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    Sociedade

    Brasil sobe no IDH, aponta ONU, mas desigualdade persiste

    Mesmo com avanço de cinco posições, o Brasil ocupa a 84ª posição e fica atrás de 13 países latino-americanos; baixa escolaridade limita progresso no desenvolvimento humano. Confira análise

    POR: Theófilo Rodrigues

    5 min de leitura

    Pessoas em situação de rua em Brasília. Foto Antônio Cruz/Agência Brasil
    Pessoas em situação de rua em Brasília. Foto Antônio Cruz/Agência Brasil

    Brasil ainda é um país desigual e com desenvolvimento humano insatisfatório – Nesta terça-feira (06/05), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgou o seu mais novo Relatório de Desenvolvimento Humano. Esse documento traz o ranking global do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), instrumento que avalia dimensões como educação, saúde e renda de todos os países.

    O ranking divide os 193 países em quatro blocos: 74 países com IDH muito alto (acima de 0,800); 50 países com IDH alto (entre 0,700 e 0,799); 43 países com IDH médio (entre 0,550 e 0,699); e 26 países com IDH baixo (abaixo de 0,550). Quanto mais próximo de 1, melhor o desempenho do país.

    Veja os 5 países com melhor IDH e a posição do Brasil e dos países da América do Sul no relatório

    Ranking IDH: Top 5 e América do Sul

    Lista dos 5 países mais bem colocados no ranking do IDH e todos os países da América do Sul presentes no relatório

    Confira o ranking completo do IDH publicado pela ONU: PNUD IDH 2023/2024

    Do ponto de vista global, o relatório aponta para dois problemas principais. Por um lado, há uma desaceleração sem precedentes do desenvolvimento humano no mundo. Em outras palavras, os países estão progredindo de forma muito lenta. Por outro lado, há um nítido aumento das desigualdades entre países ricos e pobres. A distância entre os países com IDH Baixo e aqueles com IDH Muito Alto continua a crescer, o que indica uma tendência de ampliação das desigualdades e assimetrias no mundo.

    Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global entre 2000 e 2024, com três cenários de tendência: antes da pandemia (linha verde), entre 2021 e 2024 (linha azul) e com base apenas em 2023–2024 (linha amarela). O gráfico destaca o impacto da pandemia e os diferentes ritmos de recuperação projetados. Crédito: Relatório de Desenvolvimento Humano 2023/2024 – A Matter of Choice / UNDP (PNUD).

    Se o relatório está correto em seus dados e em suas conclusões, então a notícia é preocupante. Por uma perspectiva geopolítica, poderíamos sugerir que, ao contrário do que seria intuitivo imaginar, o declínio relativo da hegemonia dos Estados Unidos e a ascensão acelerada da China não tem tido repercussão ou espelhamento na redução das desigualdades sociais no planeta.

    Na América Latina, 13 países possuem desenvolvimento humano superior ao brasileiro: Chile; Argentina; Uruguai; Antígua e Barbuda; São Cristóvão e Névis; Panamá; Costa Rica; Bahamas; Barbados; Trinidad e Tobago; Peru; México; e Colômbia.

    Sob esse registro, o caso brasileiro merece atenção. Nesse ranking, baseado em dados de 2023/2024, o Brasil está em 84º lugar com índice de 0,786. Ou seja, há 83 países no mundo com uma qualidade de vida maior do que a brasileira. Não obstante nos últimos 22 anos tenhamos tido 16 deles com governos liderados pela socialdemocracia no país, ainda estamos muito mal posicionados no cenário global.

    Leia também: Desigualdades regionais no Brasil são um desafio histórico e contemporâneo

    Quando o relatório é analisado pelo aspecto da desigualdade social, o IDH do Brasil cai para 0,594 (posição 105ª no ranking) o que o leva para a categoria de IDH médio.

    O principal calcanhar de Aquiles do IDH brasileiro é a educação. A baixa escolaridade média da população é a variável que atua como obstáculo para um maior crescimento do desenvolvimento humano no país. No Brasil, a escolaridade média da população ficou em 8,43 anos. No Chile, os alunos frequentam a escola por 14,3 anos e na Argentina por 11,2 anos. México e Colômbia têm escolaridade média de 9 anos.

    Sem perder de vista a necessidade de investimentos no ensino superior, na ciência, tecnologia e inovação, o Estado precisa pactuar com a sociedade brasileira a urgência de universalizarmos em todas as regiões do país a educação básica com tempo integral de 8 horas. A educação não pode ser um cobertor curto em que para ter mais recursos para as escolas seja necessário retirar das universidades, como vem acontecendo.

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    Ao mesmo tempo, a variável renda no IDH não pode ser tratada como trivial. É preciso garantir investimentos do estado para o pleno emprego e a valorização permanente do salário-mínimo acima da inflação, diferentemente do que tem pregado o pensamento neoliberal no país. Algo impossível de ocorrer enquanto o Banco Central estiver capturado pelos interesses do mercado e do rentismo e não pelos da sociedade e da solidariedade.

    A versão completa do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2025, publicado pelo PNUD, está disponível em inglês. Acesse aqui

     

    Theófilo Rodrigues é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UCAM. É Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Cultura & Sociedade da Fundação Maurício Grabois.

    Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.