Há 80 anos, em 3 de maio de 1945, as numerosas tropas nazistas alemãs e fascistas italianas, no teatro de operações da Itália, renderam-se às forças aliadas, dentre as quais figurou, com brio, bravura e brilhantismo, o contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Dentre os nossos militares estava o meu tio, sargento Ruy de Noronha Goyos, da artilharia. Naquela ocasião, o comandante brasileiro, general Mascarenhas de Moraes, afirmou, em sua Ordem do Dia: “…com orgulho sem jactância, e confiança sem exageros, retornamos… para prosseguirmos na faina sagrada de fazer um Brasil forte e respeitado, num mundo livre e feliz.”
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O episódio acima foi por mim relatado no livro A Campanha da Força Expedicionária Brasileira pela Libertação da Itália, publicado em 2013, com edições também em italiano e inglês. O livro foi um sucesso e representou o Brasil na Feira do Livro de Frankfurt, com a presença de Luiz Alberto Moniz Bandeira e Umberto Eco, além de uma mensagem de Romano Prodi. Ele teve dezenas de lançamentos, dentre os quais dois na Itália: na Embaixada do Brasil e pela ANPI, na Piazza del Popolo. O livro, pelo qual recebi uma condecoração da Presidência da República, no mandato Dilma Rousseff, integra alguns programas do Exército brasileiro.

Capa do livro A campanha da Força Expedicionária Brasileira pela libertação da Itália, de Durval de Noronha Goyos Jr. Foto: Reprodução
No heroico combate contra o nazifascismo, a FEB percorreu 400 quilômetros no encalço das formações inimigas, de Lucca a Alexandria, num percurso ao norte, para a Toscana; daí para o leste, na Emília-Romanha; e, posteriormente, para o noroeste, até Alexandria, acima de Gênova. Naquele sítio, em Fornovo, as forças da FEB, tendo na vanguarda o capitão Plínio Pitaluga, dos meios mecanizados, isoladamente forçaram a rendição da 148ª Divisão Alemã, comandada pelo general Otto Fretter-Pico, reforçada pelas forças fascistas da República de Salò, conduzidas pelo general Mario Carloni.
Na ocasião, a FEB acolheu um contingente de 20.573 combatentes inimigos e 5 mil viaturas, um número de pessoal equivalente ao total das forças brasileiras naquele teatro de guerra. Cerca de mil feridos opositores foram tratados por nossos serviços médicos de campo. Naquele conflito, 33% das tropas alemãs na Itália renderam-se à FEB, que tinha apenas 5% do contingente aliado. Em seguida, as forças brasileiras avançaram até Turim, no Piemonte, e alcançaram a fronteira da França, no dia 2 de maio de 1945, um dia antes da rendição inimiga.
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A gloriosa Força Aérea Brasileira também teve uma atuação de destaque com o seu Grupo de Caça — um dos mais ativos — e o Esquadrão de Coligação e Observação. A Aeronáutica brasileira ainda operou na costa do país e no Atlântico Sul, onde lutou com heroísmo e destaque a nossa Marinha de Guerra. Dezenas de milhares de militares brasileiros engajaram-se no conflito nestas estratégicas posições. No interior, os trabalhadores do Exército da Borracha produziam a mercadoria indispensável para o esforço de guerra aliado.
As condições do Brasil daqueles tempos eram muito inferiores àquelas dos dias atuais e, não obstante, nosso povo escreveu um capítulo da História que não pode e não deve ser esquecido — por tudo o que representa para a consciência nacional, pela definição de nossos melhores valores humanísticos e para a comunidade internacional. A faina sagrada pela democracia, sabiamente referida pelo general Mascarenhas de Moraes, não pode cessar jamais.
Durval de Noronha Goyos Junior é jurista, escritor, historiador e lexicógrafo. Autor da Breve História da Imigração Italiana; do Dicionário de Aforismas Napolitanos (napolitano, italiano, português e inglês); e da História da Campanha da FEB para a Libertação da Itália (português, italiano e inglês), pela qual recebeu medalha da Presidência da República do Brasil (Dilma Rousseff). Escreveu ainda 2 livros em italiano sobre investimentos no Brasil publicados pela Embaixada Brasileira na Itália e pelo Consulado Geral de Milão, em anos diversos.
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.