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Pensadores Nacionalistas Brasileiros: quem foi o filósofo Roland Corbisier?

3 de dezembro de 2024
Em entrevista para o Portal da FMG, o professor Cristiano Capovilla apresenta o legado do filósofo Roland Corbisier.

Em entrevista para o Portal da FMG, o professor Cristiano Capovilla apresenta o legado do filósofo Roland Corbisier. Na foto, Roland Corbisier, primeiro diretor-executivo do Iseb

A Fundação Maurício Grabois (FMG), por meio da Cátedra Claudio Campos, lança nesta semana, em sua plataforma de EAD (https://grabois.eadbox.com/), o curso Pensadores Nacionalistas Brasileiros. São oito aulas sobre os grandes intelectuais nacionalistas do século XX oferecidas por especialistas do pensamento nacional-desenvolvimentista.

O curso trata de autores como Ignácio Rangel, Getúlio Vargas, Maria da Conceição Tavares, Celso Furtado, Nelson Werneck Sodré, Alberto Guerreiro Ramos, Álvaro Vieira Pinto e Roland Corbisier.

Leia mais: João Quartim de Moraes fala sobre o legado de Nelson Werneck Sodré

Para conhecermos um pouco do que estará disponível no curso, o Portal da FMG conversou com o professor Cristiano Capovilla, responsável pela aula sobre o filósofo Roland Corbisier. Na entrevista, Capovilla fala sobre a importância do curso e apresenta um pouco do legado de Corbisier. A marca de Corbisier, avalia Capovilla, “foi a descoberta do marxismo e do leninismo como condição incontornável para a construção da autonomia política, econômica e cultural da nação brasileira”.

Confira abaixo:

Cristiano, a FMG lançará na semana que vem o curso Pensadores Nacionalistas Brasileiros. Na sua opinião, qual a importância de conhecermos esses pensadores?

No atual momento político por qual passamos, em que termos como “nação”, “desenvolvimento” e “nacionalismo” por vezes aparecem como sendo correlatos somente ao léxico das forças da direita ou mesmo da extrema-direita, é de fundamental importância demonstrar que é exatamente o contrário, isto é, que estas expressões só adquirem plenamente sentido quando interpretadas e abordadas sob o âmbito das forças democráticas, progressistas e de esquerda. Isto ocorre porque esses conceitos dizem respeito ao conteúdo político em que habitam as questões do poder, da economia e da cultura da comunidade nacional, sendo, portanto, do interesse da maioria dos cidadãos do país, que são os trabalhadores, situando-se no escopo da luta de classes e do destino coletivo de todos nós.

Estes pensadores, ao estudar, expor e desvendar rumos para o desenvolvimento do Brasil, constituíram uma consciência política coletiva em que reconhece-se que para romper as pesadas correntes da dependência política, econômica e cultural que nos prendem aos desígnios impostos pelas grandes potências é necessário superar o próprio sistema colonialista das ideias. Isso implica propugnar pensamentos autônomos, próprios à nossa formação social, capazes de resolver nossos próprios problemas. Portanto, ao resgatar os Pensadores Nacionalistas Brasileiros, a Fundação Maurício Grabois permite as condições para refinarmos nossa capacidade de compreensão para além do que aparece, orientando a reflexão à essência dos conceitos, permitindo a distinção do pseudo-nacionalismo da extrema-direita e dos neofascistas das de filósofos, sociólogos, historiadores, políticos e cientistas comprometidos com a transformação social do Brasil. A meu ver, o resgate desses pensadores brasileiros é um grande ganho analítico para as questões políticas atuais que enfrentamos.

Você é o responsável por dar a aula sobre o filósofo Roland Corbisier. Quem foi Corbisier?

Roland Cavalcanti de Albuquerque Corbisier (1914-2005), foi filósofo, professor, deputado, primeiro diretor-executivo do Iseb e um dos seus idealizadores. Corbisier incorporou como poucos as ideias que animavam o nacional-desenvolvimentismo dos anos 1950 e 60, principalmente nos governos Juscelino Kubitschek e João Goulart. Participou ativamente dos debates no Instituto, principalmente os que orbitavam em torno do tema do desenvolvimentismo nacional em seus aspectos conceituais e ideológicos.

Nessa época elaborou a ideia de que o Brasil, em que pese sua independência política, ainda estava submetido, no âmbito da divisão internacional do trabalho e do saber, a uma espécie de “estatuto colonial”. Tal condição de subalternidade não incluía apenas a esfera do que se poderia chamar de econômico, mas abrangia, também, o campo do “ideológico”, uma vez que, nesse domínio, não víamos a nós mesmos com nossos próprios olhos, mas através de uma visão alienante que procurava justificar, ou racionalizar, o que convinha aos interesses das metrópoles, isto é, nossa incessante condição de nação dependente e incapaz de solucionar seus próprios problemas. Portanto, era necessário ampliar nossa independência política para as esferas econômica e cultural, forjando uma “ideologia ou teoria do desenvolvimento nacional”. Essas elaborações do Corbisier possuem validade atual, uma vez que as questões para as quais eram direcionadas, ainda hoje persistem.

Corbisier transitou do integralismo para o nacional-desenvolvimentismo e depois para o marxismo. Pode falar mais sobre isso?

Quero destacar, nesse caso, que a biografia do filósofo Corbisier confunde-se com o percurso das ideias sociais vigentes na época e, exatamente por isso, se amalgama com a história do país. Sua própria vivência como pensador brasileiro expressou o processo de transmutação política que o país atravessou ao longo do século XX.

O tráfego, no decurso da sua vida, de convicções políticas de direita — integralista, católica e conservadora — para um nacionalismo progressista e anticolonialista no período do Iseb, engajado no projeto das reformas estruturais de João Goulart às vésperas do golpe civil-militar de 1964, até, finalmente, filiar-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) nos anos 1990, fez com que Corbisier refletisse em sua trajetória pessoal o mesmo que se apresentou às nações que buscavam soberania e desenvolvimento na época política e econômica mais acirrada e oligopolizada da história do sistema capitalista, a fase imperialista.

Acredito que o rico percurso pessoal e teórico do Corbisier, ressaltando os profundos debates ideológicos que pontuaram sua biografia filosófica desde a juventude, passando pelo Iseb como vértice conceitual do seu nacionalismo, até o florescimento no marxismo, constitui síntese referencial das transições ocorridas no Brasil e no mundo durante o século XX.

O que ainda há de atual na filosofia de Corbisier?

Ao perscrutar o itinerário filosófico e a práxis política do filósofo Roland Corbisier, observamos que ainda hoje representam, paradigmaticamente, grande parte dos temas e debates sob os quais giram as correntes intelectuais brasileiras, constituindo, portanto, parte importante dos desafios teóricos e políticos que estão postos aos setores consequentes da esquerda progressista, nacionalista, democrática e desenvolvimentista.

Se fosse possível eleger demandas que ao longo da trajetória do seu pensamento ainda possuem relevância atual, diria que foi a descoberta do marxismo e do leninismo como condição incontornável para a construção da autonomia política, econômica e cultural da nação brasileira. O socialismo aparece como corolário do seu nacionalismo progressista, como a síntese política que possibilitaria o desenvolvimento econômico, o fortalecimento da cultura nacional-popular e a autonomia intelectual do país. Essas ainda são questões vigentes no Brasil contemporâneo.

Serviço:

Curso Pensadores Nacionalistas Brasileiros
Inscrições a partir de 15 de novembro de 2024
Na plataforma https://grabois.eadbox.com/
Custo: R$ 78,00

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