A China já é a maior potência econômica?
Com a chegada ontem a Washington do presidente chinês, Hu Jintao, e um jantar agendado na Casa Branca com o presidente americano, Barack Obama, começa de fato o tão esperado encontro entre os líderes das duas maiores economias do planeta. O que não está absolutamente certo, porém, é qual dos dois países é a maior potência econômica do mundo.
Há alguns dias, o economista Arvind Subramanian, do Instituto Peterson para Economia Internacional, publicou um texto que desafia a noção corrente de que os Estados Unidos são maiores. Segundo os seus cálculos, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês chegou a US$ 14,8 trilhões em 2010, ultrapassando o PIB americano, calculado em US$ 14,6 trilhões.
As estimativas de Subramanian são um tanto controversas porque, entre outros motivos, usam números que não são totalmente públicos. Mas elas corroboram uma sensação cada vez mais comum entre os americanos: que a China já assumiu o papel, antes detido pelos Estados Unidos, de principal protagonista na economia mundial.
Subramanian questiona a metodologia usada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu Panorama Econômico Mundial, a principal referência em comparaçôes econômicas mundiais, que aponta um PIB chinês de US$ 10,1 trilhão em 2010, ainda cerca de 31% menor do que o PIB americano. O FMI faz projeções para o crescimento mundial até 2015 e, até lá, os Estados Unidos seguem como os maiores, embora a diferença entre os dois países, segundo esses exercícios, vá se reduzir para apenas 5%.
O economista do Instituto Peterson, um dos mais respeitados de Washington, sustenta que o FMI usa como ponto de partida nos seus cálculos uma estimativa de PIB de 2005, que, segundo ele, estaria subestimada. O FMI também teria superdimensionado a inflação chinesa entre 2005 e 2010. Já Subramanian usa nas suas estimativas os dados compilados pelo Centro de Comparações Internacionais da Universidade da Pennsylvania, que devem ser divulgados em fevereiro.
Tanto os cálculos do FMI quanto de Subramanian são feitos pelo conceito de paridade de poder de compra (PPP). Essa metodologia procura medir o quanto de fato os cidadãos de diferentes países conseguem produzir e consumir em termos de bens e serviços. Serviços geralmente são mais baratos em países pobres – e acabam sendo subestimados na outra metodologia mais comum de medida do PIB, a que usa dólares em valores de mercado. Por esse critério, o PIB chinês soma US$ 5,745 trilhões.
Mesmo quando o PIB é medido em dólares a preços de mercado, porém, a China caminha para ultrapassar os Estados Unidos. "Talvez isso não seja provável no futuro mais imediato, mas após 2020 é bastante possível", disse ao "Valor" o economista David Mann, chefe de pesquisa do banco Standard Chartered, que divulgou um estudo recentemente que aponta que a fatia da China no PIB mundial irá subir de 9% para 24% entre 2010 e 2030. Na direção contrária, a participação dos Estados Unidos no PIB mundial irá encolher de 24% para 12%.
Nos seus cálculos, o Standard Chartered usa premissas relativamente conservadoras, como uma tendência de crescimento pouco menor de 7% para a China no período, ante 2,5% para os Estados Unidos e para a Europa. Também pressupõe que a moeda chinesa, o yuan, continuará na atual trajetória de valorização. Tudo isso considerado, a virada ocorreria até 2020, quando o PIB chinês terá chegado a US$ 24,6 trilhões, e o americano, a US$ 23,3 bilhões, usando o conceito de PIB em dólares em valores de mercado.
Mesmo que a China se torne a maior economia do mundo, entretanto, ainda estará longe de ser a mais rica. Hoje, o seu PIB per capita é calculado em US$ 4 mil, pelo conceito de dólares a valores de mercado, o que equivale a cerca de 9% do PIB americano. Se as projeções do Standard Chartered se confirmarem, a China será apenas uma economia de renda média em 2030, com um PIB per capita de US$ 21,4 mil. Seu peso econômico será determinado sobretudo pela sua grande população, projetada pelo banco em 1,5 bilhão de habitantes em 2030, ante estimados 370 milhões nos Estados Unidos.
Embora a China ainda seja um país relativamente pobre, a sensação corrente entre os americanos, em meio a uma grave estagnação econômica, é que a China já se tornou um gigante. As trocas comerciais entre a China e os Estados Unidos chegaram a US$ 459 bilhões em 2010, segundo relatório recente do serviço de pesquisa do Congresso americano. A China é o país de quem os EUA mais importam, e o terceiro mais importante mercado para as exportações americanas, atrás de Canadá e México. O déficit dos EUA com a China subiu de US$ 10 bilhões para US$ 273 bilhões entre 1990 e 2010.
Há também a crescente sensação de que a China, que antes produzia basicamente produtos de baixo valor agregado, se tornou um competidor em áreas de maior tecnologia. A fatia dos produtos de alta tecnologia entre as exportações chinesas aos EUA subiu de 19% para 30% entre 2003 e 2009.
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Fonte: Valor Econômico