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Clube de Leitura: O marxismo no mercado editorial brasileiro em 2024

26 de dezembro de 2024

Na retrospectiva literária do ano, Theófilo Rodrigues apresenta 11 livros de autores marxistas que foram publicados em 2024.

Datas redondas, as famosas efemérides, servem de estímulo para relembrarmos de publicações ou eventos que marcaram a história e que merecem ser revisitados. Para o mercado editorial, essas datas são fontes de animação para a publicação de novas traduções ou de novas interpretações sobre acontecimentos passados. Essa assertiva foi verdadeira em 2024, como podemos observar nas obras lançadas nesse momento de centenário da morte de Lênin.

Leia mais: O marxismo no mercado editorial brasileiro em 2023

Mas não foram apenas efemérides. Houve também muita coisa nova nas prateleiras. Diversos temas como sustentabilidade, drogas, feminismo, direito à cidade e guerra cultural foram analisados pela ótica do marxismo. Além das novidades, tivemos republicações de clássicos como Marx, Lênin e Gramsci.

Aproveito o momento em que estamos chegando ao fim do ano para registrar abaixo 11 livros de autores marxistas que foram publicados no Brasil em 2024 e que merecem mais atenção dos leitores.

Capitalismo canibal, de Nancy Fraser (Ed. Autonomia Literária)

Nancy Fraser é o grande nome da teoria política contemporânea. Filósofa e professora da New School for Social Research, em Nova York, Fraser tem defendido desde a década de 1990 que a luta pelo reconhecimento de identidades deve encontrar a luta por redistribuição econômica. Grosso modo, trata-se de unir classe, gênero e raça, por exemplo. Agora, seu novo livro publicado pela editora Autonomia Literária, Capitalismo canibal: como nosso sistema está devorando a democracia, o cuidado e o planeta e o que podemos fazer a respeito disso, atualiza o debate incorporando com maior ênfase temas como racismo, reprodução social, natureza e até mesmo a Covid. A autora conclui o livro indicando qual deve ser o sentido do socialismo no século XXI. “O socialismo deve se tornar o nome de uma alternativa genuína ao sistema que hoje está destruindo o planeta e frustrando nossas chances de viver bem, livres e democraticamente”, diz Fraser.

Destinos do feminismo, de Nancy Fraser (Ed. Boitempo)

Também de Nancy Fraser, saiu pela Editora Boitempo, em 2024, Destinos do feminismo: do capitalismo administrado pelo Estado à crise neoliberal. O livro percorre a trajetória do movimento feminista em três momentos: a primeira parte traça o feminismo em seu momento de alargamento da crítica anticapitalista; a segunda parte sugere que no período neoliberal o feminismo foi domesticado pela política de identidade; por fim, a terceira parte aponta para o ressurgimento radical de um feminismo crítico.

Lênin, um século depois, organizado por Aloísio Sérgio Barroso e Osvaldo Bertolino (Ed. Anita Garibaldi)

O centenário de Vladimir Ilitch Ulianov Lênin (1924-2024) propiciou uma série de publicações sobre o revolucionário russo. Entre elas, merece destaque a coletânea Lênin, um século depois, organizada por Aloísio Barroso e Osvaldo Bertolino. A obra saiu pela Ed. Anita Garibaldi em parceria com a Fundação Maurício Grabois e conta com artigos de 30 especialistas na obra de Lênin.

Lênin: uma introdução, de João Quartim de Moraes (Ed. Boitempo)

Na mesma toada do centenário de Lênin, o professor João Quartim de Moraes lançou pela editora Boitempo Lênin: uma introdução. Com 5 capítulos e 144 páginas, o livro percorre a trajetória biográfica de Lênin, mas também as suas construções teóricas. A orelha foi escrita pela economista Juliane Furno. (Clique aqui para ler a resenha que escrevi sobre o livro).

O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, de Lênin (Ed. Boitempo)

Editado pela Boitempo com parceria da Fundação Maurício Grabois, O desenvolvimento da capitalismo na Rússia foi escrito pelo jovem Lênin enquanto esteve preso entre 1896 e 1899. Vale lembrar que Lênin foi preso com 26 anos de idade e que a maior parte desse tempo de prisão foi no exílio na Sibéria. Trata-se de uma obra econômica com o objetivo de demonstrar que o capitalismo já estava emergindo na Rússia. Essa não era uma afirmação óbvia na época, pois a Rússia possuía uma formação social e econômica bem distinta daquela vivida pela Europa ocidental. A Rússia era, naquele fim de século XIX, um país com uma economia muito atrasada. Nas palavras de Perry Anderson (1989, p. 22), “este trabalho foi a primeira aplicação séria da teoria geral do modo de produção capitalista exposta em O Capital a uma estrutura social concreta, combinando uma série de modos de produção em uma totalidade histórica articulada”. Além da rigorosa análise econômica, o livro traz ainda uma proposta estratégica de luta: a necessidade de articulação política entre o campesinato e o proletariado urbano. Com 624 páginas, a nova edição conta com apresentação de José Paulo Netto (Clique aqui para saber mais sobre o livro).

Domínio das Mentes: do Golpe Militar à Guerra Cultural, de Aldo Arantes (Ed. Kotter)

Preocupado com o avanço da extrema-direita no Brasil e no mundo, o ex-deputado constituinte, Aldo Arantes, lançou pela editora Kotter Domínio das Mentes: do Golpe Militar à Guerra Cultural. Baseado no referencial gramsciano sobre a teoria da hegemonia, Arantes discute temas como as fake news e o lawfare utilizados contra a esquerda no cenário internacional (Clique aqui para ler a resenha escrita por Priscila Arantes).

Drogas e capitalismo: uma crítica marxista, de Thiago Rodrigues (Ed. Autografia)

O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e cientista político, Thiago Rodrigues, faz um trabalho inovador analisando a chamada questão das drogas pela lente do materialismo histórico dialético. Drogas e capitalismo: uma crítica marxista traz o conceito de economia política do narcotráfico para compreender a lógica que rege o mercado capitalista global das drogas ilegais.

Capitalismo e sustentabilidade, de Theófilo Rodrigues (Ed. Vozes)

O aquecimento global, as mudanças climáticas, a degradação dos ecossistemas e a perda da biodiversidade transformaram a sustentabilidade na grande agenda do século XXI. Algumas empresas compreenderam isso ao adotarem elementos da sustentabilidade corporativa como práticas cada vez mais corriqueiras. Há, no entanto, muitas dúvidas ainda sobre as melhores formas de aplicação dessa sustentabilidade corporativa no dia a dia das empresas. Nos últimos anos, abordagens como a do ESG tornaram-se usuais, mas esses modelos são criticados por suas complexas operacionalidades e por seus escopos insuficientes. Além disso, a maquiagem verde e social – greenwashing, socialwashing – tornou-se fenômeno recorrente. Para superar esse cenário, Capitalismo e sustentabilidade apresenta um conceito original e inovador de sustentabilidade corporativa – a “Empresa regenerativa”.

O Capital, de Karl Marx (Ed. Civilização Brasileira)

O Capital, de Karl Marx, chegou no Brasil na década de 1960. Foi em 1968 que a editora Civilização Brasileira publicou a primeira edição completa do livro no Brasil, traduzida diretamente do alemão por Reginaldo Sant’Anna. Desde então, essa tradução foi reeditada de modos distintos pela Civilização Brasileira. Agora, em 2024, a editora lançou a versão que já é considerada a mais bela desde então. Trata-se de um box com os três livros do Capital.

Cadernos do Cárcere, de Antonio Gramsci (International Gramsci Society)

Os Cadernos do Cárcere, do marxista italiano Antonio Gramsci, já são bem conhecidos do público marxista brasileiro. O que poucos sabem, no entanto, é que eles nunca chegaram na íntegra no Brasil. Para superar esse problema, a seção brasileira da International Gramsci Society lançou agora, em novembro de 2024, a primeira tradução na íntegra dos Cadernos. Essa nova edição está disponível gratuitamente em PDFs na internet. Espera-se que em 2025 elas encontrem finalmente uma versão impressa. (Clique aqui para conhecer a trajetória dos Cadernos do Cárcere no Brasil).

Direito à cidade no Rio de Janeiro, de Dani Balbi e Theófilo Rodrigues (Ed. Bem Cultural e Fundação Maurício Grabois)

Não é uma novidade a constatação de que as cidades não são compartilhadas de modo semelhante por todas as pessoas. Para algumas classes sociais, o acesso ao lazer, ao transporte público, ao emprego, à saúde, à educação, à segurança pública etc. não estão colocados em questão. Para outras classes, dentro dessa mesma cidade, esses acessos não estão disponíveis. Para além das diferenciações de classe, essa assimetria também ocorre por discriminações de gênero, raça ou sexualidade, por exemplo. Infelizmente, o direito à cidade ainda não é um direito de todas e todos. Falar em direito à cidade, portanto, é falar sobre o direito de todas as classes, raças, gêneros e sexualidades usufruírem universalmente da cidade em toda a sua potência. Direito à cidade no Rio de Janeiro, organizado pela deputada estadual Dani Balbi (PCdoB) e por Theófilo Rodrigues, traz a agenda do direito à cidade para o Rio de Janeiro. A partir de 14 capítulos escritos por 20 pesquisadores, a obra oferece diferentes propostas de políticas públicas para a construção de uma cidade inclusiva, democrática, sustentável e rebelde (clique aqui para saber mais sobre o livro).

Theófilo Rodrigues é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UCAM.

Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.