O escritor comunista Jorge Amado
O romance proletário é uma marca na literatura do jovem Jorge Amado
Por Theófilo Rodrigues
O dia 10 de agosto é lembrado no Brasil como a data de aniversário de um dos principais escritores nacionais: o baiano Jorge Amado. O escritor nasceu em 10 de agosto de 1912 na cidade de Itabuna e faleceu em 06 de agosto de 2001 em Salvador.
Ainda criança, Jorge Amado mudou com sua família para a vizinha Ilhéus, cidade conhecida pela cultura das fazendas de cacau e por todos os seus traços arcaicos, experiência que influenciou decisivamente sua vasta produção literária que está traduzida em cerca de 50 idiomas.
Seus primeiros livros, Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1935), Mar morto (1936) e Capitães da areia (1937), todos escritos com apenas vinte e poucos anos, são exemplos daquilo que a literatura convencionou chamar de romance proletário. Os dilemas da classe trabalhadora e da consciência de classe aparecem nessas obras de forma profunda, mas também didática.
Jorge Amado fez parte de uma geração de escritores que passaram pelo PCB como Patrícia Galvão, Oswald de Andrade e Graciliano Ramos. Em 1935, Graciliano chegou a escrever uma resenha crítica sobre a obra do jovem Jorge Amado que, com apenas 23 anos, acabara de publicar Suor (a resenha de Graciliano Ramos sobre a obra do jovem Jorge Amado pode ser lida na íntegra aqui).
De acordo com Graciliano, diferentemente da “literatura antipática e insincera” de sua época, “o Sr. Jorge Amado é um desses escritores inimigos da convenção e da metáfora, desabusados, observadores atentos”. Esse elogio, no entanto, não fez Graciliano deixar de criticar a radicalidade na militância literária de Amado.
“O Sr. Jorge Amado tem dito várias vezes que o romance moderno vai suprimir o personagem, matar o indivíduo. O que interessa é o grupo – uma classe inteira, um colégio, uma fábrica, um engenho de açúcar. Se isso fosse verdade, os romancistas ficariam em grande atrapalhação. Toda análise introspectiva desapareceria. A obra ganharia em superfície, perderia em profundidade”, escreveu Graciliano na época.
A crítica parece ter sido assimilada. Em 1942, lançou O Cavaleiro da esperança, biografia do líder comunista Luís Carlos Prestes. O indivíduo, o personagem, apareceu no centro da história.
Mas Jorge Amado não militou apenas na literatura. Em 1946, foi eleito deputado constituinte pelo Partido Comunista do Brasil e foi, inclusive, o autor da emenda que garantiu a liberdade religiosa na Constituição. Também foi de sua autoria a emenda constitucional que isentou tributos para a publicação de livros e jornais no Brasil.
Na década de 1950, publicou a trilogia Os Subterrâneos da Liberdade, romance em que denuncia a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Após a morte de Mauricio Grabois na Guerrilha do Araguaia, em 1973, Jorge Amado escreveu um belo texto sobre o amigo (Esse relato pode ser lido na íntegra aqui).
“Entre os muitos dirigentes comunistas com quem tratei durante meus anos de Partido, Maurício Grabois foi um dos daqueles a quem me liguei por laços mais profundos do que os da luta política, da militância. Além de companheiros, fomos amigos”, relata o escritor.
Em 2012, por ocasião da passagem de seu centenário, a Fundação Mauricio Grabois homenageou o escritor com uma bela solenidade. “A obra de Jorge Amado resiste ao tempo, é perene e se projeta para o futuro”, disse o presidente da FMG, Adalberto Monteiro, naquele evento. (Sobre a homenagem da FMG para o centenário de Jorge Amado, clique aqui).
Por tudo isso, o exemplo de Jorge Amado, literário e político, não pode ser esquecido.
Theófilo Rodrigues é mestre em Ciência Política pela UFF e doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio. Realizou Pós-Doutorado em Ciências Sociais na UERJ.