juventude”, afirma.

A tarefa prioritária da Coordenação eleita, liderada por Aldo Rebelo, seria preparar o 1º Congresso da UJS. No dia 6 de fevereiro de 1985, mais de 900 jovens estiveram no Ginásio do Tarumã, em Curitiba (PR), para a abertura do evento, que iria até o dia 10. O Congresso lançou as bases para a consolidação da entidade em âmbito nacional e sua transformação em uma grande organização de massas a serviço da luta pela democracia e o socialismo.

O passo seguinte seria a estruturação da UJS nos estados e municípios. Quando a UJS lançou a campanha com a reivindicação para que os jovens pudessem votar a partir dos 16 anos de idade, ela já era uma organização com raízes fundas em todas as regiões do país.

Aldo Rebelo disse que mesmo antes do lançamento a reivindicação já ganhava repercussão e despertava o interesse dos movimentos progressistas da juventude. O deputado federal Renan Calheiros (PMDB-AL), membro do Conselho Nacional da UJS, elaborou, a pedido da entidade, uma emenda que modificava o artigo 174 da Constituição, que limitava o direito de voto aos maiores de 18 anos.

Quando o ano de 1986 começou, toda a estrutura da UJS foi mobilizada para o seu 2º Congresso Nacional, marcado para os dias 31 de janeiro, 1º e 2 de fevereiro no Campus da Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória. A entidade fez um balanço do período transcorrido desde o 1º Congresso e concluiu que sua ação política e organizativa cumprira o planejado. A UJS estava instalada em todos os estados, possuindo catorze coordenações estaduais e núcleos formados, ou em formação, até no território do Amapá.

No 2º Congresso, a entidade reuniu mais de mil e trezentos delegados e observadores de todo o país. No dia da abertura, os jovens socialistas fizeram manifestação pela soberania nacional no centro de Vitória, denunciando a ação do Fundo Monetário Internacional (FMI) no Brasil e se solidarizando com a juventude mundial que lutava contra o imperialismo e por liberdade.

No segundo dia, houve uma plenária sobre a juventude e a Constituinte, um debate que contribuiu para a elaboração da plataforma da UJS com reivindicações próprias, que seria encaminhada ao governo federal e apresentada para o debate sobre a futura Constituição.

A Coordenação eleita no Congresso, encabeçada pelo ex-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Apolinário Rebelo – irmão de Aldo –, deveria prosseguir o trabalho de organização da juventude em escolas, bairros e cidades do interior, mobilizando as massas juvenis na luta por seus direitos e na campanha da Assembleia Nacional Constituinte.

A “Campanha Nacional pelo Direito de Voto aos Dezesseis Anos de Idade” foi aprovada na Terceira Assembleia Geral Ordinária da UJS, realizada no auditório da Universidade Federal de Sergipe, na cidade de Aracaju, em 13 de fevereiro de 1987. Todos os estados e territórios estavam representados.

Seis dias depois, em 19 de fevereiro de 1987, instalou-se o 3º Congresso da UJS na capital sergipana, que reelegeu Apolinário Rebelo para a Coordenação Geral. A força da UJS naqueles primeiros anos de sua existência foi demonstrada na Assembleia Nacional Constituinte quando um grupo de jovens socialistas se instalou no Congresso Nacional e obteve uma vitória extraordinária: a aprovação do voto aos 16 anos de idade.

Aprovada com 355 votos a favor e 98 contra, a decisão incorporou 5,7 milhões de jovens ao eleitorado, de acordo com cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o que representava mais do que os eleitores do presidente Jânio Quadros – eleito em 1960 com 5.636.623 votos. Os presidentes Eurico Gaspar Dutra (1945), Getúlio Vargas (1950) e Juscelino Kubitscheck (1955) conseguiram apenas 3. 251.507, 3.849.040 e 3.077.411 votos, respectivamente.

Eram os primeiros passos da UJS. Em 2014 escrevi o livro Amar e mudar as coisas, sobre seus trinta anos, aqui disponibilizado em PDF.