Mobilização social impulsiona 1º ano do governo Lula a realizar o programa eleito
Seminário encerra demonstrando que os movimentos sociais estão à frente da luta para neutralizar as pressões do capital financeiro e da extrema-direita, determinados a impedir o governo de cumprir sua agenda com o povo.
O Seminário Primeiro ano do governo Lula: Balanço da reconstrução nacional e perspectivas encerrou-se no sábado (2), em São Paulo, com a quinta mesa “Mobilização do povo: Conquista de direitos, impulso ao desenvolvimento e combate à extrema-direita”. O debate girou em torno da capacidade que a sociedade, por meio de seus movimentos sociais, tem de rechaçar os ataques do neofascismo, neutralizar as pressões do capital financeiro e impulsionar o governo a realizar o programa com o qual foi eleito, principalmente diante das singularidades de um governo de frente ampla e dos confrontos com a extrema-direita mobilizada. Para este tema, contribuíram Diego Ferreira, diretor da UNE, o dirigente do MST, Marcio Santos e o presidente da CTB, Adilson Araújo, sob a coordenação de Rosanita Campos, diretora de Políticas para o desenvolvimento soberano, da Fundação Maurício Grabois.
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Avanços estudantis, luta da juventude trabalhadora
Diego Ferreira, diretor de políticas educacionais da União Nacional dos Estudantes (UNE) e estudante de História da UFV (Viçosa-MG) relembrou o contexto político que levou à eleição do atual governo, destacando a importância das massas na mobilização pela escolha de um governo progressista. Contudo, o dirigente ressaltou que, já em janeiro do ano anterior, a extrema-direita demonstrou sua resiliência, revelando que a luta pela democracia não terminava nas urnas.
A análise de Diego sobre o primeiro ano de governo destacou a resposta da sociedade às tentativas golpistas, evidenciada em amplas mobilizações populares em todo o país. O movimento estudantil, representado por Diego e outros militantes, desempenhou papel crucial na defesa da democracia, promovendo ações e reivindicações.
Entre as conquistas alcançadas, Diego destacou a revogação do novo ensino médio, resultado da mobilização do movimento secundarista. Além disso, ressaltou o papel fundamental das mobilizações para a aprovação da Lei de Cotas no ensino superior, marcando os 10 anos de sua implementação.
O orador enfatizou a importância das universidades na construção do desenvolvimento nacional, salientando avanços no Plano Nacional de Assistência Estudantil. Contudo, alertou para a necessidade de pressionar o governo para a aprovação do plano PNAES, que sofreu cortes durante o último governo.
Diego também abordou questões trabalhistas, evidenciando a precarização do trabalho enfrentada pela juventude, especialmente com a crescente “uberização”. Ele apontou a necessidade de políticas públicas que garantam direitos e oportunidades aos jovens trabalhadores.
Ao encerrar sua fala, Diego ressaltou a importância da mobilização pela justiça climática e social, destacando a atuação da UNE na COP em Dubai. Ele conclamou a sociedade a pressionar empresas responsáveis por danos ambientais, destacando casos recentes em Maceió e no Rio Grande do Sul.
A mensagem final de Diego foi clara: a mobilização social é fundamental para conduzir o país a políticas públicas mais progressistas. Em sua visão, é dever da sociedade pressionar o governo para que as ações estejam alinhadas aos interesses da população brasileira. A luta, segundo ele, não se restringe apenas ao campo político, mas abrange o mercado e a preservação ambiental.
Reforma agrária e desenvolvimento sustentável
Marcio Santos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), líder de assentamentos e originário de um assentamento da Reforma Agrária, fez uma análise crítica do governo Lula e delineou desafios e propostas para os próximos três anos de mandato.
Santos destacou a importância de discutir o atual cenário político brasileiro, afirmando que não é possível comparar o governo Lula com seus antecessores, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Ele ressaltou as diferenças fundamentais nas abordagens, destacando a ênfase do governo Lula na promoção da igualdade social e sua visão humanista e solidária.
“O governo Temer, golpista, era um governo entreguista, privatizador, que desregulamentou as leis trabalhistas e quase impôs uma reforma previdenciária. E o governo Bolsonaro é um governo da morte, da violência, anticivilizatório. O governo Lula é outra abordagem”, afirmou Santos.
O líder sem-terra destacou a necessidade de uma abordagem renovada para os próximos três anos do governo Lula, considerando as mudanças no contexto histórico e político brasileiro desde os governos anteriores do ex-presidente. Santos enfatizou a importância de recuperar o projeto nacional de desenvolvimento e implementar reformas estruturantes.
“Somente políticas públicas e políticas sociais não serão suficientes. É preciso recuperar o projeto nacional de desenvolvimento, com reformas estruturantes no seio da agenda governamental”, ressaltou.
O dirigente do MST destacou a importância da reforma agrária como parte integrante de um projeto nacional de desenvolvimento, enfatizando a necessidade de repensar o atual modelo do agronegócio. Santos alertou para os impactos ambientais do modelo agrícola atual, propondo uma transição para um modelo mais sustentável.
“Estamos exportando soja, algodão, estamos exportando minério de ferro. Isso não faz de um país das dimensões do Brasil um país de primeiro mundo. O que é preciso é retomar um projeto de industrialização”, defendeu Santos.
Ele também ressaltou a importância de repensar a urbanização brasileira, propondo a construção de assentamentos nas bordas das metrópoles, com foco em agroindústrias cooperadas que gerem empregos e contribuam para o desenvolvimento sustentável.
Santos ainda abordou os desafios e perspectivas para os próximos três anos do governo Lula. Destacou a importância da participação popular e do papel dos movimentos sociais na pressão ao governo para que as políticas necessárias sejam implementadas.
“Os setores urbanizados, a classe trabalhadora, os movimentos populares, as centrais, os partidos, têm que, nesses próximos três anos, construir uma agenda de participação via mobilização popular para tentar fazer com que o parlamento tenha a menor interferência possível nesse governo”, afirmou.
Ele também reforçou o compromisso do MST com o governo Lula, ressaltando a importância de uma cobrança saudável por parte dos movimentos populares. Ele enfatizou a necessidade de uma pauta propositiva por parte da bancada parlamentar progressista e a importância de evitar uma postura defensiva.
O coordenador do MST concluiu, destacando a relevância das eleições municipais como um termômetro para o pensamento social brasileiro e expressando a necessidade de avançar sobremaneira nos próximos anos para reconstruir o país.
Mobilização popular para garantir o programa do Governo Lula
Na discussão sobre o avanço da reconstrução nacional e as perspectivas para o Brasil, Adilson Araújo, presidente da Central das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Brasil (CTB), destacou quatro pontos fundamentais que permeiam o diálogo entre diferentes movimentos sociais e sindicais. Em uma fala profunda e abrangente, Araújo abordou temas como a mobilização popular, os avanços alcançados durante o ciclo mudancista e os desafios impostos pelo recrudescimento da extrema direita.
A discussão, que contou com a participação da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Movimento Sem Terra (MST), teve como foco central a luta pela conquista de direitos, a estratégia para o desenvolvimento, e a resistência contra a ascensão da extrema direita.
Adilson iniciou sua análise contextualizando o cenário brasileiro a partir do ciclo mudancista, destacando suas contribuições para a ascensão social e econômica da classe trabalhadora e ressaltou a importância de considerar o passado recente ao discutir a mobilização no Brasil. Ele enfatizou que o período pavimentou um horizonte de perspectivas positivas, especialmente durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva, destacando as políticas voltadas para o desenvolvimento das forças produtivas, o aumento da massa salarial e a promoção do desenvolvimento da força produtiva. Adilson destacou o papel estratégico da Petrobras, com ênfase na engenharia nacional e ressaltou avanços significativos, comencionando o pré-sal e a política de conteúdo local como marcos importantes nesse processo.
O dirigente sindical ressaltou que, ao final de 2014, embora o Brasil enfrentasse uma das menores taxas de desemprego, influenciado por movimentos como a Jornada de Junho, que, segundo ele, foi instrumentalizada por setores da direita, acabou promovendo um desgaste substancial à então presidente Dilma Rousseff.
A análise dele abordou o período pós-2014, marcado por retrocessos como a Emenda Constitucional 95, a reforma da previdência, a terceirização generalizada e o avanço da extrema direita. Ele destacou que o Brasil, então, se viu em uma encruzilhada política e econômica.
A pandemia de COVID-19 também foi um elemento crucial na discussão, apontando a falta de preparo do governo e os impactos na saúde pública e na economia. Foi um “ingrediente perverso”, evidenciando a insuficiência do governo no enfrentamento da crise. Ele destacou a necessidade de uma política de transição e criticou a postura negacionista que predominou no país.
Ao avaliar o atual cenário político, o presidente da CTB mencionou a importância da retomada do protagonismo do Brasil na política internacional, citando o papel de destaque do país na questão ambiental, o acordo com a União Europeia e a participação ativa no Mercosul.
Adilson salientou a necessidade de uma participação mais ativa na esfera midiática, buscando alternativas à concentração de poder em grandes empresas de comunicação. A comunicação e a disputa midiática destaca a importância de ampliar os espaços para vozes alternativas, afastando-se das tradicionais concessões para grandes conglomerados de mídia. Ele propôs uma maior presença nas redes sociais e uma revisão das concessões de mídia, visando dar voz a diferentes setores da sociedade. Ele ressaltou a necessidade de alterar o conservadorismo macroeconômico, buscando uma reindustrialização que contemple a transição para energias renováveis.
Ao abordar o cenário político atual, Adilson Araújo destacou o papel do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reconstrução do país. Ele elogiou as propostas do governo Lula para retomar o crescimento econômico, investir em setores estratégicos e promover a justiça social. Araújo concluiu afirmando que, diante dos desafios, é necessário fortalecer a unidade da esquerda, enfrentar a extrema direita e manter a esperança revolucionária na busca por transformações sociais significativas.
No encerramento, Adilson Araújo conclamou a unidade da esquerda e a mobilização popular para pressionar o governo em direção às mudanças necessárias. Ele reconheceu os desafios, mas expressou confiança na capacidade do movimento democrático de alterar a correlação de forças e superar os obstáculos impostos pelas classes dominantes.
(por Cezar Xavier)