Pra quê? (segunda parte)
– Áe!! – Desculpe. Doeu muito? Desculpe. Só um instante. Pronto. Bochecha… isso. Pode cuspir. – Ô, do'tô, iá é a 'ercêa 'ez… – Desculpe. Vamos fazer o seguinte… Você volta semana que vem. Melhor.
– Áe!! – Desculpe. Doeu muito? Desculpe. Só um instante. Pronto. Bochecha… isso. Pode cuspir. – Ô, do'tô, iá é a 'ercêa 'ez… – Desculpe. Vamos fazer o seguinte… Você volta semana que vem. Melhor.
Formada em direito, Maria Ondina tinha uma visão muito objetiva da vida. Sua pergunta predileta era "pra quê?". Tudo tinha que ter um sentido muito prático; nada poderia significar um mínimo de desperdício. Seu noivo, Amarildo, a
Salvador, Bahia. Ônibus lotado como o quê, sobe uma dona zungando com as compras numa sacola abarrotada. De degrau em degrau, lá vem ela depositando a matula no chão: – Licencinha, licencinha. Brigada, viu? Licencinha. Chega
Jovaldo fumava seu cigarro diante do café como quem se despede da vida. Franziu o cenho na última tragada, segurou-a nos pulmões, soltou a guimba no chão e a esmagou demoradamente enquanto expelia a fumaça com força.
Comemoram-se datas de golpes e revoluções. Fundações de vilas e cidades. Ao som de bandas de música, Com desfiles militares festejam-se As descobertas de ilhas e continentes. Comemoram-se natalícios de santos e heróis. No meio da multidão danço e
Dorme congelada no peito a idéia de si. Caminha pela avenida edificada como se pudesse conter-se nos prédios e ampliar-se pela escuridão. Quando da ciência do mundo, não imaginava estar ali, no centro do poder, lutando contra titãs
Louvamos tanto o pretérito, As frutas dos pomares remotos Seriam sempre as mais suculentas. Tanto são louvadas as cenas Do particípio passado Que só há um juízo adequado: Ele seria mais-do-que-perfeito. Entretanto, se das tumbas do tempo Ele emerge
No primeiro ano deste século novo, A guerra, velha inimiga da humanidade, Cobre de cinza o céu da Terra. Mas se o solo do futuro foi ferido Por esta arcaica chaga, o grito das gerações passadas Une-se ao brado
Não duram muito os ventos das montanhas: logo se contaminam da perplexidade da pedra e penetram-se de mistérios sólidos que os paralisam. Estátuas de ar, cristalizam no tempo sua própria incapacidade de movimento. Ao fim, não sobra nada. Talvez
Inútil buscar o sono dos justos. não é um gato que geme na calçada. Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro Goiânia – 1997 Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da