O primeiro-ministro da Ucrânia, Arseny Yatsenyuk, declarou “estado de emergência” no setor energético nesta segunda-feira (16/06) após a Rússia ter cumprido a promessa de cortar o fornecimento de gás ao país, como informou a agência chinesa Xinhua. Após o anúncio, a Europa manifestou o temor de ficar sem gás no próximo inverno, embora russos e ucranianos tenham se comprometido a continuar enviando normalmente o gás ao continente.

“Eu autorizo o Ministro da Energia e o Ministro da Justiça a preparar um projeto de lei declarando estado de emergência no setor energético”, afirmou Yatsenyuk durante o início dos trabalhos de hoje. De acordo com o chefe executivo da empresa Naftogaz, Andriy Kobolev, a Ucrânia tem gás suficiente para suprir a demanda doméstica pelos próximos seis meses e garantiu que uma empresa alemã está pronta para vender gás à Ucrânia pelo preço de US$ 300 dólares por mil metros cúbicos.

Yatsenyuk pediu à Comissão Reguladora Nacional para definir tarifas “economicamente justificadas” para o trânsito de gás russo através do território ucraniano, dizendo que Kiev não tem planos para “subsidiar” a Rússia por mais tempo. Ele também instruiu o Ministério de Energia a preparar um projeto de lei para atrair investimentos dos Estados Unidos e da União Europeia para financiar a modernização da rede de transporte de gás da Ucrânia.

Fornecimento europeu
O comissário europeu da Energia, Guenther Oettinger, manifestou hoje o temor de que falte gás na Europa. A União Europeia importa da Rússia quase metade do gás que consome (39%). Cerca de 15% deste gás chega ao continente pela Ucrânia. “As próximas semanas não serão problemáticas, vamos receber os volumes habituais de gás”, garantiu Oettinger, alertando para um possível problema caso o inverno seja rigoroso e a situação se mantenha.

O ministro da Energia ucraniano, Iuri Prodan,assegurou que a Ucrânia vai continuar transportando energia para a Europa. “Fomos informados que o fornecimento de gás à Ucrânia foi reduzido a zero, o volume enviado [pela Rússia] será apenas o suficiente para o fornecimento aos países europeus. A Ucrânia vai garantir que esse transporte de gás chegue à Europa”, disse o ministro.

A empresa russa Gazprom anunciou que o fornecimento do combustível ao país vizinho passará a ser feito apenas em sistema de pré-pagamento, como vinha sendo ameaçado pela Rússia desde maio, mas alertou a Ucrânia para a sua obrigação de “garantir o transporte do combustível a terceiros”.

Fracasso nas negociações

O corte de gás foi decidido hoje de manhã, depois de um ultimato para que a empresa estatal ucraniana de energia pagasse uma dívida, que de acordo com a agência Reuters pode chegar a R$ 10 bilhões.

Kiev e Moscou culparam-se mutuamente pelo fracasso das negociações sobre o preço das futuras entregas de gás. A Ucrânia não aceitou o aumento de preço imposto pela Rússia após a chegada ao poder de autoridades pró-Ocidente, depois da queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovytch. O preço subiu de 268 dólares (R$ 598,74) por 1.000 metros cúbicos para 485 dólares (R$ 1.083,54). Na “última oferta”, Moscou apresentou a proposta de US$ 385 (R$ 860,13).

A medida russa foi tomada após um fim de semana violento que incluiu a morte de 49 militares na queda de um avião ucraniano. Após a ação, o presidente pró-Ocidente ucraniano Petro Poroshenko prometeu uma “resposta adequada” aos separatistas. Este foi o ataque com o maior número de vítimas desde que a Ucrânia iniciou em abril uma operação militar contra os rebeldes.