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    Economia

    Lideranças da esquerda propõem frente ampla além da política contra bolsonarismo em 2026

    Luciana Santos, José Dirceu, Cida Pedrosa e Pedro Campos reforçam alianças, projeto nacional e disputa digital rumo às eleições de 2026, na mesa de encerramento do Ciclo de Debates para o 16º Congresso do PCdoB

    POR: Leandro Melito

    7 min de leitura

    Luciana Santos defende frente ampla no Ciclo de Debates para o 16º Congresso do PCdoB. Foto: Pedro Caldas / PCdoB PE
    Luciana Santos defende frente ampla no Ciclo de Debates para o 16º Congresso do PCdoB. Foto: Pedro Caldas / PCdoB PE

    O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) propõe uma frente ampla, nucleada pela esquerda e impulsionada pela mobilização popular para derrotar a extrema-direita bolsonarista e vencer as eleições de 2026, com a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.

    Unidade de esquerda e alianças além do campo político

    Para a formação dessa frente ampla, a presidenta do PCdoB e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destaca a necessidade de grandes alianças para além do espaço político.

    “Segmentos até mesmo da agropecuária industrial, milhões de micro, pequenos e médios empresários que não têm por que se afastar do nosso campo. Nós que somos os porta-vozes da prosperidade, então na concepção do nosso programa a batalha por reformas de rupturas é parte constituinte do nosso projeto nacional de desenvolvimento, fortalecer a nação e lutar pelo socialismo”, afirmou durante a mesa “Conjuntura desafiadora às forças progressistas e democráticas”, que encerrou o Ciclo de Debates para o 16º Congresso do PCdoB na segunda-feira (25) em Recife (PE).

    Ciclo de Debates em Recife (PE). Foto: Pedro Caldas PCdoB / PE

    Luciana Santos aponta que o cenário eleitoral de 2026 acontece em um contexto em que a esquerda não possui maioria política no Congresso Nacional e destaca a necessidade de mobilização popular para conquistar uma maioria social que possibilite a vitória nas eleições.

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    “Nós precisamos entrar na alma do povo brasileiro, para animar o nosso povo de sonhos e saltos que a nossa população precisa dar. Nós precisamos ser porta-vozes de sonhos mais ousados para o povo brasileiro, porque do contrário não teremos cumprido a nossa batalha de duplo caráter, tático e estratégico, que é ganhar as eleições de 2026.”

    Cida Pedrosa destacou que a extrema direita se reorganizou no Brasil em todos os lugares e ganhou espaço em muitas câmaras de vereadores, a exemplo do que aconteceu na capital pernambucana, o que coloca para a esquerda um desafio de mobilização para organizar uma frente ampla maior do que aquela que possibilitou a eleição de Lula em 2022.

    “A gente precisa se organizar enquanto campo político de esquerda em uma grande frente ampla para ganharmos 2026, mas tem que ser maior ainda. Não vai ser simples ganharmos 2026 e nós, que somos a ponta de lança, temos que ter unidade. O inimigo é muito grande, a extrema direita está organizada nas ruas e nas redes sociais”. 

    Cida Pedrosa (PCdoB), vereadora de Recife. Foto: Pedro Caldas / PCdoB PE

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    A composição da mesa sinalizou a ampliação do diálogo com outras forças de esquerda. Além da ministra da Ciência e Tecnologia, participaram a vereadora de Recife Cida Pedrosa (PCdoB),  o deputado federal e líder do PSB na Câmara, Pedro Campos e o ex-ministro da Casa Civil e fundador do PT, José Dirceu.

    José Dirceu (PT), ex-ministro da Casa Civil Foto: Pedro Caldas / PCdoB PE

    “Desde o início da luta pelas Diretas, depois pela Constituinte e a primeira campanha presidencial do presidente Lula já se consolidou entre o PT e o PCdoB uma aliança estratégica, que diz respeito ao Brasil, exatamente o nosso tema hoje, diz respeito ao socialismo, não diz respeito só a disputas eleitorais, ainda que elas sejam importantes e decisivas como o tempo mostrou”, destacou José Dirceu.

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    Projeto nacional de desenvolvimento e papel da classe trabalhadora

    O ex-ministro petista destacou que, apesar de figurar entre as sete maiores economias do mundo, o Brasil não alcançou a soberania nas áreas financeira e tecnológica e destaca a necessidade de retomar o projeto nacional de desenvolvimento.

    “O fio histórico do Brasil é o projeto de desenvolvimento nacional, é a democracia e o papel cada vez maior da classe trabalhadora”, destaca. “A classe trabalhadora tem o sentido histórico no Brasil do projeto de desenvolvimento nacional, da democracia e dos seus interesses enquanto classe. Ela vai se formando e evoluindo culturalmente com o passar das décadas porque a industrialização e a urbanização vai lhe dando condições culturais e políticas.”

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    Dirceu destacou que a elite brasileira rompeu o pacto político e social conquistado no país e garantidos pela Constituição de 1988 após o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff. “O neoliberalismo de Collor e Fernando Henrique veio desconstituindo uma aliança que existia em torno do projeto de desenvolvimento nacional e por fim, tentou com Bolsonaro e com Temer desmontar o pacto social”, destacou.

    A candidatura da extrema direita em 2026 tem como objetivo aprofundar esse processo, por meio da privatização da Petrobras e dos bancos públicos, da desvinculação do salário mínimo, do fim do piso da saúde e da educação e da privatização da previdência, rompendo o pacto social. Diante desse cenário, o desafio colocado é “a solidão da classe trabalhadora e das esquerdas, num mundo que mudou completamente”, aponta Dirceu.

    “Estão criadas as condições para países como o Brasil darem o salto, porque o mundo não é mais o mundo Ocidental, o mundo da Europa e dos Estados Unidos. 80% do mundo não é católico, não é Ocidental e não é da Otan. É asiático, e a capital do mundo chama Xangai”.

    Extrema-direita, redes digitais e disputa da comunicação

    Pedro Campos destacou a necessidade do campo de esquerda se apropriar de forma mais efetiva das ferramentas de comunicação digitais de forma a enfrentar a extrema-direita nas eleições de 2026, em um momento em que “ao invés de cinco grupos nacionais” que controlam os meios de comunicação, a realidade hoje é constituída de “cinco grupos internacionais”, detentores das  big techs, a exemplo das empresas Meta, X, Microsoft e Apple, “impedindo que os países legislem sobre essa infraestrutura” com controle centralizado e processamento de informação acelerado.

    “Uma transformação desse tamanho vai ter um reflexo na forma como a própria sociedade se organiza, comunicação é o ponto central de tudo o que nos diferencia enquanto seres humanos. Dentro dessa transformação, a gente precisa entrar nessa disputa da economia da atenção”, defendeu Campos.

    Deputado federal Pedro Campos (PSB-PE). Foto: Pedro Caldas PCdoB/PE

    Cida Pedrosa destacou que a comunicação digital tem causado adoecimento na sociedade e defendeu que, além de brigar para sermos ouvidos nas redes sociais é preciso também ter a escuta aberta para os anseios da população.

    “A internet e a forma como o discurso do ódio, a guerra cultural é colocada dentro das nossas casas, às nossas vistas 24h por dia tem adoecido demais as pessoas. A gente precisa escutar. Além de fazer a fala, nós que somos da esquerda precisamos escutar esse desânimo, essa dor, essa angústia”, defendeu.

    Pedrosa alerta para a influência de novas ferramentas como a Inteligência Artificial na disputa eleitoral do próximo ano, que tende a intensificar o cenário vivido em 2022. “Nós temos uma extrema direita que vai jogar tudo, então só existe uma forma, que é nos unirmos com todas as nossas bandeiras”, destaca e chama a atenção para a necessidade da esquerda intensificar as mobilizações de rua. “Eles ainda estão juntando mais gente que nós. Em 2026 é de um desafio tão grande que temos que estar atentos e fortes permanentemente.”

    Assiste ao debate na íntegra: