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    Notícias da FMG

    Partidos políticos são decisivos contra extrema-direita em 2026, diz Nádia Campeão

    Mesa do Ciclo de Debates para o 16º Congreso do PCdoB em Porto Alegre (RS) teve como tema "Partido Comunista e a Luta Socialista no Século XXI"

    POR: Leandro Melito

    10 min de leitura

    Ciclo de Debates em Porto Alegre. Foto: Tiago Morbach e Liz Filardi
    Ciclo de Debates em Porto Alegre. Foto: Tiago Morbach e Liz Filardi

    A aproximação do ano eleitoral de 2026 coloca no horizonte para a esquerda brasileira um enfrentamento com as forças de extrema direita no país, aliadas ao governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

    “Nós temos que preparar as forças do nosso campo para um enfrentamento que vai se mostrando cada vez mais forte, cada vez mais exigente”, destacou Nádia Campeão (PCdoB), vice-prefeita de São Paulo entre 2013 e 2016 na gestão de Fernando Haddad (PT).

    Para esse enfrentamento que se coloca diante do campo progressista, Campeão destaca como fundamental resgatar o papel dos partidos políticos do campo popular e democrático, com ação destacada do PCdoB.

    “Não temos como imaginar esse processo sem a atuação fundamental dos partidos políticos, presentes também através dos militantes em extensa rede de entidades e movimentos sociais. Não é possível pensar num processo de enfrentamento que deixe de lado ou minimize o papel dos partidos”, destacou durante o quarto encontro do Ciclo de Debates para o 16º Congresso do PCdoB.

    Nádia Campeão (PCdoB). Foto: Tiago Morbach e Liz Filardi

    Com o tema “Partido Comunista e a Luta Socialista no Século XXI“, a mesa foi realizada em Porto Alegre (RS) e transmitida ao vivo pela TV Grabois, tendo como ponto de partida o Projeto de Resolução Política do 16º Congresso do PCdoB.

    Nesse documento, o partido situa um conjunto de exigências para que possa “cumprir um papel destacado nessa jornada ao lado de outros partidos do campo popular, da esquerda e do campo progressista”, aponta Nádia Campeão.

    “Nós também colocamos o desafio de que o partido possa jogar um papel especial, de conseguir ajudar na elaboração desses caminhos. Um papel que inclusive supere a própria dimensão atual do nosso partido, mas que tenha essa influência no debate das ideias e dos rumos do nosso país”, destacou.

    Diante desse cenário, Nádia aponta dois desafios principais que exercem pressão sobre a atuação partidária comunista: o movimento na sociedade brasileira para afastar a militância dos partidos políticos e uma fragmentação exacerbada das causas e organizações a elas associadas em detrimento dos projetos mais amplos, como no novo projeto nacional de desenvolvimento defendido pelo PCdoB.

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    Diante desses desafios, Nádia Campeão aponta a necessidade de um revigoramento partidário, que contemple a atuação do partido tanto na dimensão institucional quanto na luta social e na disputa de ideias:

    “O que estamos dizendo agora para esse Congresso é que esse trabalho de revigoramento passa por reafirmar que nós atuamos nessas três frentes. Os comunistas não podem abrir mão de estar em nenhuma delas.”

    No atual momento, Nádia defende a necessidade de recalibrar essa atuação, a partir da avaliação de que o partido se voltou muito nos últimos anos para o trabalho institucional, o que criou uma defasagem nas outras duas frentes.

    “Hoje nós estamos constatando que é preciso um compromisso do Congresso e do partido em elevar a luta dos comunistas na frente da luta social. E junto a isso o embate de ideias, a disputa que hoje tem na sociedade em torno dos novos problemas que o mundo e o país vivem.”

    Partidos Comunistas no mundo

    Ricardo Alemão Abreu, diretor de Temas Internacionais e Cooperação Internacional da Fundação Maurício Grabois (FMG) trouxe para a discussão a importância da atuação dos Partidos Comunistas no mundo hoje diante do fenômeno do neofascismo e do reposicionamento do imperialismo estadunidense em áreas consideradas de influência deles, como é o caso da América Latina.

    Abreu aponta que existiu um movimento de acumulação de forças do campo popular na primeira década deste século, que não resultou, com exceção da Venezuela, em revoluções e novos estados de democracia popular. O programa do PCdoB de 2009 registra como processos promissores nesse sentido Bolívia, Venezuela e Equador.

    “No Equador foi derrotado o processo, inclusive é um governo de direita hoje e na Bolívia foi aquele desastre que a gente viu ontem [domingo (17)] com a esquerda dividida e um segundo turno de dois candidatos de direita, a direita ocupou todo o segundo turno na Bolívia. Isso demonstra que também, quando você tem processos que não consolidam um novo estado de democracia popular, o retrocesso acaba sendo quase que inevitável”, destacou.

    Ricardo Alemão Abreu (PCdoB). Foto: Tiago Morbach e Liz Filardi

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    Apesar desse avanço das forças de extrema-direita no mundo, Abreu destaca que houve um avanço do socialismo, em sua terceira fase histórica, a partir da experiência chinesa. “Começa uma fase nova que a gente está vivendo agora os frutos dessa terceira fase histórica do socialismo que está ainda nos seus meados, vai dar muita coisa ainda, muito resultado. Inclusive esse sucesso do socialismo na China, no Vietnã e outros países é o que leva à resposta do neofascismo como foi no século passado”, destacou.

    Números do comunismo no poder

    China: 1,4 bilhões de habitantes e 100 milhões de militantes comunistas
    Vietnã: 100 milhões de habitantes e 5 milhões de militantes comunistas
    Laos: 8 milhões de habitantes e 400 mil militantes comunistas
    Coreia: 26 milhões de habitantes e 4 milhões de militantes comunistas
    Cuba: 11 milhões de habitantes e 1,3 milhão de militantes comunistas

    Entre os partidos comunistas que crescem hoje na América Latina, Abreu destacou o papel do Partido Comunista do Uruguai que está crescendo dentro da Frente Ampla e o PC do Chile, que ganhou a prévia dentro das forças de esquerda com a candidatura de Jeanette Jara para disputar as eleições. “Ser partido comunista pra valer não é algo que limita o crescimento de um partido, pelo contrário, o que faz eles terem crescimento e perspectiva estratégica é o fato de manterem a identidade comunista”, destaca Abreu.

    Em relação aos países capitalistas dependentes, caso do Brasil, Abreu considera que uma transição ao socialismo só será possível a partir da derrota da extrema direita. “Sem derrotar o neofascismo nós não vamos conseguir avançar como a gente precisa”, aponta.

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    A partir do programa do PCdoB, Abreu ressalta que a revolução brasileira só será possível a partir da atuação do partido junta às forças revolucionárias. Nesse sentido, ele defende que a atuação do PCdoB com a esquerda e as forças progressistas deve ter como central a hegemonia do programa revolucionário. “A essência é o novo poder popular”, destaca. Sem essa essência, ele considera que não é possível ter estabilidade e perspectiva para um projeto rumo ao socialismo, “porque o conteúdo do Estado ainda não foi modificado” e, portanto, a classe dominante ainda exerce sua hegemonia. “A gente pode estar no governo, até com maioria parlamentar às vezes, mas a natureza de classe do Estado ainda é de um Estado capitalista burguês. Não é um estado de poder popular em transição ao socialismo. Essa é a grande questão.”

    Soberania nacional

    Carlos Lopes, vice-presidente nacional do PCdoB, destacou a questão da soberania nacional como um elemento central para nortear a atuação do partido, diante das agressões praticadas contra o Brasil pelo governo dos Estados Unidos.

    “Você não chega a uma revolução se não for através de um projeto nacional de desenvolvimento. Essa é a questão chave para a atuação do nosso partido, em função de recuperar os símbolos nacionais. Temos que atuar no sentido de ampliar a democracia, aumentar a participação do povo. O centro da questão da democracia no Brasil é a questão da soberania nacional”, destacou.

    Carlos Lopes. Foto: Tiago Morbach e Liz Filardi

    Centralidade do trabalho

    O secretário Sindical e membro do Comitê Central do PCdoB, Nivaldo Santana avalia que vivemos hoje uma crise sistêmica do capitalismo em que os países imperialistas buscam jogar nas costas dos trabalhadores o ônus dessa crise, tendo como estratégia do grande capital a redução do custo da força de trabalho, por meio de reformas trabalhistas que diminuem salários, aumentam a jornada de trabalho e reduzem a participação sindical.

    Outro desafio atual colocado para os trabalhadores é o processo de alteração profunda na organização e gestão do trabalho, com a desverticalização da produção e dos serviços e o uso crescente de robôs e inteligência artificial, que provocam o aumento da composição orgânica do capital.

    “Tanto a resposta para a crise quanto para essa nova forma de organização e gestão do trabalho tem uma base comum, que é ampliar a exploração do trabalhador e reduzir o custo da força de trabalho. Todos esses processos de mudam a forma mas não o conteúdo da força de trabalho”, destacou Santana.

    Leia também: Classe trabalhadora fragmentada é entrave às mudanças estruturais, diz Gabrielli

    No Brasil, com 14 milhões de trabalhadores terceirizados, ele aponta que vivemos hoje um processo de individualização e invisibilização das relações de trabalho a partir do mito do falso empreendedorismo, da exaltação da meritocracia e do dogma da teologia da prosperidade. “Essa é uma realidade que acaba sequestrando a subjetividade de parcelas grandes dos trabalhadores”, ressaltou.

    Nivaldo Santana (PCdoB). Foto: Tiago Morbach e Liz Filardi

    A partir desse cenário, Nivaldo Santana aponta que as propostas contidas no programa do PCdoB relacionadas ao trabalho têm atualidade e trazem uma agenda positiva, mas defende que é preciso avançar ainda mais em sua elaboração. “Quando a gente luta por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento como caminho brasileiro para o socialismo, nós temos que colocar que esse novo projeto tem que ser ancorado na luta pela valorização do trabalho e dos trabalhadores. Nós temos que regulamentar o trabalho”, defende.

    Entre as medidas que o PCdoB deve incorporar neste sentido, ele aponta a ampliação da política de valorização do salário mínimo, redução da jornada de trabalho, resgate dos direitos perdidos com as reformas trabalhistas, fortalecimento dos sindicatos e incorporação dos trabalhadores informais na legislação trabalhista. “Ao trabalhar com essas matérias nós vamos dialogar de forma mais próxima com um dos objetivos estratégicos do PCdoB que é o seu crescimento político e orgânico entre os trabalhadores”, destacou.

    Assista a íntegra do debate

    Ciclo de Debates em Recife (PE)

    A última mesa do Ciclo de Debates para o 16º Congresso do PCdoB será realizada na próxima segunda-feira (25), no Recife (PE), com o tema “Conjuntura desafiadora às forças progressistas e democráticas”, com a participação de Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil e presidenta do PCdoB; Simone Tebet (MDB), ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil; José Dirceu (PT), ex-ministro da Casa Civil e Pedro Campos, deputado federal (PSB-PE).

    A inscrição é gratuita e deve ser feita na página do Ciclo de Debates. Para aqueles que não puderem comparecer presencialmente, o debate terá transmissão ao vivo pela TV Grabois.