Em 1º de maio de 1925, sob a repressão do governo Artur Bernardes e em pleno estado de sítio, nascia, no Rio de Janeiro, A Classe Operária, jornal operário vinculado ao Partido Comunista do Brasil. O periódico foi concebido como uma ferramenta de organização e formação política da classe trabalhadora, emergindo num momento de efervescência social, greves e crescente influência do marxismo nos sindicatos.
O Brasil da década de 1920 era marcado pela extrema exploração dos trabalhadores — com jornadas de até 14 horas, salários miseráveis e condições insalubres nas fábricas. A Classe Operária tornou-se uma trincheira impressa contra a opressão patronal e o autoritarismo do Estado.
Os primórdios: um jornal nascido na clandestinidade
Fundado por nomes como Astrojildo Pereira e Octávio Brandão — este último, seu primeiro editor —, o jornal carregava em seu DNA a missão de ser feito por trabalhadores, para trabalhadores.
Em suas memórias (Combates e Batalhas), Brandão relatou a saga de imprimir a edição inaugural:
“À tarde de 30 de abril de 1925, o 1º número do jornal estava composto numa tipografia da rua Frei Caneca, perto da rua Riachuelo. Mas a máquina de impressão se quebrou. Assim, à meia-noite, saí pelo mundo, à procura de outra tipografia. Encontrei-a à rua Luiz de Camões. Não dormi. Trabalhei 26 horas sem interrupção. Mas, na manhã de 1º de maio de 1925, A Classe Operária estava impressa em pequeno formato, com 4 páginas. À tarde, foi distribuída amplamente no comício da Praça Mauá e acolhida carinhosamente pelos trabalhadores.”
Leia a integra do depoimento de Octavio Brandão sobre A Classe Operária
O conteúdo de estreia trazia a plataforma do jornal e um vasto programa de ação política.

Edição nº 5 de A Classe Operária, publicada em 30 de maio de 1925. Exemplar histórico danificado, preservado digitalmente pelo Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois. Imagem mostra parte da primeira página, com destaque para denúncias sobre o regime feudal nos engenhos do Nordeste, o apelo das operárias charuteiras da Bahia e os direitos dos ferroviários. Crédito: Reprodução
Um século de resistência e luta
Ao longo de seu século de existência, A Classe Operária atravessou todas as grandes tormentas políticas do Brasil e do mundo. Sobreviveu ao Estado Novo, enfrentou a ditadura militar, passou por reorganizações do movimento comunista e resistiu às transformações impostas pela modernização conservadora do país. Entre seus editores estiveram figuras centrais da história do partido e da luta popular, como Maurício Grabois, Pedro Pomar, João Amazonas e Carlos Danielli.
A mais antiga edição preservada em formato digital é a nº 5, de 30 de maio de 1925. Ela está disponível no site do Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois, que atualmente abriga um acervo de 643 edições do histórico jornal.
Acesse aqui o acervo digital digital do CDM de A Classe Operária
Nos anos mais recentes, o jornal atualizou seu conteúdo para continuar intervindo nos principais debates da conjuntura nacional. Sua última edição impressa, publicada em 2019 (ano 94, nº 65), teve como manchete: “Em defesa da educação: UNE faz novamente história!”, destacando as mobilizações estudantis que tomaram as ruas do Brasil em resposta aos cortes orçamentários e ao desmonte das políticas públicas de ensino promovidos pelo governo Bolsonaro.
Leia as duas últimas edições:
A Classe Operária – Ano 94 N 64 Abril 2019
A Classe Operária – Ano 94 N 65 Julho 2019
Assim como em 1925, o jornal manteve-se ao lado da classe trabalhadora em momentos decisivos de sua história.

Capa do jornal A Classe Operária, Ano 94, sétima fase, nº 65, julho de 2019. Crédito: Reprodução
Um legado vivo
O legado de A Classe Operária — expresso em sua escrita e em seu compromisso inabalável com as causas populares — permanece atual. Seu acervo, preservado no CDM da Fundação Maurício Grabois, é uma fonte de aprendizado sobre as lutas sociais no Brasil. Mais que um documento do passado, A Classe Operária é uma inspiração permanente para os que acreditam que a palavra também pode ajudar a mover a história.