A ti,
a quem silvaram
zombeteiras baterias;
a ti,
lacerada por ferro maldizente,
dedico entusiasmado,
entre saraivadas de impropérios,
odes solenes.
"Oh!"
Oh, feroz!
Oh, infantil!
Oh, avara!
Oh, colossal!
Que outros nomes te deram?
Que rosto mostrarás?
Serás esbelta obra
ou escombros frios e mortos?
Ao maquinista
coberto pelo pó do carvão
e ao mineiro que morde os veios
tributas o incenso
com unção,
louvando o trabalho dos homens.
E amanhã,
em vão São Basílio clamará,
seus guindastes e vigas
implorando clemência.
Teus canhões de focinho suíno
há muitos milênios o Kremlin rebentam
O "Slava"
geme em sua viagem derradeira.
Lançam as sirenes afogados apitos.
Envia marinheiros
ao barco que se afunda,
onde,
esquecido,
mia um gato.
E então?
Gritavas, inebriada, em manada.
Ergo o bigode, bizarro, bravio,
E a coronhadas atiravas da ponte
encanecidos almirantes
de cabeça ao rio.
Lambes tuas feridas para estancá-las,
e vejo de novo tuas veias abertas.
– Três vezes maldita! –
diz o filisteu.
– Mil vezes gloriosa! –
te exalta o poeta.

* Vladimir Mayakovski, poeta e revolucionário russo – 1893-1930.

EDIÇÃO 9, OUTUBRO, 1984, PÁGINAS 46