Às vezes, as mudanças não chegam com fogos de artifício, mas com a calma firme de quem sabe que está fazendo história. No dia 29 de junho de 2025, Jeannette Jara não ganhou apenas uma primária. Naquele dia, com 825.000 votos e 60% de apoio, abriu-se uma fenda luminosa na política chilena: pela primeira vez, uma militante comunista tornou-se a candidata única da esquerda à presidência.
Assim, o Partido Comunista posicionou-se no centro do palco — não como figurante de fundo, mas como autor do roteiro que pretende transformar este país.
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Mas isso não é uma guinada, não é maquiagem. O que vimos não foi uma renúncia ao ideário vermelho, e sim sua encarnação mais madura, mais serena e, ao mesmo tempo, mais perigosa para o status quo: uma mulher, firme e dialogante, empática sem exageros, que vem da história do partido, mas não precisa repetir slogans para convencer de que quer mudar tudo.
Jara não promete utopias: coloca realidades sobre a mesa. Redução da jornada de trabalho, reforma da previdência, salário-mínimo que não humilhe. Ela já fez isso. Negociou. Construiu. Empurrou com a cabeça fria e o coração quente. E isso, nos tempos de hoje, vale mais do que mil discursos.
Quem é Jeannette Jara, a comunista que pode ser a próxima presidenta do Chile? Veja na Tv Grabois:
O Partido Comunista sabe: esta candidatura não é um ponto de chegada, é um ponto de partida. A unidade já não pode ser apenas uma palavra bonita em discursos longos. Precisa ser lista unificada, programa comum, campanha com todos os rostos possíveis. Porque o que está em jogo é mais do que uma eleição. É a possibilidade de olhar para o futuro sem nostalgia, sem medo.

Jeannette Jara celebra sua vitória nas prévias para a candidatura presidencial da esquerda, em Santiago, Chile, no domingo. Foto: Divulgação via perfil oficial de Jeannette Jara Román no Facebook
Jeannette entendeu o momento. Não precisa se distanciar do Partido Comunista para parecer sensata. Mas também não se esconde atrás dele. Caminha nesse limite difícil entre raiz e voo. E o partido está disposto a trilhar esse caminho com ela. Porque hoje não basta ter razão: é preciso ter estratégia, e sobretudo, ter alma.
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Diante de uma direita que se fortalece, e de uma ultradireita que sonha em reverter a história na base da força, Jara não é apenas uma candidata. É uma muralha de contenção. Uma aposta ética. Uma possibilidade.
Esta candidatura não é apenas uma vitória numérica. É uma declaração política: as ideias de fundo não morreram, estavam apenas esperando por uma voz como a dela para voltarem a fazer sentido. Se há algo em disputa neste novembro, não é só quem governará. É se ainda temos coragem de imaginar que um país mais justo não é um luxo — mas uma urgência.
*Diego Aguirre é secretário Político do Regional Exterior do Partido Comunista do Chile
**Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.