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    Comunicação

    Angola cria fundo para gasto social com verba do petróleo

    Por Patrick McGroarty | The Wall Street Journal, de Luanda Publicado no Valor Econômico de 28/02/2013 Criticado por opositores políticos e grupos de direitos humanos devido a suas finanças obscuras e sua elite política riquíssima, Angola criou recentemente um fundo soberano para usar a receita com o petróleo a serviço dos pobres. Embora a iniciativa […]

    POR: Patrick McGroarty

    6 min de leitura

    Presidenta Dilma se encontra com presidente de Angola, José Eduardo dos Santos em Luanda
    Presidenta Dilma se encontra com presidente de Angola, José Eduardo dos Santos em Luanda

    Por Patrick McGroarty | The Wall Street Journal, de Luanda

    Publicado no Valor Econômico de 28/02/2013

    Criticado por opositores políticos e grupos de direitos humanos devido a suas finanças obscuras e sua elite política riquíssima, Angola criou recentemente um fundo soberano para usar a receita com o petróleo a serviço dos pobres.

    Embora a iniciativa do presidente José Eduardo dos Santos tenha levado alguns observadores a elogiar o novo fundo como um passo positivo, os críticos estão reclamando de quem ele escolheu para ajudar a administrar o fundo: seu filho, de 35 anos.

    Nos novos escritórios do fundo, dois andares com a maioria das mesas vazias num edifício moderno em Luanda, o filho do presidente, José Filomeno de Sousa dos Santos, disse que o fundo terá um capital inicial de US$ 5 bilhões e receberá mais US$ 3,5 bilhões por ano da receita com petróleo. Esses ativos serão administrados por um conselho de três membros liderado por Armando Manuel, assessor econômico do presidente.

    Como o membro do conselho responsável pela estratégia de investimento e a administração da carteira, o jovem Santos disse que iria modernizar as mal conservadas rodovias e infraestrutura de serviços do país, mas não antes de buscar retornos robustos para os investimentos do fundo. Esse ex-banqueiro não quis discutir os primeiros investimentos da instituição, dizendo que dependeria das prioridades estabelecidas pelo Parlamento e por seu pai, que governa Angola desde 1979.

    “Acreditamos que é essencial ser transparente sobre a administração desse fundo”, disse ele. “No fim do ano, as pessoas vão quer saber para onde foi cada centavo.”

    Mas os críticos dizem que o presidente mina a credibilidade do fundo ao colocar o filho num posto chave. “Duvido que Angola não tenha outra pessoa com competência técnica para administrar o fundo que não seja o filho dele”, disse Abel Chivukuvuku, líder do partido oposicionista Casa-CE. Em resposta às críticas, Santos disse que sua formação em finanças e a experiência com financiamentos e administração de banco de investimento o qualificam para o cargo.

    Mais de uma dezena de países africanos já criaram fundos soberanos para canalizar os lucros das vendas de petróleo e minerais. Em democracias fortes, como Botsuana, cabe aos fundos de investimento a formação de uma base para um futuro em que os recursos podem escassear. Em países mais fracos, porém, os economistas dizem que os fundos são prejudicados pela corrupção e incompetência.

    Metade dos 18 milhões de habitantes de Angola vive na pobreza, segundo o Banco Mundial. Sua capital litorânea é pontilhada por favelas e o país ainda está se recuperando de uma guerra civil que durou 30 anos e só acabou em 2002.

    Angola perdeu mais investimentos estrangeiros do que ganhou em cada um dos últimos três anos, mesmo tendo um crescimento econômico anual de mais de 5%. Na esperança de emitir títulos de dívida no mercado internacional e atrair investidores de setores diferentes do petrolífero, Angola está ansiosa por ser vista como um país cada vez mais democrático, transparente e estável.

    Ainda assim, imensas somas de dinheiro já deixaram o país africano desde as primeiras descobertas de petróleo, no fim dos anos 60. A Integridade Financeira Global, parte do Centro de Política Internacional, um instituto de estudos, estima que mais de US$ 35 bilhões tenham saído de Angola ilegalmente desde 1990, na forma de suborno, contrabando de mercadorias e impostos não pagos.

    A Transparência Internacional, uma organização de combate à corrupção em Berlim, classificou Angola na posição 157 entre os 176 países da sua pesquisa de 2012 sobre a percepção de corrupção de funcionários públicos. O ministro da Fazenda de Angola não respondeu a perguntas sobre esses dados.

    Alguns economistas estão aplaudindo Angola por ter criado um fundo que poderia aumentar a transparência do governo. “Até o debate sobre isso é em si positivo”, disse Marcelo Giugale, economista do Banco Mundial para a África. “Um fundo soberano é um sinal considerável de disciplina.”

    Santos disse que não sabia por que seu pai o escolheu e que eles não discutiram a nomeação. Os dois se veem pelo menos semanalmente na residência oficial do presidente para ver jogos de futebol e jantar em família. Santos disse que a família só discute seus planos para o país em termos gerais.

    “Ele nunca chegou em casa e disse: “Escuta, estamos planejando fazer isso ou aquilo””, disse Santos. “Não temos esse costume em casa.” Santos disse que o novo fundo soberano tem o objetivo de diversificar a receita de Angola além do petróleo e distribuir os benefícios para os pobres mais eficazmente.

    A escolha da Quantum Global Group como administradora dos ativos do fundo soberano irritou os críticos do presidente devido às ligações pessoais da firma suíça com Santos, o filho. O fundador e presidente do conselho consultor da Quantum é Jean-Claude Bastos de Morais, um financista suíço-angolano e mentor de Santos. Eles também são sócios, havendo montado, cinco anos atrás, um banco de investimento em Luanda chamado Banco Kwanza Invest.

    “Como o fundo pode ser transparente quando escolhe uma empresa com essas conexões?”, disse Marcolino Moco, que já foi primeiro-ministro e confidente do presidente. Ele foi demitido em 1996 e se tornou um crítico do que classifica como uma tendência do presidente para a ganância e a autocracia.

    Santos e Morais disseram que a Quantum teve o melhor desempenho possível administrando os ativos de Angola no desenrolar da crise financeira. “Creio que a única razão racional para termos sido escolhidos é a nossa experiência com o governo […] nosso histórico positivo”, disse Morais.

    Gareth Fielding, diretor-presidente da Quantum para gestão de investimentos, disse que a firma administra quase US$ 6 bilhões de menos de dez clientes.

    Todos os clientes são bancos centrais, fundos soberanos ou entidades similares, principalmente dos países emergentes da Europa e da África, acrescentou ele.

    Santos foi criado na capital, Luanda, antes de se mudar, na adolescência, para a Suécia e o Reino Unido, onde sua mãe trabalhava nas embaixadas angolanas. Seu pai permaneceu em Angola. Ele estudou na Universidade Americana de Londres e na de Westminster, obtendo um diploma de mestre em finanças e gerência da informação.

    Ele voltou a Angola em 2001, indo trabalhar para uma empresa estatal e investindo numa companhia de ônibus. Santos ainda possui uma participação de 40% no banco de investimento que abriu com Morais, da Quantum.