Palavras a um futuro governante (de Joad para Joás)
Meu filho, oh ainda assim vos poderei chamar!
Permiti-me a ternura, o modo de falar,
as lágrimas de angústia, entre tantos horrores,
que me arrancam, por vós, os mais justos temores.
Crescestes junto a mim e do trono afastado.
Assim desconheceis seu clima envenenado.
Do poder absoluto a suprema embriaguez
é verdade também que vós desconheceis.
Ouvireis com frequência os covardes louvores
da encantadora voz dos vis aduladores.
Em breve vos dirão que as mais sagradas leis,
protetoras do povo, estão nas mãos dos reis;
que tendes, como rei, um só freio: a vontade,
tudo imolando em prol de vossa autoridade;
que às penas e ao trabalho o povo é condenado
e com cetro de ferro há de ser governado.
Se por vosso desejo oprimido não for
então não tardará em tornar-se opressor.
De armadilha a armadilha e de abismo a outro abismo,
êles vos levarão ao mais feroz egoísmo.
Destroçando de todo a vossa ingenuidade,
conseguirão que enfim detesteis a verdade.
À virtude darão uma imagem terrível
para que ela se torne odiada e desprezível.
As astúcias são tais, e por que não dizer?
que os mais sábios dos reis se deixam corromper.
Em presença dos fiéis, da escritura sagrada,
jurai que a lei de Deus será sempre aplicada.
Severo para o mal e bom para o infeliz,
mesmo entre o povo e vós será só Deus o juiz,
lembrando de que sob o linho que vos cobre
fôstes órfão também e também fôstes pobre.