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    Comunicação

    Carteira de Identidade

    Registra-me sou árabe o número de minha identidade é cinqüenta mil tenho oito filhos e o nono… virá logo depois do verão vais te irritar por acaso? Registra-me sou árabe trabalho com meus companheiro de luta em uma pedreira tenho oito filhos arranco pedras o pão, as roupas, os cadernos e não venho mendigar em […]

    POR: Mahmoud Darwish

    3 min de leitura

    Registra-me
    sou árabe
    o número de minha identidade é cinqüenta mil
    tenho oito filhos
    e o nono… virá logo depois do verão
    vais te irritar por acaso?

    Registra-me
    sou árabe
    trabalho com meus companheiro de luta
    em uma pedreira
    tenho oito filhos
    arranco pedras
    o pão, as roupas, os cadernos
    e não venho mendigar em tua porta
    e não me dobro
    diante das lajes de teu umbral
    vais te irritar por acaso?

    registra-me
    sou árabe
    meu nome é muito comum
    e sou paciente
    em um país que ferve de cólera
    minhas raízes…
    fixadas antes do nascimento dos tempos
    antes da eclosão dos séculos
    antes dos ciprestes e oliveiras
    antes do crescimento vegetal
    meu pai… da família do arado
    e não dos senhores do Nujub 
    e meu avô era camponês
    sem árvore genealógica
    minha casa
    uma cabana de guarda
    de canas e ramagens
    satisfeito com minha condição
    meu nome é muito comum
    registra-me
    sou árabe
    sou árabe
    cabelos… negros
    olhos… castanhos
    sinais particulares
    um kuffiah e uma faixa na cabeça
    arranharam as mãos que estreitam
    e amo acima de tudo
                                   o azeite de oliva e o tomilho
    meu endereço
    sou de um povoado perdido… esquecido
    de ruas sem nome
    e todos os seus homens… no campo e na pedreira
    amam o comunismo
    vais te irritar por acaso?

    registra-me
    sou árabe
    tu me despojaste dos vinhedos de meus antepassados
    e da terra que cultivava
    com meus filhos
    e não os deixastes
    nem a nossos descendentes
    mais que estes seixos
    que nosso governo tomará também
    como se diz
    vamos!
    escreve
    bem no alto da primeira página
    que não odeio os homens
    que eu não agrido ninguém
    mas… se me esfomeiam
    como a carne de quem me despoja
    e cuidado…cuida-te
    de minha fome
                               e minha cólera.
    De Folhas de Oliveira

     

    Poesia Palestina de Combate
    Seleção de Abdellatif Laâbi
    Prefácio Farid Suwwan
    Editors Achiamé Ltda – Rio de Janeiro 1981