“Eu não quero afrontar ninguém, eu sou um cidadão que respeita as leis, eu respeito a Constituição. A única coisa que eu peço em troca é que ele me respeite como eu respeito”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em pouco mais de dez minutos de discurso, na Praça Santos Andrade, em Curitiba.

Lula discursou a uma multidão que o esperava, após quase cinco horas de depoimento prestado ao juiz Sérgio Moro, na Justiça Federal de Curitiba. Sem citar detalhes de como foi o interrogatório, o ex-presidente disse que estava impressionado que após “dois anos de massacre”, acreditava que seus acusadores “iam mostrar uma escritura, um pagamento, alguma prova”. “Mas não tinham nada”, completou.

O ex-presidente indicou que o juiz da Vara Federal, Sergio Moro, teria demonstrado conclusões sobre o processo do triplex do Guarujá: “o tal do apartamento que ele diz que é meu”. E ironizou o teor das perguntas feitas pelos procuradores ou pelo magistrado de primeira instância, de que se ele, o ex-presidente, conhecia o Vaccari [João Vaccari Neto] e outros políticos do PT. “É lógico que eu conheço e não tenho vergonha das pessoas que eu conheço”, acrescentou. 

“Eu não quero ser julgado por interpretações, eu quero ser julgado por provas. Alguém tem que provar”, disse Lula, em tom de inconformidade. Em seguida, explicou por que tentou, até o último momento, que a audiência com o juiz Sergio Moro fosse transmitida ao vivo. Lembrou que sua mãe dizia que se sabe que uma pessoa está falando a verdade, não pela boca, mas pelos olhos. “Por isso que eu queria que fosse transmitido ao vivo, para [vocês] verem nos olhos a pessoa que está perguntando e a pessoa que está respondendo.”

Já na conclusão do discurso, o ex-presidente frisou a sua inocência: “se tem um brasileiro, um ser humano, que está em busca da verdade, sou eu. E eu só tenho um compromisso: eu só posso dizer, em meu nome, em nome do meu partido, em nome dos movimentos sociais que estão aqui, os companheiros do PCdoB, dos sindicatos, em nome dos nossos irmãos, que se um dia eu tiver que mentir para vocês, eu prefiro que um ônibus me atropele em qualquer lugar desse pais, porque eu jamais poderia mentir para pessoas como vocês, que há muito tempo deposita, confia, acredita e segue do meu lado”, afirmou, já emocionado.

Novamente, Lula deu sinais de que estará pronto para concorrer à Presidência em 2018. “Eu quero dizer para vocês, eu estou vivo e estou me preparando para voltar a ser Presidente desse país, e eu nunca tive tanta vontade como tive agora, vontade de fazer mais, fazer melhor e provar mais uma vez que se a elite não tem condição de consertar este país, um metalúrgico de 4o ano primário tem”.
 
O ex-presidente falou a centenas de militantes, movimentos populares e lideranças políticas, que se reúniram desde a manhã desta quarta-feira (10) na cidade paranaense em gesto de apoio.

O depoimento

Após cinco horas de depoimento, defesa de Lula revelou que Moro quis abordar assuntos que não têm conexão com a ação penal do triplex. Ex-presidente foi orientado a não responder questões sobre política, disse Zanin.

A defesa de Lula revelou, na noite desta quarta (10), que o juiz Sergio Moro extrapolou o escopo da denúncia do caso triplex e fez uma “cena política” ao questionar o ex-presidente sobre o julgamento do Mensalão e o caso do sítio de Atibaia, que sequer é objeto de uma ação penal. 

O advogado Cristiano Zanin Martins disse, em coletiva de imprensa, que Moro ainda perguntou a Lula sobre programas que o petista criou em sua passagem pelo Palácio do Planalto, numa clara demonstração de “perseguição política”. “São perguntas que não buscavam avaliar o caso triplex, mas as políticas do seu governo, políticas da presidência da República, e quando isso acontece, você não está em um estado democrático de Direito”, avaliou.

“É evidente que não cabia a Lula, na audiência de hoje, ao prestar depoimento em uma ação que teve objeto circunscrito pelo juiz, jamais ter sido perguntado nessa linha de dar opinião sobre um julgamento no Supremo Tribunal Federal e políticas realizadas no seu governo. Isso mostra que o que estava em discussão não era o triplex, é a instituição Presidência da República e o governo que Lula fez após ter sido democraticamente eleito para essa finalidade.”

Lula passou quase cinco horas depondo na Vara Federal dominada por Moro, em Curitiba. Só as perguntas do magistrado, de acordo com o Estadão, duraram mais de duas horas e meia. 

O ex-presidente é acusado, nesta ação penal, de ter recebido a propriedade oculta de um apartamento da OAS, situado no Guarujá, além de doação para o armazenamento do acervo presidencial. Em troca, a OAS teria conquistado três contratos de obras com a Petrobras. 

“Nós da defesa técnica orientamos que só respondesse o que era objeto da ação. Ele não tem que dar nenhum explicação sobre temas que são estranhas à ação e de natureza política, que não estão sob julgamento de Moro e nem podem estar”, disse Zanin.

“Lula esclareceu absolutamente tudo. Esclareceu que não é dono do triplex nem teve atuação sobre o acervo. Agora, sobre outros temas, nossa atuação foi de preservar o estado de direito e a democracia, impedindo que Moro possa julgar o governo de quem foi democraticamente eleito”, acrescentou.

A advogado Valeska Teixeira Martins disse que a força-tarefa da Lava Jato não só não conseguiu levar aos autos do processo provas das acusações que fez contra Lula, como simplesmente ignorou as evidências produzidas pela defesa. 

“Não existem provas contra Lula, mas em relação à sua inocência, tem provas cabais no processo. A sensação que se tem é que os procuradores pararam no tempo e ignoram as provas de Lula. Nós ja provamos que o triplex não pertence a ele”, disse.

A defesa iniciou a coletiva destacando que, no papel, o dono do triplex é a OAS. Inclusive, a empresa usou o imóvel como sua propriedade para emitir debêntures.

Paridade de armas

“Com relação à Petrobras”, disse Valeska, “não conseguimos ter acesso aos documentos que provam que Lula não teve acesso [ao esquema de corrupção]. Quero perguntar por que não tivemos acessos às provas, às atas, e por que hoje uma ata de reunião de diretoria da Petrobras é utilizada e nós da defesa não tivemos acesso, enquanto todos os acusadores tiveram. Nós precisamos ter o mesmo acesso, a mesma igualdade que a acusação teve. Isso esta sendo negado à defesa.”

“Me mostrem as provas”

O advogado Roberto Batochio disse que, “após cinco horas de intenso bombardeio por parte de Moro e dos procuradores, o balanço que se pode fazer dessa colheita é absoltuamente zero. Investiga-se há quase 2 anos a propriedade desse apartamento, que a imprensa batizou de triplex”, e nada foi encontrado, afirmou.

Segundo Batochio, “Lula disse: ‘Pelo amor de Deus, vocês estão me acusando de ser proprietário de um apartamento que nunca foi meu. Pelo amor de Deus, me mostrem a prova de que eu sou o proprietário’.”

Ainda segundo ele, Lula esclareceu que não teve acesso aos contratos de armazenamento do acervo. “É um despropósito processar um ex-presidente alegando que ele recebeu propina para o acervo. Com relação a isso, a prova é nula, zero, inexistente, não se encontra no comportamento de Lula qualquer fato que possa ser considera delituoso.”

Conspiração

Batochio ainda apontou que é muito estranho que Moro seja o juiz máximo da Lava Jato, até para um processo em que está em xeque um apartamento situado no litoral de São Paulo. Para ele, a Lava Jato manobrou para centralizar as acusações na mão de um magistrado que não é imparcial.

Acompanhe o discurso de Lula em Curitiba:

 

 Acompanhe o depoimento prestado pelo ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, nesta quarta-feira, 10 de maio.

 

Publicado em Jornal GGN