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Sustentabilidade: Machismo ambiental – crise climática não é neutra em termos de gênero

18 de outubro de 2023

Relatório da ONU mostra que mulheres são mais atingidas pelo aquecimento global

Já é bem sabido que a crise climática afeta decisivamente as populações mais pobres do planeta, em particular a população negra. A literatura especializada já possui até mesmo um conceito para esse fenômeno: racismo ambiental (leia mais sobre o racismo ambiental aqui).

Agora, um novo conjunto de informações mostra que, além da população negra, também podemos dizer que as mulheres são muito afetadas pelas consequências do aquecimento global. Ou seja, além do racismo ambiental existe também o machismo ambiental.

Um relatório da ONU publicado na última semana pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pela Universidade Queen Mary de Londres, e que foi divulgado pelo The Guardian, mostra que dos 119 países que publicaram planos para a crise climática, apenas 38 incluem o acesso a contraceptivos, serviços de saúde materna e neonatal e somente 15 fazem referência à violência contra as mulheres.

Esse relatório da ONU foi o primeiro a avaliar se planos climáticos priorizam a saúde sexual e reprodutiva. De acordo com o documento, o aumento das temperaturas tem sido associado a problemas de saúde materna e a complicações durante a gravidez, como diabetes gestacional. Além disso, o calor extremo tem sido associado ao desencadeamento de partos prematuros e ao aumento de natimortos.

Se é verdade o que traz o relatório da ONU, então os Estados devem preparar políticas públicas ambientais mais voltadas para a questão de gênero. Isso é o que defende uma das autoras do relatório, a conselheira do UNFPA, Angela Baschieri:

“Sabemos que as alterações climáticas afetam desproporcionalmente as mulheres e não são neutras em termos de gênero, por isso é necessário abordar essas lacunas e impactos. O clima está atrasando a luta pela igualdade de gênero. O nosso objetivo deveria ser que a política climática reconheça o impacto diferencial sobre as mulheres e o leve em consideração na concepção da política pública”.

O governo brasileiro precisa estar atento ao que diz o relatório. A notícia recente de que o importante Rio Negro, no Amazonas, passa por sua pior seca da história em razão do aquecimento global é um alerta nessa direção. Resta saber quais serão as consequências para as populações mais pobres e para as mulheres da região.

Theófilo Rodrigues é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UCAM. É membro do Grupo de Pesquisa sobre Transformação Ecológica e Diversificação Energética da Fundação Maurício Grabois.

Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.

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