Lançado em SP o livro “PCdoB: um século de lutas em defesa do Brasil, da democracia e do socialismo”
Com auditório lotado, a Fundação Maurício Grabois apresentou o livro de 164 páginas que encerra as celebrações do centenário do Partido Comunista do Brasil e dá início às comemorações dos 101 anos.
Rovilson Britto, Fernando Garcia, Rosanita Campos, Adalberto Monteiro, Alcides Amazonas e Osvaldo Bertolino compuseram a mesa da solenidade no dia 2 de março. Foto e texto de Sueli Scutti
Com auditório lotado, a Fundação Maurício Grabois (FMG) apresentou o livro de 164 páginas que encerra as celebrações do centenário do Partido Comunista do Brasil e dá início às comemorações dos 101 anos da legenda fundada em Niterói (RJ) em 25 de março de 1922.
A publicação, organizada pela FMG, deu forma física a um documento de mesmo nome aprovado, em março de 2022, pelo Comitê Central do PCdoB para marcar o centenário de fundação do Partido. O evento de lançamento ocorreu em São Paulo, na noite de 2 de março, com a presença dos organizadores do livro e de dirigentes, militantes e simpatizantes partidários.
Em mensagem enviada por vídeo, Renato Rabelo, ex-presidente do PCdoB e atual presidente da Fundação Maurício Grabois, emocionou a plateia ao dizer que o centenário é de um “grande simbolismo”, porque nenhum partido chegou a 100 anos de existência no Brasil. “E o nosso, para completar o centenário, passou por várias fases em que precisou se reestruturar, se reorganizar, se recompor”. Para ele, “se isso não tivesse acontecido, o Partido não teria resistido, daí a importância dessas reestruturações para a existência do Partido, elas foram decisivas para chegarmos a esse feito inédito. Isso tem um enorme valor simbólico e de conteúdo.”
Rosanita Campos, coordenadora da Cátedra Claudio Campos na FMG, abriu a sessão de lançamento com a exibição do filme em curta-metragem “Feito de Amor e Coragem”, lançado pela FMG em março de 2022, em meio às celebrações dos 100 anos. Em seguida ela homenageou dois dos principais teóricos do marxismo brasileiro que morreram nos dois últimos anos, Sérgio Rubens Torres e Haroldo Lima, cuja neta Clara Lima estava presente.
Também estavam presentes ao evento Adalberto Monteiro, Fernando Garcia e Osvaldo Bertolino, que compuseram a equipe organizadora do livro, coordenada por Renato Rabelo. Renato é o “pai da criança”, na percepção de Fernando Garcia, historiador que coordena o Centro de Documentação e Memória da Fundação. Isso porque “ele e outros camaradas dirigentes redigiram a política hoje desenvolvida pelo Partido e elaboraram o entendimento, a síntese, sobre os 100 anos de existência da legenda”.
Partido surgiu com a modernidade
O historiador disse que o “Partido fundou a modernidade no Brasil”, ao lembrar que o ano de 1922 foi o ano dos “partos da modernidade” que viria logo depois. “Uma das dores desses partos foi a fundação do PCdoB, junto com a Semana de Arte Moderna, a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana e o Centenário da Independência”. Então, “o Partido nasceu como a dor do parto da modernidade”, explicou.
O livro-documento é uma sequência de outros que foram publicados em datas comemorativas, como o dos trinta anos (1952), dos cinquenta (1972), dos oitenta (2002) e dos noventa anos (2012), que mostram uma robusta elaboração do significado do Partido Comunista do Brasil, de sua história e seus desafios.
O livro está dividido em quatro partes. A primeira é a história cronológica do PCdoB, que enfatiza suas lutas, campanhas e personagens a partir de um recorte temporal marcado pelos pontos de viragem da história dos comunistas. A segunda parte desenvolve a relação imbricada que a história do PCdoB tem com a própria história do Brasil, destacando os legados dos comunistas para o povo e realçando as cinco gerações de dirigentes que construíram o Partido nesse século de existência.
A terceira parte do material são as “sínteses orientadoras” da construção do Partido, que remetem às lições – acertos e erros – da trajetória centenária para as novas gerações. E a quarta parte trata da nova luta pelo socialismo.
Adalberto Monteiro, que é secretário de Formação e Propaganda do PCdoB, disse que “Houve um esforço liderado pelo Renato Rabelo para fazer uma nova síntese da história dos comunistas no Brasil”, materializada no livro, que está à venda por 25 reais, na página da Livraria Anita Garibaldi (https://www.livrariaanita.com.br/).
Ele também destacou a parte que exalta as cinco gerações de dirigentes que lideraram o Partido nos 100 anos e seus legados à Nação e aos trabalhadores, desde Astrojildo Pereira, na fundação e nos primeiros anos da existência do PCdoB – que até os anos 1960 utilizava a sigla PCB; passando por Luiz Carlos Prestes, a partir da década de 1940; João Amazonas, no começo da década de 1960; Renato Rabelo, que sucedeu Amazonas na presidência, no fim de 2001; e Luciana Santos, atual presidente e primeira mulher a presidir o Partido. “Luciana assumiu [em 2015] a quinta geração enfrentando um momento de mar revolto – a escalada reacionária que culminou com a vitória do neofascismo em 2018 –, e liderou o Partido com a proposta de resistência em uma frente ampla para derrotar a extrema direita, de Bolsonaro”.
Trajetória se entrelaça com história do Brasil
Toda essa trajetória, narrada no livro, é entremeada pela atuação comunista nos fatos marcantes da história do Brasil e das lutas populares, desde o declínio da República Velha, no mesmo período histórico da fundação do Partido, passando pela era do nacional-desenvolvimentismo, que abarca os governos de Getúlio Vargas e a campanha “O petróleo é nosso”, perpassando a luta contra a ditadura militar, a Guerrilha do Araguaia, a incorporação da Ação Popular (AP), a campanha pelas “Diretas Já!”, a fase da legalização do PCdoB, a consolidação da democracia e a resistência ao neoliberalismo, período que desembocou na vitória de Lula em 2002 com seu projeto de mudanças para o país, até finalmente o golpe político de 2016 que freou a acensão das forças democráticas e progressistas e culminou na eleição de Bolsonaro em 2018. O livro situa cada geração de líderes no contexto em que conduziram o Partido.
“Podemos afirmar, com base em fatos, que os comunistas ajudaram a construir esta Pátria, e o livro procura demonstrar isso ao longo de suas 164 páginas”, registrou Adalberto, que realçou a importância da tática da frente ampla insistentemente defendida pelo PCdoB e que deu a vitória a Lula na eleição para a Presidência do Brasil em 2022. Ele aproveitou para informar que aquela era a primeira solenidade de uma série de lançamentos da publicação, a serem agendados em outras cidades.
O jornalista e escritor Osvaldo Bertolino exaltou grandes pensadores que construíram o PCdoB, realçando ser “importante registrar o papel de indivíduos na história do Partido”. Entre os citados está o principal fundador do Partido, em 1922, Astrojildo Pereira, que “era influenciado pelas ideias anarquistas mas procurou na realidade brasileira a interpretação do pensamento revolucionário da época”. O livro traz outros nomes relevantes na formulação teórica do PCdoB em distintos momentos históricos do Partido e do Brasil. O jornalista também realçou que “a luta de ideias é parte da história partidária, das dualidades, das contradições de cada época vivida pelos comunistas”.
Alcides Amazonas, presidente do PCdoB na capital paulista, comentou que “é gratificante ouvir, ler, conhecer a história do nosso partido, saber que essa história foi construída por muitos lutadores dos quais temos orgulho. E a melhor forma de homenageá-los é continuar lutando por aquilo que eles lutaram em suas épocas”. Ele aproveitou para informar que o Comitê Municipal do Partido na cidade inicia um ciclo de celebração aos 101 anos da legenda, que, entre outras atividades, terá um festejo pelas ruas do Centro, no dia 24, “para mostrar a nossa cara e convidar o povo a se filiar”.
Contribuição dos camaradas do PPL
A mensagem em texto enviada pela deputada estadual pelo PCdoB em São Paulo Leci Brandão foi na mesma linha da importância de conhecer a história. “O lançamento do livro é um momento simbólico da história que vem sendo construída com muita garra e beleza por homens e mulheres que lutam e sonham com um Brasil sem desigualdades e com justiça para todos. Por isso, o livro deve ser conhecido e reconhecido”, escreveu a deputada.
Rovilson Britto, presidente do PCdoB no Estado de São Paulo, citou o verso “quando penso no futuro não esqueço o meu passado”, para afirmar que o livro “nos inspira a refletir sobre como nós marxistas podemos aprofundar nosso conhecimento da história e da realidade brasileira e ajudar essa corrente revolucionaria surgida em 1848, da qual somos herdeiros, com erros e acertos que esse movimento histórico promoveu e continua promovendo”.
Corroborando afirmação feita antes por Adalberto Monteiro sobre a contribuição trazida pelos militantes do Partido Pátria Livre, ao se incorporarem ao PCdoB, no fim de 2018, Rovilson disse que “Esse rio caudaloso [PCdoB] recebeu recentemente forças muito importantes para fortalecer a sua trajetória e seguir na luta”. E prosseguiu: “Falo da contribuição de uma compreensão elevada do papel da Nação que os camaradas do PPL trouxeram, assim como a formulação de um trabalhismo mais avançado e de esquerda em nosso país, do qual o PCdoB é também herdeiro e portador de lideranças.”
Vários desses camaradas estavam presentes à solenidade, entre eles Carlos Lopes, que é um dos quatro vice-presidentes nacionais do PCdoB e editor do jornal “Hora do Povo”, a sindicalista Maria Pimentel, o médico Sérgio Cruz e a própria Rosanita Campos. Também presentes alguns militantes históricos do PCdoB paulista, como os ex-deputados Ana Martins, Jamil Murad e Nivaldo Santana, além do guerrilheiro Zezinho do Araguaia.
Ao final da sessão, o escritor Adalberto Monteiro autografou livros adquiridos pelos convidados.
Sueli Scutti é jornalista
Os documentos que marcaram datas comemorativas dos 30 anos, 50 anos, 80 anos e 90 anos da fundação do Partido Comunista do Brasil