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Jornadas pela Democracia marcam educação como área estratégica

9 de outubro de 2023

Em seu primeiro dia, evento debate os desafios educacionais no contexto da guerra cultural

“Não tenham medo de entrar na política. Ela é a formação mais nobre. Não se trata de uma política conjuntural, de gabinete, mas da política formadora para o desenvolvimento humano”. Com essa fala, a reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), professora Angelita Pereira de Lima, abriu o primeiro dia das Jornadas pela Prevalência das Ideias Democráticas e Progressistas, evento interinstitucional promovido por seis Instituições de Ensino Superior (IES) goianas, duas entidades de classe na área da educação e lideranças ligadas à democracia.

Com início na noite da última terça-feira (3/10), o evento ocorreu no auditório da Adufg-Sindicato, com a mesa de abertura Luta Ideológica – Educação e Ciência. Participou do encontro um público heterogêneo, composto por professores e servidores de todas as IES do Estado, estudantes, sociedade civil organizada e lideranças políticas.

A mesa-redonda, mediada pela reitora da UFG, foi composta por Manuella Mirella, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE); Ildeu de Castro, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Catarina de Almeida, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB); e Edward Madureira Brasil, assessor da presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e ex-reitor da UFG.

Os participantes refletiram sobre o papel da educação e da ciência diante de alguns desafios: a guerra cultural; o negacionismo e a desinformação; o desconhecimento acerca da realidade das universidades brasileiras; e a necessidade de se garantir que os espaços de ensino sejam democráticos, condizentes com a pluralidade que compõe o país.

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Reitora da UFG ressaltou política como formadora para o desenvolvimento humano

Ideia conjunta

A reitora da UFG explica que as Jornadas pela Democracia são fruto de um esforço coletivo e de uma provocação. “O deputado constituinte Aldo Arantes esteve na Universidade em novembro do ano passado [2022] e nos convocou para nos movimentarmos em defesa das ideias progressistas”, ponderou Angelita Lima.

Arantes, que estava na plateia, explicou sua motivação: “Eu estava convencido de que os setores democráticos não captaram a gravidade de uma guerra cultural que carrega a particularidade da internet – que atinge milhões – e dos algoritmos, que orientam o que veem estas pessoas. Estava convencido de que tínhamos de agir”.

A partir desta provocação – e com um ano para que pudessem se organizar – oito instituições parceiras se uniram, em uma articulação inédita, para a realização do evento: a Universidade Federal de Goiás (UFG); o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato); o Instituto Federal Goiano (IF Goiano); o Instituto Federal de Goiás (IFG); a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO); o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) e as Universidades Federais de Catalão (UFCat) e Jataí (UFJ).

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Participantes reunidos no primeiro dia de discussões das Jornadas pela Democracia

Provocação internacional

“A frase com que abri este evento, sobre a coragem de se entrar na política, foi um chamado recebido, pelas universidades, do Papa Francisco. O Vaticano convidou as instituições de ensino para discutir o nosso papel no combate à desigualdade social e, neste encontro, chamou-nos à política”, disse a reitora. Para Angelita, as Jornadas pela Democracia estão no tom deste chamamento. “A política que tem de ser feita é o enfrentamento à guerra cultural”, disse ela.

Educação Básica

O professor Ildeu de Castro, que presidiu por dois mandatos a SBPC e é atual presidente de honra da instituição, alertou para o papel do ensino e da ciência no combate ao negacionismo. Para ele, a chave de virada está na educação básica, pois ali é o lugar em que as pessoas adquirem suas primeiras formações.

“Tem-se, no geral, uma informação muito rasa sobre como a ciência funciona. As pessoas têm de sair da educação básica com um conhecimento mais sólido. A universidade tem um compromisso muito grande: o desafio de se investir na formação de professores. Este é um dos pontos centrais para melhorar essa questão da luta ideológica”, ponderou Ildeu.

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Ildeu de Castro, presidente de honra da SPBC, destacou papel do ensino e da ciência

Desconstrução de mitos

Já Edward Brasil, ex-reitor da UFG e atual assessor na Finep, buscou desconstruir, baseado nos estudos do professor Nelson Cardoso Amaral (UFG), alguns mitos sobre a educação superior que, ao descredibilizarem as instituições de ensino, ajudam a fortalecer o negacionismo, as fake news e a desinformação.

“O primeiro mito é que o país gasta muito em educação. Outro que deve ser enfrentado é o de que a universidade brasileira é cara”. Segundo os dados apresentados por Edward, para se chegar no investimento dos países da OCDE na educação, o Brasil teria de investir 14% de seu PIB. “Ora, em 2022, investimos pouco mais de 5% na área”, ponderou o ex-reitor.

Além disso, Edward aponta que o custo médio, por ano, de cada aluno na universidade pública é de R$ 14 mil. “Este valor, se dividido por 12, não ultrapassa a média de uma mensalidade de uma instituição particular, estando no mesmo nível das outras instituições, o que desmistifica a questão sobre o fato de a universidade pública ser cara”, ratifica.

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Ex-reitor da UFG, Edward Madureira falou sobre os mitos relacionados ao ensino superior

Turbantes e cocares

A presidenta da UNE, Manuella Mirella, apontou a necessidade de se pensar em temas estruturantes quando se fala em educação. “Qual é o modelo de universidade que temos hoje? Limitado às quatro paredes? Fazer o curso e ir ao mercado de trabalho?”, provocou. Para a presidenta, que é formada em Química e atualmente estudante de Engenharia Ambiental, os estudantes devem ajudar na construção de um ensino que seja, de fato, para o povo.

“Se é certo que nós conseguimos revolucionar a educação brasileira com a questão de cotas e do acesso, hoje precisamos cuidar da política de permanência. Na pandemia, os índices de evasão foram entre a população negra e pobre: a gente precisa colocar o povo brasileiro em contato com este projeto de universidade que queremos. É necessário construir uma universidade, também, de turbante e de cocar”.

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“Que modelo de universidade nós temos?”, questionou a presidenta da UNE, Manuella Mirella

Não é só muro

A pesquisadora Catarina Almeida, doutora em Educação e estudiosa da militarização nas escolas, ponderou sobre a necessidade de fazer com que o arcabouço legal no Brasil, avançado em termos de direitos humanos, seja efetivado na prática. Segundo ela, para isso, as instituições de ensino são lugares de formação essenciais.

No entanto, Almeida pontua que há a necessidade de que os rumos educacionais no país sejam alterados. Para a doutora em Educação, há excessivo foco em rankings, em geração de resultados que, segundo ela, não dizem dos anseios da população.

“Apesar de sua avançada legislação, esse país tem uma população carcerária de 820 mil pessoas, composta majoritariamente por jovens, pessoas do sexo masculino, negras e com baixa escolaridade. O sistema educativo está sendo pensado para enfrentar essa realidade? Os estudantes e professores são cobrados por resultados que não falam sobre suas vidas. A política que estamos desenhando não vai evitar que o 8 de janeiro se repita”, alertou.

Para ela, a escola não pode ser vista como muros e salas e objetos. “Como diz Paulo Freire no poema ‘A escola é’, ela é gente”, finalizou.

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A pesquisadora Catarina Almeida cobrou efetivação da legislação voltada aos direitos humanos

Fonte: Portal da UFG

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